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Crítica


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Sinopse

Desesperado com o sumiço da filha, um sujeito reúne um grupo de amigos para procura-la, especialmente ao intuir que ela foi sequestrada.

Crítica

Logo no início de Os Cowboys, o protagonista Alain (François Damiens) leva sua família a uma festa de temática country, cuja decoração, coerentemente, é toda feita com bandeiras dos Estados Unidos. De certa forma, nesse pequeno detalhe o diretor Thomas Bidegain anuncia os caminhos que seguirá em seu filme, filiando-o ao gênero mais associado ao cinema norte-americano: o western. Mais que isso, Bidegain mira diretamente naquele que talvez seja o maior clássico desse gênero: Rastros de Ódio (1956), de John Ford.

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Como o Ethan Edwards (John Wayne) da obra-prima de Ford, Alain é um homem bruto, de temperamento forte e cheio de preconceitos, que se torna profundamente amargurado ao embarcar numa dura jornada para descobrir o paradeiro de uma familiar desaparecida. Em Rastros de Ódio, tratava-se da sobrinha de Edwards (Natalie Wood), sequestrada por índios no ainda selvagem oeste americano. Em Os Cowboys, é a filha de Alain que desaparece, aparentemente também vítima de um sequestro.

Aqui o filme dá um salto qualitativo importante, ao usar essa vinculação com um western icônico para discutir alguns dos grandes medos da Europa contemporânea: a alteridade representada pelo imigrante islâmico e a ameaça do terrorismo que ele parece trazer consigo. Esse tema entra em cena por meio das descobertas graduais feitas por Alain, que apontam para uma possível fuga da filha desaparecida para aderir a uma célula terrorista. Trata-se de uma discussão candente nos dias atuais, em que muitos jovens europeus migram para o Oriente Médio no intuito de se juntar a grupos radicais, sobretudo ao temido Estado Islâmico. Nesse sentido, não deixa de ser curioso que a história de Os Cowboys transcorra entre 1994 e a segunda metade dos anos 2000, quando ainda não se falava tanto nisso.

A opção de Bidegain poderia ser lida como mera desculpa para inserir na trama, como marcos que anunciam a passagem do tempo para os personagens, os três grandes atentados feitos pela Al Qaeda contra o Ocidente nos últimos anos (nos Estados Unidos, em 2001, na Espanha, em 2004, e na Inglaterra, em 2005). No entanto, ela acaba por reforçar a sensação de que há por parte do filme uma certa postura islamofóbica, considerando que em nenhum momento fica claro se de fato seus personagens se envolveram com terrorismo – daí a referência aos atentados soar, em alguma medida, gratuita.

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Por outro lado, também seria possível entender que se trata simplesmente de apresentar o olhar em preto e branco que Alain e seu filho Kid (Finnegan Oldfield) lançam para o mundo. Ao automaticamente associarem os muçulmanos ao terrorismo, eles, mais uma vez, se aproximam de Ethan Edwards, com seu ódio profundo contra os índios – ainda que Kid consiga transcender os preconceitos de seu pai e descobrir o valor da alteridade, por conta de uma série de acontecimentos em sua própria jornada. Portanto, nessa relação dúbia com o diferente, representado pelo imigrante muçulmano, Os Cowboys mais uma vez se referencia no western clássico, mais especificamente na obra de John Ford. Encontra-se aqui a mesma dificuldade presente em Rastros de Ódio de bater o martelo quanto ao filme reproduzir ou não o discurso racista de seu protagonista. Trata-se de uma dubiedade bem-vinda, por introduzir complexidade numa história a princípio simples, mas que se revela construída sobre algumas camadas de referências a questões políticas contemporâneas e ao próprio cinema.

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é um historiador que fez do cinema seu maior prazer, estudando temas ligados à Sétima Arte na graduação, no mestrado e no doutorado. Brinca de escrever sobre filmes na internet desde 2003, mantendo seu atual blog, o Crônicas Cinéfilas, desde 2008. Reza, todos os dias, para seus dois deuses: Billy Wilder e Alfred Hitchcock.
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Grade crítica

CríticoNota
Wallace Andrioli
8
Chico Fireman
5
MÉDIA
6.5

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