Crítica
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Ser surpreendido. Essa é a melhor coisa que pode acontecer a qualquer pessoa que se aventura pelo mundo mágico de uma sala de cinema. E é melhor ainda quando essa surpresa vem de onde menos se espera – como, por exemplo, de um diretor estreante, ou de uma obra até elogiada pela crítica, mas que ainda assim é hábil em provocar encantamento de modo irresistível. Pois é exatamente isso que Os Excêntricos Tenenbaums consegue transmitir ao seu espectador: um inesperado absolutamente apaixonante.
Wes Anderson, com este trabalho, marcou seu nome como um dos novos representantes do que de melhor tem sido feito em Hollywood desde a virada do século, ao lado de nomes como David Fincher e Paul Thomas Anderson. Os Excêntricos Tenenbaums foi somente seu terceiro longa-metragem, mas desde o impacto provocado por Três é Demais (1998), o trabalho anterior, seu diferencial havia ficado bem em evidência: uma visão única e original de situações extremamente simples, como uma sala de aula ou os bastidores de uma grande família (ou ainda os corredores de um hotel decadente, para ficarmos em um exemplo mais recente).
Os Tenenbaums são uma família bastante popular em Nova York – os três pequenos filhos são gênios absolutos e reconhecidos pela comunidade: Margot recebeu um Pulitzer por uma peça que escreveu aos nove anos; Chas é um gênio das finanças; e Richie chegou ao topo do ranking mundial de tênis antes dos dez anos. No entanto, nenhum dos três, ao crescer, cumpriu a expectativa que prometia. O fracasso triplo pode estar relacionado com a separação dos pais, Royal e Ethellyne, causada devido ao intempestivo comportamento do patriarca. Após um prólogo (narrado por Alec Baldwin) em que ficamos a par destes fatos, chegamos ao momento em que a trama de fato começa: anos depois, Ethel é pedida em casamento pelo seu contador, e ao ficar sabendo disso (ou porque estava sendo despejado do hotel onde viveu nos últimos 22 anos, vá saber!) Royal decide voltar para casa e reconquistar sua família. É simplesmente impossível não se envolver com essa história tão comum, até mesmo banal, mas contada de modo envolvente e apaixonante.
Além de um diretor e co-roteirista (escrito em parceria com o ator Owen Wilson, também presente no elenco) em um momento excepcional, um dos maiores trunfos da produção é a escolha inusitada – e acertada – do elenco. Apesar de não ter um só intérprete deslocado – todos se encaixam com perfeição nos excêntricos (na falta de melhor palavra) personagens – a verdadeira alma está em Gene Hackman, merecidamente premiado com o Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia ou Musical e injustamente ignorado no Oscar. O veterano nos presenteia com uma atuação iluminada, certamente uma das suas melhores. Como o pai dos Tenenbaums ele sintetiza os porquês que fizeram dessa família ser o que ela é atualmente, mesmo tendo passado anos afastado. Tem-se, portanto, uma aula de como construir com perfeição uma figura ficcional, mas capaz de fazer a plateia acreditar na sua... realidade!
Se há um porém a ser apontado dentre o fabuloso elenco – não por falta de talento, mas por ser pouco aproveitada em cena – é no que diz respeito à participação de Anjelica Huston. Atriz que se revelou com o passar dos anos presença constante nos longas do diretor, ela tem apenas uma cena digna de destaque: quando Royal tenta convencê-la a aceitá-lo de novo, mentindo que está doente, durante uma discussão no meio da rua. Um momentos antológicos não só do filme, mas também do cinema atual. O trio de filhos – Gwyneth Paltrow, Ben Stiller e Luke Wilson – conferem uma veracidade de modo histriônico aos seus personagens, em desempenhos difíceis de serem repetidos ao longo de suas carreiras. Da mesma forma, tipos mais periféricos, como os de Bill Murray e de Danny Glover, também nos proporcionam situações de encantamento, graça e compaixão.
Os Excêntricos Tenenbaums recebeu apenas uma indicação ao Oscar, na categoria de Melhor Roteiro Original, tendo perdido para o também excelente Assassinato em Gosford Park (2001). No entanto, sua ausência nas demais categorias, inclusive na de Melhor Filme, apenas serviu para apontar o despreparo dos votantes da Academia ao se depararem com o novo e original. Sina que, infelizmente, Wes Anderson viu se repetir em todos os seus esforços seguintes – suas únicas indicações posteriores até o momento foram como longa de animação para O Fantástico Sr. Raposo (2009) e, novamente, pelo roteiro original de Moonrise Kingdom (2012). Apreço tímido diante de um talento que, certamente, como O Grande Hotel Budapeste (2014) deixou bem claro há pouco tempo, ainda tem muito a ser explorado.
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