Crítica
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Sinopse
Um homem começa a investigar o método supostamente revolucionário criado por um psicólogo para acabar com o medo. Ele se depara cum uma série de ataques de criaturas deformadas e suas conexões com essa técnica.
Crítica
Após dois filmes que exploraram basicamente o mesmo tema – a contaminação de uma sociedade através do sexo e da violência – e de uma curiosa incursão pelo mundo da alta velocidade, David Cronenberg estava pronto para realizar seu filme mais profissional – e ousado – até aquele momento. Estamos falando de Os Filhos de Medo, uma obra que injustamente não é lembrada entre seus títulos mais famosos, porém possui qualidades suficientes para figurar ao lado de longas como Scanners: Sua Mente Pode Destruir (1981) ou Videodrome: A Síndrome do Vídeo (1983), lançados nos anos seguintes e que exploravam com igual competência temas apresentados pela primeira vez neste trabalho que é, dentre tantas outras coisas, verdadeiramente assustador.
A primeira cena é chocante: em um palco diante um auditório lotado, o dr. Hal Raglan (Oliver Reed, de Gladiador, 2000) oferece aos seus seguidores uma oportunidade única de presenciar como funciona sua exótica técnica de trabalho, uma forma de parapsicologia que obriga seus pacientes a explorarem seus medos através de manifestações físicas. Ao mesmo tempo em que os presentes ficam abismados com os resultados, um homem se levanta indignado. Este é Frank (Art Hindle, de Os Invasores de Corpos, 1978), cuja esposa, Nola (Samantha Eggar, de O Colecionador, 1965), está aos cuidados do psicólogo há um bom tempo, porém sem apresentar resultados concretos. Tanto que ela se encontra em um estado de clausura, e a única com quem tem contato, além do médico, é a filha do casal, a pequena Candy (Cindy Hinds, que depois voltaria a trabalhar com o diretor em A Hora da Zona Morta, 1983). O pai está ali para buscar a garota, e ao retornar para casa tem uma chocante revelação: a menina está com o corpo repleto de hematomas e machucados.
Frank faz, portanto, o que qualquer homem em sua situação faria: proíbe a criança de rever a mãe. Isso o coloca diretamente em oposição ao doutor, que afirma que um afastamento brusco poderá piorar a situação clínica da mulher. No entanto, há um outro mistério talvez ainda mais urgente em desenvolvimento. Diversas pessoas ao redor de Frank e Candy – como a mãe e o pai de Nola, avós da criança, ou Ruth (Susan Hogan, de Caninos Brancos, 1991), a professora da menina e possível novo interesse romântico do marido – são assassinados por estranhas criaturas, seres em miniatura que são confundidos por anões pela polícia. Porém, quando um deles é capturado sem vida, um estudo mais detalhado descobre que além de possuírem uma visão distorcida – são quase cegos – e lábio leporino, também são desprovidos de órgãos sexuais e, o mais chocante, não há vestígios de umbigo ou algo similar. A dúvida, portanto, é se estes são ou não humanos. Se sim, como foram gerados? E em caso negativo, o que seriam, então?
O título original Filhos do Medo é bastante apropriado, ainda que fuja um pouco do original – The Brood, ou seja, A Ninhada. Pois é neste ponto em que está o maior temor com que o filme lida: aquele provocado por nós mesmos. Naquela conversa inicial que dá início à trama, após confrontar os piores traumas do paciente, este reage instantaneamente, ficando com o corpo coberto por bolhas, quase como numa reação alérgica. Se isso foi possível em uma sessão de terapia, como não imaginar que algo muito pior possa se desenvolver a partir de um procedimento ainda mais invasivo e perturbador?
Indicado a cinco categorias do Genie Awards – o Oscar do cinema canadense – Os Filhos do Medo não ganhou em nenhuma delas. No entanto, um olhar mais analítico, mais de trinta anos depois, encontra fácil as explicações sobre os motivos que devem ter mantido esse filme um tanto eclipsado diante outros projetos mais populares de Cronenberg. A falta de concessões, a coragem em usar seus personagens a favor de um argumento muito bem elaborado e a criatividade em materializar sentimentos em formas físicas não são tarefas para artistas desprovidos de méritos. Porém, não se engane: tem-se aqui uma das suas mais bem acabadas realizações, que revelam antes de mais nada um cineasta no completo domínio de sua narrativa e com ideias claras a respeito do que atingir. A eficiente trilha sonora de Howard Shore (vencedor de três Oscars pela saga O Senhor dos Anéis) e atuações arrebatadoras de Reed e Eggar contribuem, e muito, para o bom resultado final. Mas o mérito maior é mesmo do diretor, que mostra uma habilidade singular em mexer com os nervos de sua plateia.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Ailton Monteiro | 8 |
MÉDIA | 8 |
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