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Sinopse

Em 1936, o arqueólogo Indiana Jones é contratado para encontrar a Arca da Aliança, que segundo as escrituras bíblicas conteria "Os Dez Mandamentos" que Deus revelou a Moisés no Monte Horeb. Mas como a lenda diz que o exército que a possuir será invencível, Indiana Jones terá um adversário de peso na busca pela arca perdida: o próprio Adolf Hitler.

Crítica

No final da década de 1970 e início da de 1980, a geração de cineastas da chamada Nova Hollywood já havia se consolidado no cenário cinematográfico mundial. Mas enquanto alguns nomes ainda desfrutavam do enorme sucesso crítico e financeiro conquistado, como George Lucas, que acabara de produzir e lançar Star Wars: Episódio V - O Império Contra-Ataca (1980), dando sequência à saga de Star Wars, outros diretores enfrentavam seus primeiros fracassos de bilheteria, como Michael Cimino, com O Portal do Paraíso (1980), e Steven Spielberg, com sua ambiciosa sátira militar 1941: Uma Guerra Muito Louca (1979). Para se recuperar do baque, Spielberg se juntou a Lucas em Os Caçadores da Arca Perdida, um projeto de longa data do amigo, que sonhava em realizar uma homenagem aos seriados de aventura produzidos nos anos 1930/1940.

Com Spielberg na direção e Lucas cuidando da produção e do roteiro, escrito em parceria com Lawrence Kasdan e Philip Kaufman, a história se passa em 1936 e acompanha o arqueólogo Indiana Jones (Harrison Ford), que além do trabalho como professor universitário também se aventura pelos mais longínquos pontos do planeta à procura de relíquias raras de civilizações antigas. Após retornar de uma expedição na América do Sul, Jones recebe a notícia de que o exército alemão está atrás da Arca da Aliança, que segundo escrituras bíblicas guardaria as pedras dos Dez Mandamentos revelados por Deus a Moisés. Como a lenda diz que o artefato proporciona poderes inimagináveis ao exército que o possuir, o governo dos EUA contrata Jones para encontrar a Arca antes que ela caia nas mãos de Hitler.

Indy, como é chamado pelos amigos, parte então para o Nepal, onde reencontra uma antiga paixão, Marion Ravenwood (Karen Allen), que possui a chave para decifrar o mapa de localização da Arca. Lá a dupla se depara com o diabólico Major Arnold Toht (Ronald Lacey) e acaba fugindo para o Egito, contando com a ajuda do simpático escavador Sallah (John Rhys-Davies) para enfrentar o exército alemão e também o arqui-inimigo de Jones, o arqueólogo René Belloq (Paul Freeman). Empregando o espírito leve e despretensioso dos seriados antigos que homenageia, como as histórias de Doc Savage, o roteiro de Lucas e seus colaboradores tem pouca preocupação com a realidade, fixando-se na criação contínua de sequências de ação e aventura. E neste quesito a direção de Spielberg não poderia ser mais bem-sucedida. Desde a sequência inicial, no templo da floresta sul-americana, o cineasta concebe momentos de ação impecáveis, como a emblemática cena de Jones fugindo da enorme esfera de pedra. A habilidade do cineasta em criar uma atmosfera de tensão que envereda para a aventura frenética e bem-humorada é um dos grandes trunfos do longa, garantia do filme nunca perder seu ritmo, enquanto os personagens vão ultrapassando obstáculo após obstáculo, como em um verdadeiro jogo de tabuleiro.

A capacidade de Spielberg em comandar a ação se faz presente desde nas cenas mais “ingênuas”, como a do poço das cobras ou a luta no avião nazista, até nas mais elaboradas, como a da perseguição de caminhões envolvendo Jones e diversos soldados. Esta sequência merece um destaque particular para o magnífico trabalho da equipe de dublês que, em uma era pré-efeitos digitais, entrega uma cena arriscada e de tirar o fôlego. Assim como estes momentos, tudo no longa foi pensado para se tornar icônico: as figuras caricatas dos vilões alemães, o visual de Indy – jaqueta de couro, chapéu e chicote –, as armadilhas e os enigmas decifrados pelo herói e a trilha sonora magistral composta por John Williams. No papel principal, Ford se mostra uma escolha perfeita – ainda que diversos atores tenham sido considerados antes – transbordando carisma e também acertando no timing cômico, com uma dose cínica e ranzinza. Estes traços fazem com que a química com Karen Allen funcione muito bem, além de gerar momentos genuinamente hilários, como quando Indy resolve abruptamente o que deveria ser um duelo com um habilidoso espadachim.

Com todos estes elementos bem balanceados – incluindo a predileção pela fantasia – Os Caçadores da Arca Perdida se tornou um dos maiores sucessos comerciais da história do cinema, concorrendo a oito Oscar e levando quatro, iniciando uma franquia milionária e também gerando diversas imitações, que foram desde Tudo Por Uma Esmeralda (1984) - dirigido por Robert Zemeckis, discípulo de Spielberg – e sua continuação, A Joia do Nilo (1985), ambos estrelados por Michael Douglas e Kathleen Turner, passando pelas produções com Richard Chamberlain no papel do caçador de tesouros Allan Quatermain - As Minas do Rei Salomão (1985) e Allan Quatermain e a Cidade do Ouro Perdido (1986) –, além de dezenas de outros títulos menos lembrados.

É bem verdade que em determinados aspectos o longa de Spielberg sofreu com a ação do tempo, particularmente em todo o clímax, em que os efeitos especiais ficaram bastante datados, ou que os furos de roteiro não passam por uma análise mais atenta. De qualquer forma, nada disso tira o prazer da experiência, nem diminui o valor do longa como um produto que já faz parte da cultura pop e que também é um dos exemplos máximos da capacidade de Spielberg para criar entretenimento de qualidade. Capacidade que depois o cineasta viria a dividir com uma outra faceta mais séria e dramática, nem sempre tão equilibrada quanto seu lado assumidamente comercial.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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