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Crítica


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Sinopse

Produtores e contrabandistas de álcool durante a Lei Seca nos Estados Unidos, os irmãos Bondurant enfrentam uma guerra quando o governo começa a intervir em seu crescentemente lucrativo negócio.

Crítica

Sabe aquele filme que tem uma premissa interessante, um elenco de peso, um bom roteiro e uma direção segura, mas que parece faltar algo? É exatamente este tipo de longa que Os Infratores é: tão bom que poderia render mais. Quem sabe até uma série de televisão. O novo trabalho de John Hillcoat, autor do ótimo A Estrada (2009), trata do negro período da Lei Seca em 1931 (durante a Depressão Americana), no Sudoeste do Estado da Virginia. É nesta região que os Bondurant sobrevivem com o comércio ilegal de bebidas alcoólicas, liderados pelo irmão do meio Forrest (Tom Hardy). O líder do clã é tido como uma espécie de imortal na região, por já ter sobrevivido a variadas experiências com a provável morte (o que acaba servindo como alívio cômico em meio a tanta violência). Seu braço direito é o mais velho Howard (Jason Clarke), enquanto o caçula, Jack (Shia LaBeouf) é o elo fraco, sendo apenas o motorista das transações com gângsteres e a polícia corrupta. As coisas começam a se complicar quando um policial chegado de Chicago (Guy Pearce) fica obcecado em querer acabar com os negócios dos Bondurant, que, ao mesmo tempo, não aceitam se curvar ao novo e elevado pagamento de propina para continuar as vendas.

Só com essa história já teríamos um bom filme de ação das antigas, que mistura um pouco de Bonnie e Clyde (1967) com clássicos do spaghetti western. O problema é que o roteiro do também músico Nick Cave, inspirado num livro baseado em fatos reais do neto do próprio Jack Bondurant, insere demais personagens na trama e quer aprofundar a todos, o que acaba deixando um gosto amargo de quero mais à trama. Entre outros desta fila estão o gângster mais procurado da cidade (Gary Oldman, que aparece pouco), uma ex-dançarina de Chicago (Jessica Chastain) que vai trabalhar como garçonete no bar dos Bondurant e acaba virando interesse romântico de Forrest, bem como a filha do pastor da cidade (Mia Wasikowska), por quem Jack se apaixona.

Não entendam que estas duas personagens femininas são supérfluas à história. Muito pelo contrário. Até porque o desempenho das atrizes está acima da média. O problema é que começamos a compartilhar pouco da história delas e ficam muitas dúvidas ao fim do enredo. Da mesma forma, ficamos sem saber, em vários momentos, qual o foco da história. Seria a trama do contrabando e a briga de Davi e Golias dos Bondurant, um mcguffin para explorarmos a profundidade de cada habitante da cidade? Ou justamente esse aprofundamento é uma consequência falha do roteiro?

Ao menos a boa direção de Hillcoat deixa o espectador mais aliviado, especialmente nas cenas de tiroteio e morte, que estão em um número adequado à proposta realista do longa. Sem falar nas atuações, especialmente a de Tom Hardy. Os Infratores começou a ser filmado quando ele já se preparava para viver o truculento Bane de Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012), o que pode ser notado pelo (grande) porte físico de Hardy. Mais uma vez o intérprete se mostra um ator completo e dedicado ao transformar o estranho Forrest em um homem fechado, sisudo e que não fala: murmura. Em certos momentos ele não diz uma palavra, mas solta algumas onomatopeias, como um “hmm” engasgado.

Ao mesmo tempo, Guy Pearce apresenta um eficiente vilão de sexualidade ambígua (fator que gera praticamente uma guerra ao final do filme), extremamente violento (por vezes, só com o olhar), com um corte de cabelo duvidoso e as sobrancelhas raspadas. O mesmo pode ser dito dos demais coadjuvantes da trama. Quem fica um pouco atrás neste rol de atuações é o limitado Shia LaBouf. Seu personagem é o principal da trama ao lado de Forrest, mas Jack parece não avançar muito em seu crescimento (afinal, ele quer deixar de ser o reles motorista e chefiar as negociações), o que faz o espectador questionar se é um efeito da própria história ou uma falha no roteiro e/ou direção.

Apesar de se focar demais nos personagens, a história traz uma crítica ao sonho americano ao inserir todos numa terra sem lei e em que tudo é e não é permitido ao mesmo tempo. Vide os próprios Bondurant: são ladrões que, apesar de não fazerem mal a ninguém em boa parte da trama, acabam virando assassinos com quem tenta mexer em seus negócios. Uma forma de vencer na vida a qualquer custo. Porém, esta pretensa crítica pode ficar um pouco rasa no frigir dos ovos. Os Infratores funcionaria melhor se fosse dividido em capítulos. Uma pena. Poderia ser uma das melhores produções do ano. Mas virou apenas um bom filme.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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