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Sinopse
Um protesto pacífico na convenção nacional do Partido Democrata de 1968 se transforma num violento confronto com a polícia. Acusados de conspiração e de incitar a balbúrdia, os organizadores vão a um midiático julgamento.
Crítica
Filmes de tribunal são um prato cheio para embates tensos e repletos de reviravoltas emocionantes. Retóricas distintas colidindo, provas aparentemente irrefutáveis caindo por terra, a sagacidade de advogados de defesa tentando dobrar a impetuosidade de promotores aparentemente invencíveis. Enfim, são muitos os elementos perpetuados por obras paradigmáticas, tais como Testemunha de Acusação (1957) e Anatomia de um Crime (1959), para citarmos apenas duas obras-primas exemplares do filão relativamente grande. Em Os 7 de Chicago, Aaron Sorkin – respeitado roteirista, aqui também o diretor – se filia a essa tradição para falar de um dos episódios jurídicos mais controversos da história dos Estados Unidos. Durante a convenção do partido Democrata na cidade de Chicago, em 1968, oito ativistas foram presos após um brutal confronto com a polícia. O longa parte de uma didática delineação deles como representantes de formas diferentes (divergentes/convergentes) de oposição ao governo que continuava a mandar impiedosamente jovens para morrer no Vietnã. A disparidade de ângulos ocasionalmente reivindica o protagonismo. Pena que não o toma.
Um traço incômodo de Os 7 de Chicago é a aparagem das arestas em função da compreensão ampla do contexto. Sorkin utiliza os flashbacks geralmente como mero artifício ilustrativo, quando não reiterativo. Frequentemente, os personagens mencionam ocasiões e, imediatamente depois, temos a retrospectiva que confirma o testemunho oral. Nada além disso. Em instantes excepcionais, o roteirista/realizador utiliza essa possibilidade de revisitar o passado como uma forma de contradizer o que alguém está falando ou ao menos criar uma possibilidade de relativização potente. Uma vez que estamos diante de uma produção calcada no embate entre versões (às vezes diametralmente opostas), apostar mais nisso provavelmente teria trazido ao conjunto uma indeterminação dramaticamente forte. A impressão prevalente é a de que Sorkin não sabe se privilegia a contribuição pessoal dos homens acusados injustamente pelo Estado ou se mergulha numa reflexão sobre os mecanismos escusos de uma justiça parcial. Na dúvida, acaba fazendo um pouco dos dois.
Lamentáveis em Os 7 de Chicago são os desperdícios. E um deles diz respeito ao oitavo acusado, o subtraído do número consagrado à História. Bobby Seale (numa interpretação feroz de Yahya Abdul-Mateen II), um dos fundadores do Partido dos Panteras Negras, foi sumariamente desrespeitado, ao ponto de ser amordaçado e humilhado na corte que deveria prezar por justiça. Sorkin sublinha a tragédia de fundo racial, mas não confere a ela o peso devido dentro das circunstâncias. Inclusive, inexplicavelmente, prescinde da relação dela com a lei utilizada para enquadrar os réus, mencionada antes no filme como criada por uma burguesia branca para intimidar terminantemente os protestos negros. Outra potencialidade simplesmente tangenciada é o conflito enfrentado pelo jovem promotor Richard Shultz (Joseph Gordon-Levitt). Escrutinado como um sujeito amante dos dispositivos da legalidade, afeito à execução imparcial (quase fria) da lei, ele obviamente se sente incomodado pelas manobras do seu lado. Porém, não há um aprofundamento nessa enorme disputa interna.
Há muitos personagens e ângulos em Os 7 de Chicago. Aaron Sorkin, talvez no afã de cobrir um terreno o mais amplo possível, evita recortar, pontuando bem, mas não dando espaço aos desenvolvimentos consistentes. O elenco excelente e a importância histórica do fato garantem o interesse. Frank Langella deita a rola como o juiz manipulando regras e protocolos para criminalizar os acusados. Mark Rylance desenha bem o defensor capaz de perder as estribeiras diante da corrupção do meio legal. Eddie Redmayne sustenta com brios as ambivalências do ativista que prega uma resistência política sem firulas. Mas, especialmente por sua participação no terço final, o destaque maior fica por conta de Sacha Baron Cohen. Na verdade, são duas cenas em que sobressai, mesmo que Sorkin crie um preâmbulo meio óbvio dele como porra-louca para justamente gerar impacto a partir de uma "surpreendente" mudança de chave. Há sentenças bastante ferinas, inclusive capazes de colocar os acusados em xeque. Porém, o resultado fica aquém da força de determinados momentos.
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