Crítica
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Sinopse
Tony trabalha numa loja de tintas e leva uma vida tranquila ainda morando com os pais. Nos fins de semana ele vai com os amigos à discoteca, onde frequentemente se transforma no centro das atenções.
Crítica
A primeira sequência de Os Embalos de Sábado à Noite (1977) mostra o icônico personagem de John Travolta, Tony Manero, andando pelas ruas como se seus passos fossem levados pela música extradiegética dos créditos iniciais. Assim, o caminhar desse jovem de 19 anos que mora no empobrecido e violento bairro do Brooklyn denota de cara sua paixão: a dança. É nas noites da discoteca 2001 Odyssey que ele encontra razão de ser, é ali que ele se descola um pouco da realidade para viver instantes de reinado. O emprego regular numa loja de materiais de construção é desempenhado com alegria, e o dinheiro ganho é prontamente gasto, em sua maioria, nas frequentes saídas com os amigos. A vaidade, talvez um de seus traços mais característicos, não é mais que a necessidade de manter a imagem conquistada na pista.
Entre uma noite e outra, acompanhamos Tony em casa, como parte de uma família tipicamente italiana, em meio ao desemprego do pai e mais adiante à crise vocacional do irmão primogênito que deixa de ser padre. Vemos, também, o protagonista e seus amigos sendo preconceituosos, sobretudo com a fatia latina do bairro, e em atitudes sexistas, para dizer o mínimo. Porém, poucas dessas questões periféricas ganham importância. E justo quando toca demoradamente em alguns dos assuntos controversos, Os Embalos de Sábado à Noite perde um pouco o fôlego de entreter, também não mostrando muita resistência enquanto algo de pretensa profundidade. No frigir dos ovos, o que realmente importa são as cenas de dança, por elas o filme é lembrado até hoje.
Contudo, dentro desse espectro mais denso, dá para destacar a evidência de um abismo geracional. Tony e seu pai têm valores completamente diferentes. Enquanto o primeiro privilegia a diversão, o sentir-se bem, o segundo ainda está bastante aferrado ao material, ao dinheiro e àquilo que ele compra. Isso fica claro na cena em que Tony, feliz da vida pelo reconhecimento, conta sobre um aumento salarial, para logo depois ser ridicularizado pelo pai em virtude do baixo valor: 04 dólares. Um choque de mentalidades também se dará adiante entre Tony e sua nova parceira da dança, a ambiciosa (e ao que parece, mitômana) Stephanie (Karen Lynn Gorney). O objetivo dela é a ascensão social, dançar é só passatempo, mesmo que seja num concurso.
No que diz respeito à construção da imagem, a direção de John Badham se mostra inconsistente. Mas, ainda que tenha seus problemas, Os Embalos de Sábado à Noite é um filme fácil de gostar, por conta do carisma de John Travolta, aqui construindo um personagem que figura entre os mais lembrados do cinema, e das músicas de uma trilha sonora representante como poucas do espírito setentista das discotecas. Aliás, as melodias dos Bee Gees (Stayin' Alive, How Deep Is Your Love, Night Fever e More than a Woman), justiça seja feita, também ajudaram, e muito, o filme a alcançar o status de objeto de culto. Em suma, não é fácil transpor as barreiras impostas por uma direção apenas correta e um roteiro até certo ponto disperso, algo que Os Embalos de Sábado à Noite faz no geral muito bem, sobrevivendo assim aos anos, e com cada vez mais admiradores.
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acho que é o filme mais preconceituoso e nojento que eu já vi, quem fez esse lixo estar entre os clássicos cometeu um erro enorme
bastante superficial a sua forma de ver o filme...o protagonista leva uma vida como a maioria, lutando, trabalhando numa sociedade decadente, sendo um cara na transição pra vida adulta, querendo se divertir e gastando sua grana em roupa, como já fizemos. a mudança geracional de uma sociedade do trabalho pra outra do hedonismo está lá também, junto com os preconceitos e falta de preparo dos garotos do subúrbio. a vida é mais que identitarismo amigo.