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Sinopse

Dançarina de cabaré, Lorelei está noiva do ricaço Gus. O pai dele desaprova o casamento, tanto que contrata um detetive particular para seguir de perto Lorelei e sua melhor amiga, Dorothy, durante um cruzeiro.

Crítica

Marilyn Monroe é um dos maiores ícones do cinema mundial, um mito eterno, que 50 anos após sua morte continua tão popular – senão mais – do que na época em que era viva. No entanto, ela nunca foi muito respeitada pela crítica. Recebeu apenas duas indicações como Melhor Atriz em Comédia no Globo de Ouro, ganhando por Quanto Mais Quente Melhor (1959). O Oscar a ignorou solenemente, mas foi lembrada pelo Bafta (Inglaterra) e pelo David di Donatello (Itália). Injustamente, nenhum destes reconhecimentos, no entanto, foi por um dos seus trabalhos mais marcantes, aquele que a tornou uma diva definitiva da sétima arte: Os Homens Preferem as Loiras, de 1953.

É difícil apontar qual é o melhor filme de Marilyn Monroe, mesmo diante de uma filmografia que apresenta cerca de 20 títulos, e pouco mais da metade destes feitos quando já era um dos grandes nomes de Hollywood. A escolha mais óbvia talvez seja A Malvada (1950), o único desta lista premiado com o Oscar de Melhor Filme e recordista de indicações, mas neste ela aparece numa participação quase especial, ainda no início da carreira. O já citado Quanto Mais Quente Melhor seria uma boa aposta, pois foi apontado anos depois pelo American Film Institute como a melhor comédia de todos os tempos. Mas quem o viu concorda: o show aqui é da dupla Jack Lemmon e Tony Curtis. Outras opções seriam O Pecado Mora ao Lado (1955), Nunca fui Santa (1956) ou O Príncipe Encantado (1957), todos muito elogiados e sempre lembrados. Mas seriam escolhas precisas?

Dentre outros títulos igualmente relevantes, talvez a aposta mais segura seja este Os Homens Preferem as Loiras, pois são vários os motivos que o tornam inesquecível: é o primeiro – e talvez único – de todos os seus filmes em que interpreta, de fato, a protagonista da história; é o seu segundo trabalho ao lado do diretor Howard Hawks; é um legítimo musical, gênero em que se saia melhor – é aqui que temos a clássica canção Diamonds are a girl’s best friend, homenageado por Madonna no videoclipe Material Girl e recriado por Nicole Kidman no frenético Moulin Rouge (2002); Lorelei Lee, seu personagem, é o tipo que a tornou conhecida, a loira um tanto boba que queria se dar bem através de um belo casamento. No entanto, um olhar mais apurado perceberá uma profundidade insuspeita na construção que desenvolve, e somos conquistados por esta figura que apresenta mais do que esperamos e, justamente por isso, surpreende na medida certa.

Lee (Monroe) e Dorothy Shaw (Jane Russell) são melhores amigas e cantoras de um espetáculo teatral. A primeira só quer saber de arrumar um homem que atenda todos os seus desejos, e parece ter encontrado a sorte grande no filho de um milionário. A outra, no entanto, só quer saber de se divertir, acreditando que “dinheiro não compra a felicidade”. Durante a viagem para a Europa, para onde vão se preparar para o noivado de Lorelei, distrações a afastam do objetivo inicial: o time olímpico de ginastas está no mesmo navio, um senhor muito rico e casado se apaixona pela garota comprometida prometendo-lhe verdadeiras fortunas, e um detetive fica na cola das duas para descobrir o real plano delas. Uma tiara cravejada de diamantes, um herdeiro de 8 anos de idade e uma paixão inesperada irão movimentar ainda mais a jornada das duas, até que encontrem o verdadeiro amor – independente deste ter estado, ou não, sempre por perto.

Em praticamente todos os seus filmes Marilyn Monroe interpreta quase sempre o mesmo personagem: a garota indefesa, que já apanhou muito da vida, mas que segue de nariz empinado acreditando que tudo dará certo no final. Este é também o retrato que ficou da própria atriz, vinda de uma infância de inúmeras dificuldades, de talento limitado, mas nunca menos esforçada, além de incrivelmente bela. O suficiente para se tornar imortal. Os Homens Preferem as Loiras é o filme que definiu essa imagem e merece ser conhecido por qualquer fã, admirador, curioso, cinéfilo ou apenas interessado. É uma obra referencial, repleta de tiradas de duplo sentido, com diálogos iluminados e um roteiro incrivelmente bem amarrado que não envelheceu. Um momento de brilho maior de uma estrela que se recusa em apagar.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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