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Crítica


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Sinopse

Dois blogueiros viajam até uma zona rural para fotografar uma estranha e misteriosa massa que surge em um açude. Ao chegarem ao local, não encontram o volume. Então, decidem ir em frente e visitar uma tia que mora por perto. Ao chegarem lá, descobrem que as pessoas daquele lugar parecem ter desaparecido misteriosamente. A partir daí, os dois se veem presos a uma série de acontecimentos sobrenaturais.

Crítica

É tudo bastante rústico em Os Enigmas dos Desparecidos, primeiro longa-metragem do cineasta Gilnei Welfer. Desde o primeiro take sobressai um amadorismo patente, a começar pelo artificialismo dos diálogos dos protagonistas Rodrigo (Claudinei Santos) e Thiago (Willian Fernandes). As falas são pobres, com uma visível inépcia dos atores estreantes para, verdadeiramente, interpretar o que as palavras representam. Seja discorrendo sobre um mistério, falando acerca de banalidades, enfrentando uma neblina verde extraordinária, conversando com um desconhecido que menciona a possibilidade de uma abdução coletiva, as expressões assumidas são as mesmas, praticamente neutras. A absoluta fragilidade, igualmente, fica evidente nas irregularidades básicas, como a mudança dos ruídos e da iluminação de um plano para o outro. Isso sem falar da falta de continuidade, chegando ao cúmulo de determinado personagem estar precariamente com/sem óculos num plano/contraplano.

Os Enigmas dos Desparecidos fala sobre dois blogueiros que vão ao interior para investigar a existência de uma massa estranha sobre o açude local. Lá chegando, encontram casas e propriedades rurais abandonadas. Boa parte da trama se dá com eles perambulando sem eira nem beira, fazendo cara de surpresa sempre que batem numa porta e não encontram alguém. De vez em quando, inexplicavelmente, papeiam sobre algo completamente aleatório, como a paixão de ambos por lutas e o show que desejam prestigiar, claro, caso saiam ilesos. O realizador demonstra crueza no que diz respeito à utilização da câmera, apresentando uma linguagem rudimentar, em que a fotografia lavada, e, muitas vezes, a luz estourada denotam inaptidão. Além disso, o ritmo do filme é bem oscilante, com cenas se resolvendo abruptamente e outras se arrastando desnecessariamente. Em vários instantes, a trilha sonora é encarregada de desenhar traços de suspense, porém, não logrando êxito nisso.

Denominado O Cara (vivido pelo próprio Gilnei Welfer), o morador surge para contextualizar os forasteiros, oferecendo-lhes conjecturas. Não se pode dizer que o ator/diretor possua um talento considerável para a interpretação, com isso criando uma figura meramente instrumental, sem qualquer profundidade ou relevância. Aliás, ele está no centro da passagem mais inutilmente alongada, quando testa com pedras e varetas os limites do que poderia ser uma porta interdimensional. A intenção clara é gerar expectativa, mas a falta de jeito para dilatar o tempo, da qual decorre somente uma dinâmica enfadonha e contraproducente, determina o insucesso da tentativa. Os Enigmas dos Desparecidos mal constrói um enredo básico, se sustentando desajeitadamente nas charadas ora verbalizadas, ora corporificadas pelas excepcionalidades, como a bruma que avança irracionalmente. Os efeitos digitais são precários e tampouco o cineasta utiliza devidamente o poder da sugestão.

Os Enigmas dos Desparecidos é um filme amador, com severos problemas de diversas naturezas. As interpretações não funcionam, a encenação pouco potencializa o suspense, tecnicamente o conjunto deixa muito a desejar – atenção à inconsistência dos raccords, o que torna a dinâmica entre os planos uma bagunça visual. Gilnei Welfer não consegue estabelecer um fluxo narrativo minimamente cativante, logo deixando o longa descambar para um terreno totalmente inofensivo, sem maiores ressonâncias e pontos de interesse. Ele não é bem-sucedido, por exemplo, na criação de uma atmosfera de incertezas, principalmente por conta da falha integral no encadeamento das ideias. Quanto a Rodrigo e Thiago, não dá, sequer, para precisar se são amigos, parentes, namorados ou meros parceiros de trabalho, tamanha a insuficiência de suas concepções e desenvolvimentos. Partindo de um roteiro débil, com diversos pontos irrelevantes, a direção trata, basicamente, de apresentar a história, sem modulações, força ou densidade.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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