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Sinopse

Para escapar da prisão e voltar aos palcos em grande estilo, um comediante stand up egocêntrico precisa aprender a trabalhar em grupo. Nessa função, ele aprende o valor da amizade.

Crítica

André Pellenz não é nenhum novato – é responsável por nada menos do que duas das maiores bilheterias do cinema brasileiro recente: Minha Mãe é uma Peça: O Filme (2013) e Detetives do Prédio Azul: O Filme (2017). Porém, em ambos os casos, o que havia em comum era o uso da expressão “O Filme” no final do título, o que indica que se tratavam de marcas conhecidas do público, que antes haviam testado suas popularidades em outras mídias – no teatro e na televisão, respectivamente. Os Espetaculares, seu quinto longa como realizador, traz do primeiro a experiência em equipe, enquanto que do segundo busca o ambiente do humor de um único humorista, conhecido como stand up comedy. As duas expressões, aparentemente antagônicas, comprovam serem realmente de universos diferentes em um filme que deixa claro seus esforços para ir além do óbvio, mas pouco consegue nesse sentido. Menos pelo conjunto, que fique claro, mas mais por alguns ruídos pontuais.

Neste sentido, é preocupante quando o principal instrumento a soar como uma nota fora do ponto é justamente aquele que deveria funcionar como alicerce da história. Tanto personagem quanto intérprete não se mostram à altura do desafio aqui assumido. Paulo Mathias Jr. construiu uma sólida carreira como coadjuvante – possui mais de uma dezena de créditos no seu currículo – e aqui tem sua primeira oportunidade à frente de um elenco que deveria estar a seu favor. Ele, no entanto, não consegue assumir essa liderança, e é facilmente eclipsado por aqueles que seu redor, seja o melhor amigo mais engraçado, a novata mais atraente ou a criança mais carismática – que, não por acaso, é escolhida para narrar a história. Além disso, para piorar sua situação, o Ed Lima que entrega é uma figura na maior parte do tempo autocentrada e antipática, que não se esforça para conquistar a simpatia da audiência, independente do lado da tela em que essa esteja. Assim, sem pontos de interesse que permitam criar uma intimidade com o espectador, a tarefa de torcer por ele se torna quase impossível.

Mesmo assim, aquele que se dispuser a seguir o desenrolar dos acontecimentos liderados por Ed Lima irá se deparar com um humorista que, na maior parte do tempo, muito pouco humor tem a oferecer. Lembra algo percebido em Chorar de Rir (2019), outra produção nacional recente que transitava por cenários similares e que padecia do mesmo mal: comediantes que não provocam riso. Despedido do palco onde costumava se apresentar, Lima descobre um concurso e vê nele a oportunidade pela qual há tanto esperava – sem falar que seria o momento certo para resolver muitos dos seus problemas, como a falta de dinheiro e a pouca visibilidade do seu trabalho. A questão é que se trata de uma performance em trio, e para isso terá que arrumar dois colegas que concordem em embarcar com ele. O primeiro será um antigo parceiro, Ítalo (Rafael Portugal, mais contido do que o tipo que costuma viver nos episódios do Porta dos Fundos, 2016-), que sonha em fazer drama ao invés de comédia, e a segunda acaba sendo Sara (Luísa Perissé, filha de Heloísa Perissé e neta de Chico Anysio), uma estreante que também fazendo as vezes de par romântico.

Além da falta de profundidade dos personagens, o que não chega necessariamente a ser uma surpresa, algo que incomoda na trama é a falta de propósito e de motivação nos atos por eles empreendidos. É como se a possibilidade de serem escolhidos os melhores da competição fosse a verdadeira salvação da lavoura, a única possibilidade de darem certo em alguma coisa – o que, a própria história irá mostrar, não será bem assim. Também é difícil entender o que irá ligar cada um destes tipos, uma vez que passam a maior parte do tempo em discussões e desentendimentos, ao invés de ao menos aparentarem um alinhamento em prol de uma meta a ser atingida. Se ficam ou não juntos, se estão ou não apaixonados, se o desespero os está levando a tomar atitudes impensadas, nada disso parece ter peso, pois não há consequências. Assim, falha no sentido de despertar interesse por suas jornadas, gerando um vazio com o qual será impossível exercer qualquer tipo de comprometimento.

Se Paulo Mathias Jr. não funciona como protagonista, o mesmo, felizmente, não se verifica nos coadjuvantes de maior destaque, como Portugal, que apesar de perder tempo com uma piada desnecessária – que ainda envolve o grande Neville d’Almeida – entrega com tranquilidade tudo o que dele se espera, e Perissé, uma revelação que faz jus a sua linhagem familiar. Mas há distrações em demasia, como Rocco Pitanga em uma ponta sem sentido – você não chama um ator como ele para não aproveitar nem um mínimo do seu potencial– ou mesmo o fenômeno da internet Victor Meyniel, que aparece apenas para fazer alusão aos seus distúrbios intestinais em um tipo de humor apelativo e nada convincente, quando é certo que poderia ter sido melhor explorado. E por mais que seja entregue de antemão, é uma lástima constatar que Os Espetaculares tem apenas o nome de superlativo, enquanto todo o demais fica aquém das expectativas levantadas.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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