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Sinopse

Em Os Horrores do Caddo Lake, uma menina de oito anos desaparece misteriosamente. Uma série de mortes e desaparecimentos passados começam a se conectar, alterando para sempre a história de uma família disfuncional. É ao adentrar nos mistérios da floresta de Caddo Lake que os protagonistas encontrarão respostas aos mistérios crescentes. Estrelado por Dylan O'Brien.

Crítica

Os Horrores de Caddo Lake é um prato cheio àqueles vídeos ridículos de “explicando o final” que não fazem mais do que mastigar as tramas para o espectador não ter qualquer desafio e/ou frustração. O cinema pode ser misterioso e às vezes é feito para confundir, a fim de que a plateia não se sinta tão segura quanto aos acontecimentos mostrados. Portanto, se você já assistiu ao filme e não compreendeu o encerramento, aceite isso como parte de sua experiência, até mesmo porque nem tudo na Sétima Arte passa necessariamente pela racionalização. Feita a introdução, vamos ao que o enredo nos apresenta. Nele há dois protagonistas que vivem nas imediações do lago do título, um lugar peculiar situado no Texas, nos Estados Unidos. Trata-se de uma floresta parcialmente submersa e inquietante por sua geografia. Paris (Dylan O'Brien) é o rapaz assombrado pela morte da mãe num acidente de automóvel. Ele anda pela localidade com um semblante carregado, tentando elaborar o que aconteceu e encontrar respostas. Já Ellie (Eliza Scanlen) é a jovem que vive brigando com a mãe, além de criar problemas ao seu padrasto. Tratados paralelamente, Paris e Ellie têm em comum, além dos arredores, o fato de viverem crises familiares, tensões que determinam as suas atitudes um tanto agressivas diante de um mundo que não parece fazer força para compreendê-los. No começo sobressaem esses dramas.

Os cineastas Logan George e Celine Held tratam o cenário como uma moldura exótica, em princípio não chamando a atenção para algo estranho que possa acontecer nas trilhas aquáticas entre as árvores que formam uma vegetação característica. O título em português anuncia muito mais do que qualquer movimento inicial sobre a estranheza desse lugar. Aos poucos, depois de desenvolver de maneira didática os problemas pessoais dos protagonistas, os realizadores começam a inserir pequenos elementos destoantes, anomalias inexplicáveis como o cadáver do jacaré cortado de maneira precisa e bizarra. Pessoas desaparecem, ações inesperadas não se encaixam naquilo que estamos assistindo e progressivamente o lago adquire uma aura de enigma/perigo. Pouco explorada, é verdade, mas a aura está ali. Os Horrores de Caddo Lake parece sempre hesitante antes de revelar o aspecto fantástico e descortinar o que extrapola as turbulências familiares de Paris e Ellie. As pistas do sobrenatural até são contundentes, mas o que falta à narrativa é uma maior eloquência de imagens e sons para ciar a atmosfera de dúvida. Quando as interrogações são libertadas dessas amarras impostas pela direção, o drama psicológico assume contornos de suspense e horror. A partir daí, os assuntos domésticos de Paris e Ellie são deixadas de lado. Logo, os questionamentos desaguam no terreno da ficção científica.

Logan George e Celine Held não conseguem trabalhar tudo ao mesmo tempo em Os Horrores de Caddo Lake. Quando o importante é desenvolver o background emocional dos protagonistas, o fantástico é tratado como uma possibilidade remotíssima, talvez apenas considerado por espectadores não muito interessados nas diferenças entre pais e filhos. Já ao assumir o extraordinário, os temas familiares deixam de ser desenvolvidos e permanecem estacionados. Mas, se há algo que a montagem assinada por Logan George faz com inteligência é esconder um ângulo fundamental dessas histórias paralelas. No começo, os momentos de Paris e Ellie são longos. Aos poucos, a alternância entre eles vai ficando acelerada. Com isso é gerada a sensação de que tudo ganhará uma nova roupagem quando os personagens finalmente convergirem num ponto ainda desconhecido, até porque em nenhum momento antes disso Paris e Ellie são vistos juntos, mesmo que os dois jovens morem em áreas aparentemente próximas de um mesmo ecossistema. Quando as torneiras do fantástico são finalmente abertas com vontade, as revelações acontecem rapidamente, deixando claro que os realizadores estavam montando um quebra-cabeça no segundo plano. E é engenhosa a maneira como as informações vão se juntando, ora confundido propositalmente, ora elucidando o que acontece naquele lugarejo.

Os Horrores de Caddo Lake seria mais interessante se os cineastas não separassem tanto drama, horror e os demais gêneros sob o guarda-chuva do fantástico. Esse enredo que acontece nos arredores de uma represa que mudou drasticamente a paisagem local nos últimos 70 anos também poderia conter algo da ordem do ecológico, como o filme sugere em determinados momentos. Os cineastas não potencializam o cenário dos pontos de vista prático (como moldura sombria das tensões humanas), simbólico (como ambiente onde moram segredos insondáveis) e metafórico (na condição de exemplo dos efeitos devastadores do progresso). Dylan O'Brien e Eliza Scanlen estão bem em seus respectivos papeis, mesmo que de certo ponto em diante (sobretudo quando o fantástico é revelado) o ator e a atriz sejam restritos a correrias e fisionomias desorientadas diante do inexplicável. Porém, o que mais se destaca positivamente nesse longa-metragem lançado por aqui diretamente no streaming é a capacidade de assimilar características de gêneros diferentes a fim de criar uma experiência, senão angustiante, mas estimulante em alguns instantes. O mérito de Logan George e Celine Held é saber esconder bem as peças que conectam os protagonistas, chamando a atenção inicialmente às suas dificuldades domésticas para nos distrair da verdade despejada no fim. O resultado pode não ser um suspense brilhante e tampouco um dramalhão forte, mas tem boas ideias sobre contar histórias.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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