Crítica
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Sinopse
Depois de cometer uma gafe pública durante a campanha eleitoral, um experiente congressista vai ver a ascensão de um concorrente improvável: o inocente Marty Huggins, diretor do Centro de Turismo local.
Crítica
Chega a ser irônico constatar que um filme estrelado pelos geralmente exagerados Will Ferrell e Zach Galifianakis possa ser considerado o mais engraçado do ano. Mas, curiosamente, é exatamente isso que acontece com esse Os Candidatos, longa cujo maior deslize talvez seja a total falta de timing em relação ao seu lançamento no Brasil. Se tivesse estreado por aqui na mesma data em que chegou às telas nos Estados Unidos – no dia 10 de agosto, ou seja, mais de dois meses antes – sua eficiência seria possivelmente maior. Pois, dessa forma, funcionaria não somente como uma boa comédia, mas também como um importante alerta em relação aos nossos futuros prefeitos e vereadores, eleitos no início de outubro. Mas como os marqueteiros das distribuidoras nacionais parecem preferir perder a piada do que se incomodar – afinal, teve deputado querendo censurar até ursinho de pelúcia! – só poderemos rir agora – na torcida, ao menos, que o motivo do riso esteja apenas na tela, e não na lembrança de onde foi parar o nosso próprio voto.
Com direção de Jay Roach, o mesmo homem por trás da trilogia Austin Powers (1997-1999-2002) e dos dois primeiros Entrando numa Fria (2000-2004), Os Candidatos é eficiente principalmente por ir direto ao que se pretende: ridicularizar o processo eleitoral democrático atual, em que qualquer um pode terminar endeusado por eleitores que não estão minimamente interessados no futuro das suas escolhas, desde que um bom espetáculo lhes seja oferecido. A crítica exposta é furiosa e bastante contundente, mostrando com clareza quem manda de fato: aqueles que investem nas campanhas, é óbvio. Os que se dispõem a concorrer, portanto, não passariam de meros fantoches agindo em nome de interesses não expostos pela mídia.
Will Ferrell aparece como o imbecil sem noção Cam Brady, que há anos se elege tranquilamente para o congresso nacional como representante da Carolina do Norte, EUA, apenas por não possuir concorrência. Isso até seus investidores perceberem que a estupidez do candidato pode colocar tudo a perder. Na emergência de um plano B, optam por apoiar um novato que simplesmente lhes obedeça. É quando entra em cena Marty Huggins (Galifianakis), um ingênuo e pacato pai de família, vindo de uma família ligada à política nacional, que enxerga no convite para concorrer uma oportunidade de mostrar seu valor ao pai que sempre lhe desprezou e ao irmão que desde pequeno fez dele motivo de chacota. E uma vez que os dois se colocam na disputa, um festival de baixarias, golpe baixos e outras apelações passam a ganhar espaço, ao mesmo tempo em que a confiança do eleitorado neles se torna um elemento cada dia mais imprevisível.
Qualquer filme que tenha coragem de mostrar um homem adulto esbofeteado um bebê de colo – ainda que por acidente – merece ser observado com atenção. Agora, quando este longa consegue repetir a dose ao exibir o mesmo ator acertando um murro num cachorro – e, no caso, o popular Uggie, de O Artista (2011) – é porque tudo é possível. E isso e muito mais acontece em Os Candidatos. Participações hilárias de Dan Aykroyd e John Lithgow e uma edição objetiva que não perde tempo com tramas paralelas (são menos de 90 minutos de projeção), fazem deste um filme digno da atenção que desperta, pois consegue abordar um tema geralmente espinhoso – e que costuma afastar os menos conscientes – e ainda assim fazer rir de forma quase incontrolável. E o melhor: mostra que a graça pode estar em nós mesmos e até nos assuntos mais importantes, desde que se observados com perspicácia e um indispensável viés crítico.
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