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Crítica


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Sinopse

Em plena Guerra Fria, uma organização secreta chamada "Patriota" recrutou um grupo de super-heróis russos, modificando o DNA de quatro indivíduos, com o objetivo de defender o país de ameaças sobrenaturais. Arsus, Khan, Ler e Xenia representam os diferentes povos que compõem a União Soviética, e mantêm suas identidades bem guardadas para, também, não expor aqueles que têm a missão de proteger.

Crítica

Especialmente em virtude do poderio econômico, os filmes de super-heróis são, com raras exceções, norte-americanos. Portanto, é muito bem-vindo um ponto fora da curva como este Os Guardiões, longa-metragem russo que dá conta de uma equipe “nascida” de experiências genéticas após a Segunda Guerra Mundial. Nele, a organização militar chamada sintomaticamente de Patriota não foi apenas o berço dos heróis, mas também do vilão Avgust Kuratov (Stanislav Shirin), cujo passado está, assim, ligado à equipe recrutada para combatê-lo. O diretor Sarik Andreasyan não parece disposto a fazer seu longa funcionar para além da curiosidade previamente despertada, já que dispensa pouca atenção a elementos básicos, tais como a construção dos personagens, aqui nem carismáticos. Outro ponto que demonstra o desleixo predominante é a utilização preguiçosa de uma reunião, bem no início, que serve menos para definir estratégias e mais para contextualizar o espectador de maneira didática.

Logo que a ameaça do megalomaníaco se torna grande demais até mesmo para o eficiente exército da União Soviética, a major Elena Larina (Valeriya Shkirando) é incumbida da supostamente difícil missão de reunir as quatro pessoas com capacidades extraordinárias que podem, de fato, restaurar a ordem. Ela começa por Ler (Sebastien Sisak), eremita hospedado num mosteiro, requisitando suas habilidades eletromagnéticas. Tão simples quanto acha-lo é convencê-lo a largar a quietude e voltar à batalha como forma de vingar-se. Os demais também são expostos assim, apressadamente e sem qualquer preocupação com as minúcias. Arsus (Anton Pampushnyy) é um cientista que se transforma em urso (alguém aí também se lembrou do Hulk?). Kseniya (Alina Lanina) se vale da capacidade de invisibilidade em contato com a água para ganhar dinheiro fazendo shows. O assassino Khan (Sanjar Madi) é o que tem a melhor apresentação, liquidando os inimigos impiedosamente com suas espadas curvas.

A precariedade de alguns efeitos digitais não é o que mais depõe contra Os Guardiões. Fosse o filme menos genérico e desajeitado em outras searas, o CGI capenga – sobretudo o responsável por criar o urso gigante no qual Arsus se metamorfoseia – passaria batido. O problema maior, porém, é a falta de atenção a elementos básicos, como a delineação dos personagens e a urdidura da trama. Um exemplo patente dessa inabilidade é o estofo artificial dos super-heróis com traços que pretensamente lhes confeririam aspectos mais humanos. Um componente potencialmente dramático como a amnésia de Kseniya é tratado com displicência por Sarik Andreasyan, bem como a possibilidade de Arsus nunca mais conseguir voltar a ser homem. Essa fragilidade perpassa todas as instâncias do longa-metragem, o enfraquecendo sobremaneira. Nem no âmbito da ação ele se sai satisfatoriamente, pois as cenas são mal formuladas e executadas. Mocinhos e bandidos possuem peso quase nulo.

Na primeira vez em que estão em formação, os quatro não conseguem, sequer, lidar com ameaças simples, logo caindo nas garras do antagonista. Resgatá-los não se torna emocionante, mas mera formalidade dentro desse itinerário em que o mais importante acaba sendo o viés exótico. O próprio embate final, com direito a estratégias sendo esmiuçadas para que não tenhamos dúvidas acerca de sua abrangência, é completamente anticlimático, se encerrando com a mesma falta de vigor do começo. Coadjuvantes como a major Larina desempenham uma função de muleta, por servirem precariamente para estabelecer pontes entre a ação e as demandas administrativas, no caso as do exército soviético. Os Guardiões carrega aquele aroma indefectível de caricatura, sem ao menos valer-se expressivamente de sua vocação involuntária à paródia, exatamente por realmente se levar bastante a sério.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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