Crítica
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Sinopse
A esposa de Matt King está em coma. Juntando forças para suportar a situação e manter em ordem seu lar, ele é confrontado por seu passado, o da esposa e, de quebra, precisa lidar com os questionamentos das filhas.
Crítica
Alexander Payne talvez seja um dos mais superestimados cineastas americanos da atualidade. Realizador bissexto – seu último longa havia sido Sideways: Entre Umas e Outras, de 2004 – a cada novo trabalho é saudado como um gênio, aplaudido tanto pela direção quanto, principalmente, pelos roteiros que escreve. E o mais incrível é que, de todos os seus cinco (!) filmes, apenas um possa, realmente, ser considerado extraordinário: Eleição, de 1999. Os demais – As Confissões de Schmidt (2002) e Ruth em Questão (1996) – até e inclusive o recente Os Descendentes, são obras simpáticas, no máximo. E como tais devem ser avaliadas. São trabalhos obviamente repletos de um humanismo comovente, dotados de uma fina ironia e de uma acurada visão de mundo, nem totalmente crítica, mas também desprovida de ingenuidade. Mas estão longes de serem revolucionários, surpreendentes ou inovadores. Belos, mas comuns.
O desempenho de George Clooney em Os Descendentes tem sido apontado na recente temporada de prêmios como o melhor de toda a carreira do galã americano. Bem, eu, particularmente, só consigo aceitar essa afirmação a partir da premissa de que quem a diz a faz sem tê-lo conferido em filmes como Irresistível Paixão (1998), Três Reis (1999), E aí, meu irmão, cadê você? (2000), Syriana (2005), Conduta de Risco (2007), Queime Depois de Ler (2008) ou Um Homem Misterioso (2010), por exemplo. Isso não quer, de forma alguma, dizer o contrário: ele está bem - muito bem, aliás - mas no mesmo registro que Payne: convencional. Sua interpretação como o homem prestes a ficar viúvo que descobre que a mulher em coma o traía ao mesmo tempo em que precisa aprender a lidar com as duas filhas adolescentes é muito bem construída, de fácil identificação e bastante universal. Mas quem agiria diferente? É tão dentro do esperado, alternando momentos de contida tristeza com outros de angústia controlada, sem dar vazão aos verdadeiros sentimentos que o consomem internamente, que chegamos a nos perguntar o que de verdade se passa com esse homem.
Shailene Woodley, que até então só havia feito basicamente produções de televisão, está sendo considerada uma revelação, lembrada em diversas premiações como uma das melhores coadjuvantes do ano. Um verdadeiro absurdo, diria eu. Todo ano uma adolescente sem experiência é escolhida como a novidade da vez. Recentemente tivemos Hailee Steinfeld (Bravura Indômita, 2010), Saoirse Ronan (Desejo e Reparação, 2007) e até Anna Paquin (O Piano, 1993). Ela é só mais uma. E será que lembraremos dela no ano que vem? Aqui, no entanto, a jovem atriz marca presença como a filha mais velha, a que representa o eterno clichê da rebelde sem causa, que estuda longe e estava brigada com a mãe por tê-la pego traindo o pai. Mas esse conflito inicial logo é superado, e rapidamente a vemos ajudando-o, sem muito destaque ou brilho, a conduzir as situações eventuais até o final mais esperado. Tudo é redondinho, dentro dos conformes e como se espera. Sem surpresas. Nem boas, nem ruins.
Os próprios elementos do roteiro parecem estar ali apenas para provocar ação entre os personagens, sem uma função específica no andamento da história. A visita ao avô rancoroso, a chegada do amigo retardado, a ida à outra ilha para espiar o amante da mulher. Qual o sentido disso tudo? E por trás ainda se tem uma discussão já cansada sobre quem são os verdadeiros donos da terra, conquistadores ou conquistados, e o que se fica como legado aos que vem depois de nós, boas lembranças ou nada mais do que bens materiais. E que direito temos sobre esses bens? Questões válidas, porém muito distantes de uma conclusão absoluta, e que certamente não será em um filme como esse que elas se encerrarão. E assim é Os Descendentes, algo bonito, fácil de se ver, com boas lições e reflexões, mas que não apresenta nada de novo e nem envolve com toda a força que se poderia esperar. É mais, mas também não deixa de ser do mesmo.
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