Crítica


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Sinopse

A família Barrett passa a ser atormentada por uma série de acontecimentos aparentemente inexplicáveis. A matriarca Lacy busca explicações para isso que está acontecendo numa pequena cidade dos Estados Unidos.

Crítica

Histórias de terror são poucas as bem-sucedidas, pois elas em geral frustram as expectativas dos mais aficionados por investirem de modo exagerado em clichês, como portas que se batem, acontecimentos inexplicáveis e situações fora do controle. Desde o sucesso inesperado de Atividade Paranormal (2007), por exemplo, o filão da vez tem sido o sobrenatural, com espíritos e fantasmas causando transtornos para homens e mulheres desavisados. Mas esta não é a única fonte de sustos cinematográficos, e chega agora uma produção que, se não surpreende,  ao menos serve como lembrete disso: em Os Escolhidos, o medo não vem do além, e sim do espaço.

Os Barrett são uma família comum, igual a muitas outras. São jovens, possuem dois filhos e enfrentam as dificuldades comuns da classe média: o marido (Josh Hamilton, de Frances Ha, 2012) está à procura de emprego para se recolocar no mercado, ao mesmo tempo em que a esposa (Keri Russell, de O Som do Coração, 2007) vai segurando as pontas como corretora de imóveis. Estamos no subúrbio de uma grande cidade, sem identidade nem diferencial, facilitando a identificação com o espectador. Aos poucos, no entanto, essa frágil tranquilidade começa a ruir. O primeiro sinal é dado quando, numa noite qualquer, a geladeira é encontrada aberta, com comida espalhada por toda a cozinha. Alguns dias depois, as fotografias de todos os porta-retratos da casa desaparecem. Estes são apenas alguns exemplos do que está por vir. Barulhos estranhos, uma constante sensação de estarem sendo vigiados e fatos injustificados terminam por contaminá-los, trazendo à tona suas mais evidentes fraquezas.

Se o casal se mantinha unido apesar das situações adversas, aos poucos as trocas de acusações passarão a ser frequentes. Se a amizade do filho adolescente com um garoto mais velho e rebelde é motivo de preocupação paterna, a insistência do filho mais jovem em se comunicar com Sandman (João Pestana, na versão brasileira, ou seja, um ser que só surgiria nos sonhos) pode indicar outra origem para tais mistérios. A trama de Os Escolhidos, no entanto, não evita o passo a passo habitual, e o que se dá a partir do momento em que a dúvida está estabelecida é bastante previsível. Um dos protagonistas partirá numa busca aleatória por respostas na internet. Consequentemente, serão levados ao inevitável encontro com um expert amalucado, dono de teorias tão absurdas quanto inacreditáveis – principalmente quando elas passam a fazer sentido.

A ficção-científica já explorou inúmeras vezes a presença de alienígenas entre nós, mas ao contrário de abusar desse elemento, Os Escolhidos investe na confusão entre gêneros para construir seu suspense. O diretor e roteirista Scott Stewart (conhecido por seu trabalho ao lado de Paul Bettany nas aventuras fantásticas Legião, 2010, e Padre, 2011) consegue conter os arroubos vistos em seus trabalhos anteriores e fazendo uso do poder da sugestão, brincando com as possibilidades ao invés de escancarar evidências desajeitadamente. A escolha, bem sucedida, evita que seu filme caia na mediocridade, apesar do enredo passar longe da originalidade. É um trabalho competente, indicado para quem estiver disposto a embarcar numa história que deixa de lado efeitos especiais impressionantes para conquistar à moda antiga.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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