Crítica
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Sinopse
Martha, uma garota de 14 anos, desaparece da noite para o dia. Seu pai, Lothar, já não mantinha contato com a filha e a ex-esposa há anos. Ele logo percebe que outros jovens de sua cidade, inexplicavelmente, também sumiram. Seguindo pistas deixadas para trás, a trajetória de Lothar muda ao conhecer uma garota de 12 anos chamada Lou. No curso de sua jornada, deparam-se com grupos de milícia armada e forças policiais. Lentamente, ele toma consciência de que o mundo como conhecia havia mudado.
Crítica
O filme em questão aqui não é o thriller de 2004 estrelado por Julianne Moore, muito menos o clássico de 1950 de Luis Buñuel. Os Esquecidos dessa vez é uma produção alemã de 2012 escrita e dirigida por Jan Speckenbach, baseada numa graphic novel do próprio autor. O longa, inédito no Brasil, foi apresentado pela primeira vez no país dentro da programação do IX Fantaspoa – Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre – com a presença do realizador. E, após a exibição, durante o papo com ele, o que mais chamou atenção foi sua surpresa pelo convite para vir ao Brasil. Afinal, para ele, o tema aqui em debate é muito mais real do que extraordinário.
Lothar (André Hennicke, astro alemão pouco conhecido internacionalmente, visto em filmes como A Queda, 2004) é funcionário de uma empresa de energia nuclear feliz com a vida aparentemente pacata que leva. Isso até receber um telefonema da ex-mulher, com quem não fala há anos, que o informa a respeito do desaparecimento da filha que tiveram juntos – e com quem ele não possui a menor intimidade. Movido mais por um sentimento moral do que afetivo, decide reassumir sua condição paterna e partir em busca de informações sobre o que lhe teria acontecido. É neste ponto que o mistério começa, gradativamente, a aumentar. Se na escola os detalhes sobre a vida da filha são escassos e os colegas da menina pouca ajuda oferecem, a polícia trata o caso como algo trivial e vizinhos preferem ignorar o fato.
Quando descobre que a menina não foi a primeira das redondezas a desaparecer sem deixar explicações, Lothar decide investigar o ocorrido por conta própria. Ao seu lado estará um garota estranha, aparentemente solitária, chamada Lou (Luzie Ahrens, vista antes em A Fita Branca, 2009). Ela há muito vem faltando às aulas, os pais pouco se importam com o que faz durante o dia. Lou, assim como as outras crianças, parece estar mais preocupada com o agora, sem se importar muito com o depois, com a tarefa de construir uma vida. É a cultura do imediatismo, do relegar as consequências a um papel menor. Se quem tem mais de 30 anos já está velho, como aproveitar a juventude ao máximo, se não vivendo apenas entre os iguais?
Jan Speckenbach comentou ter tido a inspiração para este filme ao se deparar com estatísticas, segundo ele, alarmantes. A maioria dos países europeus, atualmente, tem suas populações compostas em sua maioria por pessoas idosas. Se hoje já está assim, como será a situação daqui a 10, 20 ou 50 anos? Para onde os jovens estão indo? Estarão eles desaparecendo, ou simplesmente sendo esquecidos? Sua importância, enquanto força motora e produtiva da sociedade, estaria sendo relegada a um segundo plano? A analogia é presente, e assume proporções assustadoras no quadro traçado em Os Esquecidos.
Selecionado para a mostra Panorama do Festival de Berlim e indicado ao European Film Awards e ao prêmio da Associação de Críticos de Cinema da Alemanha como Cineasta Revelação, Os Esquecidos é uma obra que não indica a falta de experiência do seu realizador. O clima de suspense é bem armado e o crescente nervoso que vai se desenvolvendo é angustiante, prendendo a atenção do espectador até o seu final trágico. Competente em sua realização, é também pertinente pelos temas que levanta e pelo olhar pouco esperançoso que faz uso. O esquecimento, aqui, é como empurrar os problemas para baixo do tapete: eles podem sair do nosso campo de visão, mas cedo ou tarde iremos tropeçar neles se não fizermos algo a respeito. E sua urgência pode ser vital.
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