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Sinopse

Ismaël é um cineasta que, após um longo tempo, voltou a amar. Traumatizado devido ao súbito desaparecimento de sua esposa, Carlotta, ocorrido há 21 anos, ele enfim consegue ter um relacionamento duradouro com a astrofísica Sylvia, com quem está junto há dois anos. Entretanto, a reaparição de Carlotta abala não só o relacionamento, como a própria estabilidade alcançada por Ismaël.

Crítica

O potencial de Os Fantasmas de Ismael era imenso. A direção é do respeitado cineasta francês Arnaud Desplechin (Três Lembranças da Minha Juventude, 2015). O elenco é encabeçado por um verdadeiro dream team, com Charlotte Gainsbourg, Marion Cotillard, Mathieu Amalric e Louis Garrel. Se não bastasse tudo isso, o longa-metragem ainda foi escolhido para abrir o Festival de Cannes em 2017, tendo sua première na prestigiada festa do cinema francês, ainda que fora de competição. Com todos esses elementos unidos, é difícil entender como esta produção ficou no meio do caminho. Está longe de ser um filme fraco, mas, por outro lado, nunca consegue atingir as notas mais altas que os talentos envolvidos nos fariam supor.

A trama é assinada a seis mãos, com Desplechin dividindo os créditos do roteiro com Julie Peyr e Léa Mysius. A premissa é interessantíssima. Ismael (Amalric) é um cineasta francês que descobre que sua esposa, Carlotta (Cotillard), desaparecida há 21 anos, está viva e bem, tendo voltado para seu convívio. Seria uma notícia ótima caso ele não tivesse finalmente conseguido reestabelecer sua vida, estando em um relacionamento de dois anos com a tímida Sylvia (Gainsbourg). Neste momento da vida, Ismael também está filmando a história do seu irmão, Ivan (Garrel), como uma forma de dar um sentido para a relação conturbada entre os dois. Estes fantasmas do diretor irão assombrá-lo nesta narrativa que mistura ficção dentro da ficção, toques oníricos e um clima de paranoia que nunca parecem dar liga.

O longa-metragem começa de forma interessante. Somos levados por diálogos rápidos, que nos dão conta de um tal de Ivan que não sabemos direito quem é. Parece importante, no entanto. Logo descobrimos que se trata de um filme dentro do filme – é a obra que Ismael está trabalhando sobre seu irmão. Logo depois, somos apresentados a Sylvia e a trama faz uma viagem rápida ao passado para sabermos como os dois se conheceram. Ágil, bem realizado, com ótimos atores, estes trechos iniciais dão conta do recado e prendem a atenção ao ir nos revelando, pouco a pouco, as diversas camadas da trama.

O que impede Os Fantasmas de Ismael em se transformar em um grande filme é a falta de foco de Desplechin. Ele tem premissas ótimas nas mãos, mas parece perdê-las entre os dedos ao vagar por subtramas que não têm a mesma importância. O diretor chega ao cúmulo de incluir um novo personagem depois de metade do filme, para que ele consiga nos explicar a relação entre Ismael e o irmão – e para receber desnecessária atenção em um passeio ao centro médico. Por que não manter o foco na relação entre Ismael, Carlotta e Sylvia? Mesmo que os diálogos não fossem brilhantes, os momentos em que o trio principal estava convivendo na mesma casa, tentando se estabelecer nesta nova e confusa dinâmica, eram ótimos.

Carlotta é uma mulher difícil de decifrar, uma pessoa que fugiu aos 20 anos de idade e duas décadas depois, volta ao marido querendo continuar de onde os dois pararam. Ismael mal acredita ao ver aquela figura, que ele pensava estar morta, em sua frente. O estouro só vem mais tarde, após o choque passar. As perguntas mais duras são feitas. Os gritos mais doídos são colocados para fora. Poderia ele receber Carlotta de volta? E Sylvia? Aceitando aparentemente de bom grado o início daquele retorno, a mulher acaba decidindo seu próprio futuro ao perceber que é difícil competir com um fantasma tão vivo quanto aquele. Desplechin tinha tudo isso em mãos e desperdiça ao vagar por outros caminhos, menos interessantes. Nem a figura do mentor de Ismael, o também cineasta Henri Bloom (László Szabó), que além de tudo era seu sogro, consegue ser bem trabalhada pelo roteiro. Garrell, então, está desperdiçado, fazendo parte de um outro filme – por vezes, literalmente.

Não fossem as atuações do elenco graúdo e por algumas boas ideias que são bem orquestradas na primeira metade do longa, Os Fantasmas de Ismael seria totalmente esquecível. O erro foi não estabelecer firmemente nenhuma das ideias, fazendo um filme que passeia por diversos lugares, mas não finca pé em coisa alguma.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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