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Crítica


7

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1 voto 8

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Sinopse

Para Ivan, um menino de 13 anos, o pai, Joseph, e o irmão mais velho, Joachim, são seus modelos de vida. Porém, em determinado momento, os dois acabam falhando com ele e o jovem percebe como pode ser ruim conhecê-los de verdade.

Crítica

A recorrência mais evidente à falta de compreensão entre Joseph (Benoît Poelvoorde) e seus filhos, Joachim (Vincent Lacoste) e Ivan (Mathieu Capella), é o modo como uns descobrem as verdades sobre os outros. Em Os Dois Filhos de Joseph, esse trio incapaz de demonstrar diretamente o carinho naturalmente acaba nutrindo percepções pouco acuradas que levam a ruídos na convivência. É por meio de terceiros, de escutas furtivas por trás da porta, ou seja, indiretamente, que pai e filhos se conhecem. O primogênito, por exemplo, imagina que o caçula o odeia, mas sabe pela psicóloga da escola que serve de inspiração ao menor, sendo o seu principal ídolo. O pai, afligido pela morte do irmão, acabrunhado diante da proximidade da própria finitude, apenas se abre totalmente aos descendentes confessando-se em segredo à namorada, imaginando-se distante dos ouvidos filiais. Tal dinâmica é bem costurada por esse filme fundamentado em várias impossibilidades.

Outra esfera essencial à compreensão das animosidades que mediam as relações vigentes em Os Dois Filhos de Joseph é o espelhamento entre eles. O cineasta Félix Moati, consecutivamente, estabelece pontos de interseção entre Joseph, Joachim e Ivan, substanciando paralelos que os transformam, metaforicamente, em estágios de uma mesma entidade masculina. O menino de 13 anos deseja desenfreadamente ser adulto, por isso começa a se familiarizar com determinados vícios vulgarmente atribuídos à pós-adolescência, especialmente o álcool e a nicotina. O imediatamente mais velho, por sua vez, representaria, nesse sentido, a etapa intermediária entre a curiosidade das investigações e a melancolia residente na conexão com a maturidade, sensação de impotência que rima com o estado de espírito do genitor. Este, em meio a um movimento de reinvenção frustrado pela falta de talento, não compreende os filhos e tampouco pode lhes fornecer um firme paradigma a ser seguido.

Os Dois Filhos de Joseph, de certa forma, fala sobre essas fases que deflagram ciclos da vida masculina, obviamente, se atendo a configurações que dizem respeito ao local (França) e ao estrato social (classe média). Outro fator que interliga esses homens quase umbilicalmente é o elo com as mulheres. Ivan, em meio ao interesse um tanto caótico por vários símbolos e potências (sexo, religião, transgressão), demonstra um romantismo desbragado diante da colega de classe. Joachim remói o término com uma namorada por quem era absolutamente apaixonado. Já a Joseph não parece mais premente essa dependência de um amor como âncora para estabilizar momentaneamente a agitação dos mares bravios da juventude inquieta. O realizador trabalha com perspicácia essas aproximações, eventualmente tornando-as óbvias quase em demasia, mas geralmente as interligando sensível e organicamente, como na bela cena da malfadada corrida num parque.

Valorizando os esforços da direção para solidificar a conjuntura parental que, concomitantemente, expressa os dilemas afetando esses homens, independentemente das particularidades geracionais, há um elenco operando em consonância. Benoît Poelvoorde representa com propriedade a soturna agitação interna de seu personagem que precisa lidar com as expectativas dos filhos. Vincent Lacoste é inteligente ao mimetizar certos expedientes do colega mais velho, exatamente a fim de resguardar o residual de Joseph em Joachim, algo essencial para que essa teia se forme devidamente. E Mathieu Capella é a grata surpresa (uma vez que os outros dois são intérpretes consagrados), capaz de sustentar os pilares de uma figura complexa e singular, em sintonia com as turbulências de sua pré-adolescência e os ditames da família observada com carinho por Félix Moati. As comparações com tigres, em momentos distintos do longa, sublinham uma necessidade de verbalizar força e imponência, de esconder da luz fragilidades expostas apenas em instantes de intimidade negados aos seus.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
7
Robledo Milani
7
MÉDIA
7

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