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Crítica


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Sinopse

Tereza se foi. Isolados em um sítio da família, o pai e a namorada da garota tentam encarar o peso de sua ausência.

Crítica

Nada é para sempre”. O som é de sexo. Mas é mais do que isso. É amor. Ou paixão adolescente, como preferir. Enfim, é ligação em um nível que talvez o espectador nem sonhe entender. Mas está ali, na tela, exposto para quem quiser ver. Elas dividem corpos e intimidades. Mais que isso: desejos e frustrações. Uma compartilha com a outra a senha do seu perfil no Facebook. Isso, para duas garotas tão jovens, possui um significado muito forte. E quando se percebe que a postagem feita em nome da que está ao lado é também um anúncio de despedida, o impacto é ainda maior. Escreve, dedilhando no teclado, poucas palavras. Em seguida, abre a mochila, e de lá tira uma arma. Estão para começar Os Dias Sem Tereza. Na vida delas, e também para o olhar atento de uma audiência capturada por esta rápida sequência de ações. Algo positivo, ainda que nem sempre o filme de Thiago Taves Sobreiro saiba como tratar com o devido cuidado.

Não que ele ignore o peso dessa abertura. Pelo contrário, tem entendimento com o que está lidando. Diretor e roteirista, Sobreiro atende também pela criação dessa história de entrega e desprendimento. Leandra (Malu Ramos, muito bem) mata a namorada, Tereza (Giulia Puntel). O que a levou a cometer tamanha barbárie? Isso ninguém sabe. Ou melhor, é o que precisa ser dito. Explicado. Pois a autora do gesto – assim como a que se foi – tem suas razões para o que a levou a uma atitude tão definitiva. Não se trata de algo impensado. Muito menos feito de improviso. Há evidências de uma conexão sólida entre elas. E quem não fez parte desse mundo que construíram para si, agora se ressente do tempo perdido. Sente falta do que nunca teve. E estará disposto de ir além do próprio limite para alcançar algo que nem imagina saber exatamente o que é.

Pois assim que se passam os primeiros minutos de Os Dias Sem Tereza, a personagem-título sai de cena e, como o próprio nome do filme entrega, restam apenas os que ficaram. E quem são esses? Leandra, a ex-namorada. O pai (Dellani Lima, em grande momento). E o amigo desse (Shima, visto em Elon Não Acredita na Morte, 2016). Quando estes dois cercam a menina, um de cada lado da ponte, o público não precisa estar por perto para saber o que pretendem. Ela também compreende de imediato. Tudo que é feito, gera consequências. Chegou o momento dela assumir as suas. Os homens pegam a jovem e partem rumo ao interior. Ela até chega a questionar em determinado momento: “vocês vão me matar?”. Mas este não é um filme de respostas simplistas. Por mais simples que sejam suas motivações. É um exercício de paciência, em ambos os lados da tela.

Juntos, se envolvem em uma convivência forçada que abrirá portas para uma bem-vinda intimidade. É uma oportunidade, portanto, de irem atrás das respostas que tanto anseiam. “Por que você matou a minha filha?”, o pai pergunta. Como se fosse fácil oferecer tal explicação. Há muito mais em jogo. Não só por tudo que viveram, mas mais ainda pelo que sobrou entre estes seres tão quebrados quanto prestes a se encontrar. Um no outro, ou cada um em si mesmo. São pequenos momentos que passam a vivenciar em conjunto. A limpeza da piscina, a lasanha congelada, a ida até a cidade para comprar absorventes femininos, a entrega da pizza, a busca por algum tipo de redenção no meio da noite. Eles estão constantemente se desencontrando. Quando tudo que querem, enfim, é justamente o contrário.

Thiago Sobreiro não tem pressa em chegar ao seu destino. Revelando habilidade, maneja com o pouco que reúne em cena – não mais do que três personagens, um único cenário – com a destreza de um profissional mais experiente. O não dito ganha força ensurdecedora em seu discurso, e o jogo de palavras que estabelece entre eles é tão forte quanto as imagens que vão sendo dispostas, seja no presente como no passado – lamentando-se, ainda mais, um futuro que talvez não chegue. Os Dias Sem Tereza é mais sobre o que se foi do que a respeito daquilo que permaneceu. Sua morosidade em algumas revelações beira a irritabilidade, enquanto que alguns enxertos narrativos – como a sequência no bar – se confirmam descartáveis diante do quadro final. Nada, no entanto, que prejudique um todo auspicioso. A dor é de todos. Compartilhada, no entanto, pode ser mais fácil de sustentá-la. E isso não é algo que se diga – é preciso saber como sentir essa triste verdade.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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