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Crítica


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Sinopse

Um avião repleto de personagens excêntricos (assim como a tripulação) viaja de Madrid à Cidade do México. As coisas ficam ainda mais curiosas quando uma pane coloca em risco a vida de todos e eles resolvem se divertir.

Crítica

O novo filme de Pedro Almodóvar é seu retorno à comédia, gênero pelo qual ganhou notoriedade no fim dos anos 1980. Claro, antes disso já se estabelecia gradativamente como um dos artistas de cinema mais originais de sua geração, porém, verdade seja dita, foi apenas depois do humor cáustico e rasgado de Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988) que ele ganhou projeção global e se tornou grife do dito cult. Os Amantes Passageiros é, antes de qualquer coisa, resgate das raízes cômicas da obra almodovariana, onde comportamentos sexuais assumiam o protagonismo dentro de conjunturas inusitadas, quando não esdrúxulas.

Almodóvar filma Os Amantes Passageiros quase todo em estúdio, reproduzindo o interior de um avião no qual a trama de desenrola. As participações especiais de Antônio Banderas e Penélope Cruz, no início, servem apenas para criar o artifício que detonará a problemática, pois eles se esquecem de retirar algumas travas dos trens de pouso da aeronave, o que fatalmente levará a futuro pouso de emergência. McGuffin puro, como bem ensinou Alfred Hitchcock, um dos mestres da arte cinematográfica, já que esse recurso narrativo de aparente importância na verdade serve tão e somente como alimento da tensão, e olhe lá. Deflagrado o erro, a tripulação coloca a segunda classe para dormir com relaxantes musculares enquanto procura entreter os poucos pagantes da ala executiva.

A equipe da companhia Península é formada, basicamente, por dois comandantes (um bissexual e outro aparentemente heterossexual) além da trinca impagável de comissários homossexuais: Joseserra (Javier Cámara), Ulloa (Raúl Arévalo) e Fajas (Carlos Areces). Aliás, as melhores cenas de Os Amantes Passageiros são protagonizadas por esses comissários, incluindo aí o mais hilário número musical do cinema recente, cover de I'm so excited, do The Pointer Sisters. Completam a galeria de personagens principais: um casal em lua de mel, a ex-atriz e ex-cantora (agora sadomasoquista paranoica), um homem misterioso, o ator às voltas com suas desventuras amorosas, o executivo prestes a ser preso por corrupção e a vidente virgem que fareja morte. E dá-lhe situações bizarras em meio ao caos regado por álcool, drogas e excitação.

Em Os Amantes Passageiros quase tudo gira em torno do sexo e de questões acerca da sexualidade. Almodóvar pinta com suas frequentes tintas berrantes não apenas o cenário, mas também o comportamento desavergonhado dos que não escondem taras e vícios. A meu ver, só há um sério ponto cego no filme, quando o ator interpretado por Guillermo Toledo liga à esposa (Paz Vega) e acaba conversando com outra mulher, numa subtrama desinteressante e descartável. No mais, Os Amantes Passageiros é ótima comédia com ritmo e tiradas escrachadas, feita para rir sem contraindicações. Ainda que aquém da genialidade vista em alguns longas recentes do diretor espanhol, é muito fiel à graça de espírito libertário do Almodóvar de outrora que, convenhamos, andava fazendo falta.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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