Crítica
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Sinopse
Dois irmãos, distanciados pela vida, se unem para investigar o possível assassinato de seu pai. Usando o carro do falecido e às vésperas do lançamento póstumo de seu livro conspiratório, Caio e Manoela percorrem a cidadezinha natal em busca de personagens da vida de Joaquim para trazer honra de volta à família.
Crítica
As comédias de erros são aquelas em que um equívoco leva a outro, muitas vezes numa escalada frenética ao ponto de abrir espaço para o absurdo. Pode ser um engano de interpretação, algo que deveria ter sido dito e não foi, um simples atraso, entre muitas outras coisas capazes de promover desencontros e lapsos motivadores. Embora seja vendido pelo material de divulgação como uma comédia de erros, Os Bravos Nunca se Calam talvez seja melhor definido se utilizarmos a palavra “farsa” – ainda que o humor não seja necessariamente o forte do filme. Os personagens são caricaturais, as situações almejam a constituição da lógica do absurdo, então a classificação como farsa provavelmente faça mais jus ao conjunto. Até mesmo porque aqui os erros existem, são importantes, mas se revelam como tal apenas no clímax da trama que nunca decola na sua intenção de dialogar com o nonsense. Tudo começa com o jornalista vivido por José Rubens Chachá prestes a lançar um livro com revelações “bombásticas” a respeito de uma negociata escusa entre o principal empreiteiro e o prefeito de sua cidadezinha interiorana. O sujeito tem a convicção de que essas figuras tramaram a falência da principal empresa da região visando construir em seu terreno um cassino. Protótipo meio burlesco do “homem contra o sistema”, ele morre num incêndio acidental na iminência da noite de autógrafos do livro-bomba.
O cineasta Marcio Schoenardie não se preocupa em desenhar as peculiaridades dessa localidade, apenas a apresentando como cidadezinha em que a vida transcorre de modo mais lento e pacato do que na capital. Ele tampouco dá subsídios para compreendermos de que modo a comunidade enxerga o homem que acabou de morrer antes de ver seu trabalho iluminando verdades inconvenientes. O que interessa ao realizador é a jornada de reconciliação entre os irmãos Caio (Eduardo Mendonça) e Manoela (Duda Meneghetti). Ele é um gamer em formação, que sofre ataques por supostamente ser um “vagabundo que fica o dia inteiro jogando”. Ela é uma aspirante a jornalista que pretende ficar pouco na sua cidade natal (mora na capital), isso antes de ser fisgada pela possibilidade de a morte do seu pai sinalizar uma conspiração. É compreensível que, dentro de uma farsa, os personagens não tenham tantas camadas, mas o roteiro assinado por Tiago Rezende, Gabriel Faccini e Tomás Fleck sequer faz o básico para tornar essas pessoas consistentes. Em vários momentos, Caio parece mesmo um sujeito encostado que não está preocupado com o futuro, sobretudo por poder postergar a decisão quanto aos próximos passos. Ele fica entre a incompreensão dos demais e a confirmação do estereótipo. Sua existência é monocórdica, sem qualquer variação que o torne mais digno da nossa simpatia.
Já Manoela é a filha desgarrada. Ela tinha várias dificuldades com o pai, mas admirava ele ao ponto de seguir sua vocação nobre de jornalista. No entanto, nada que seja determinante à atuação desajeitada como investigadora informal do que teria realmente acontecido com o morto. Os protagonistas de Os Bravos Nunca se Calam rapidamente esgotam possibilidades dramáticas e cômicas, o que gera uma sensação de estagnação no filme. Curiosamente, embora os filhos estejam em incessante movimento pela cidadezinha em busca de pistas que possam conduzi-los à verdade dos fatos, não há uma noção de evolução ou mesmo de transformação ao longo do caminho. O máximo que acontece é Caio compreender a importância de adquirir conhecimentos culinários para não ser tão dependente e Manoela ganhar ferramentas para adiante estar apta para escrever sobre a sua cidade. O grande erro do roteiro, mas também da direção, é não investir na construção das peculiaridades de uma localidade repleta de figuras estranhas, incluindo os protagonistas. Desse modo, as perambulações dos irmãos são meros cumprimentos de formalidades. Tanto que, quando Marcio Schoenardie trabalha com a revelação de que as certezas não são tão sólidas assim, nem mesmo a ‘surpresa” tira o filme de um lugar incômodo, sobretudo por conta da ineficiência dramática e pela simples falta de graça.
Os Bravos Nunca se Calam é uma batida trama de conciliação. Como história burlesca, erra os alvos, especialmente por não mirar neles com a precisão que poderia. Em meio a uma premissa que sugere negociatas, suspeitas de corrupção, cerceamento da imprensa e outras questões sérias observadas com a leveza habitual das farsas, nada é escarnecido ou encarado com acidez. Os assuntos são submetidos a uma progressão narrativa que prioriza o reforço dois estereótipos e as piadas ligeiras com concepções sociais, mas nada que seja cáustico, engraçado ou atraente por uma patetice deliciosa de seus personagens. Nessa trajetória errática em que Caio e Manoela perambulam burocraticamente pela localidade desprovida de personalidade, o elenco opera numa frequência cansativa. Exemplo disso é o desempenho da experiente atriz gaúcha Mirna Spritzer, aqui vivendo a mãe pouco convincente ao demonstrar tristeza pela morte do marido ou os outros sentimentos. Eduardo Mendonça (forçando a mão na caricatura gamer) e Duda Meneghetti (não dando conta dos poucos momentos emotivos) acabam automaticamente seguindo o fluxo das inconsistências reforçadas pelos coadjuvantes sem vida e das tentativas de gerar algum tipo de dúvida no espectador. O resultado é um filme que começa morno e acaba gelado, em que o humor está subordinado a uma proposta de “ridículo adorável” que não vinga.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 4 |
Alysson Oliveira | 7 |
Robledo Milani | 6 |
Alex Gonçalves | 8 |
MÉDIA | 6.3 |
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