float(17) float(4) float(4.3)

Crítica


5

Leitores


4 votos 8.6

Onde Assistir

Sinopse

Querendo provar a possibilidade de prever o clima, o cientista James está prestes a começar uma arriscada viagem de balão na companhia da aeronauta Amelia. Juntos, eles tentam chegar a lugares onde nenhum humano chegou.

Crítica

Duas pessoas encarando uma missão. Motivações distintas e diferenças criam possibilidades de fissura no elo necessário ao sucesso da empreitada, isso antes do bom senso prevalecer e dos efeitos de determinados atos inconsequentes se minimizarem diante do êxito. A forma como o cineasta Tom Harper conduz Os Aeronautas, pelo supracitado caminho que soa sintomaticamente similar a outros tantos, é o principal pilar frágil dessa produção que foi buscar nos fatos a sua inspiração. Com um pouco de bagagem cinematográfica é possível antever parte das viradas, vide as pequenas crises que servem de prólogos aos feitos sem precedentes, e até o ponto crítico culminante, a tempestade que antecede a bonança. Uma pena, por exemplo, que não se invista devidamente na dicotomia instaurada entre entretenimento e ciência, vista no começo do longa-metragem. James (Eddie Redmayne) mira o conhecimento. Já Amelia (Felicity Jones) entende o poder do espetáculo.

O filme começa com ambos a embarcar numa viagem arriscada de balão, na Inglaterra, no fim do século 19. Há uma relação prévia, devidamente esmiuçada por meio de flashbacks esclarecedores, encarregados não somente da informação, mas também de aparar arestas que porventura desloquem o espectador da zona de conforto. Traumas, dificuldades, anseios e afins são mastigados. O homem quer provar por A+B a possibilidade de prever movimentos do clima – o verdadeiro James Glaisher é considerado um dos pais da meteorologia. A mulher enfrenta o obstáculo de lidar com os resquícios de uma tragédia acontecida justamente a bordo de um balão. Os Aeronautas, dentro dessa inclinação pelo esquemático, exibe instantes categóricos para que ele, como sujeito cartesiano, demonstre propensão à obsessão (lugar-comum atrelado aos cientistas); e a fim de que ela, atendendo à sua impetuosidade, afirme uma coragem que a ajuda a combater fantasmas.

Eddie Redmayne e Felicity Jones tinham formado um par romântico em A Teoria de Tudo (2014). Em Os Aeronautas, o envolvimento surgido pelas frestas da aventura é um componente deslocado, que não encontra sustento no modo como o vínculo deles é construído. Nem os flashbacks dão conta da aproximação, o que torna o enredamento inverossímil. Compensando tais fragilidades de roteiro e dramaturgia, o longa-metragem exibe uma suntuosidade visual de impressionar em determinadas passagens. Tom Harper utiliza bem a exiguidade do espaço no qual o enredo se desenrola na maior parte do tempo, transportando à imagem tanto a beleza das paisagens quanto os perigos que a natureza impõe aos bravos e destemidos que não medem esforços para romper fronteiras e elevar o conhecimento para além das fronteiras conhecidas. No que tange ao tom, existe um equilíbrio satisfatório entre as calmarias ocasionais e perturbações. Justapostas, elas funcionam.

A previsibilidade de Os Aeronautas passa pela maneira como Tom Harper sublinha os desafios, lançando luz ostensivamente, adiante, sobre sinais à tona quando a situação atinge picos desesperadores. Assim como a vontade de provar-se certo mediante a comunidade científica faz James agir com diligência desmesurada em relação aos métodos e limites, a culpa sentida por Amelia a empurra na direção de atitudes limítrofes assim que as coisas aparentemente se colocam como irremediáveis no belo horizonte. Embora circunstâncias e gente sejam baseadas em fatos, é o jeito de ressaltar o sentimentalismo da peripécia que torna o conjunto vítima de um simplismo não condizente com a natureza excepcional do feito atingido em dupla. Ainda que a história se passe em 1862, pouco se discute o lugar da mulher na sociedade britânica da época, descuido que soa como indício de uma varredura das complexidades para debaixo do tapete em função da pegada romântica.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
5
Francisco Russo
7
MÉDIA
6

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *