Crítica
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Sinopse
Berlim, 1943. Com o regime nazista declarando oficialmente sua perseguição ao povo judeu, muitos deles tiveram que se tornar invisíveis. Quatro tiveram sucesso nesta tarefa: Hanni Lévy, de 17 anos e cabelos claros, Cioma Schönhaus, um falsificador de passaporte, Eugen Friede, engajado em um grupo de resistência, e Ruth Arndt, que sonha em viver na América.
Crítica
Em momentos de discursos extremos, todo lembrete que aponte para os muitos outros tons além do preto e do branco é sempre válido – e deve ser bem recebido. E se a história é, de fato, cíclica – e qualquer estudante razoável pode confirmar que ela, de fato, assim se faz – é bom estar atento ao que se passou, não apenas ao pensar nos dias que estão por vir, mas antes de qualquer coisa por se preocupar com o aqui e agora. Os Invisíveis, longa escrito e dirigido por Claus Räfle (que contou com a colaboração no roteiro de Alejandra López), dirige seu olhar aos terríveis anos da Segunda Guerra Mundial, mais especificamente aos judeus que, sem terem para onde fugirem, se viram diante da necessidade urgente de ‘desaparecerem’, ainda que diante de todos, para seguirem vivos. Mas o filme assim o faz com os dois pés muito bem fincados no momento imediato que enfrentamos. Os paralelos, como logo fica claro, são evidentes. E ainda que não apresente nenhuma grande revelação ou emule uma fórmula aparentemente nova, se preocupa em seguir uma cartilha conhecida, e assim o faz de forma competente e emocionante.
Cioma (Max Mauff, da série Sense 8, 2015-2018) é hábil artista, o que em tempos como aqueles ganha mais valor ao ser aplicado como falsificador. Usa o talento que tem nas letras e nos desenhos para forjar documentos e certificados que não apenas garantem sua permanência, como também a de tantos outros em iguais condições. Isso faz dele não apenas valioso, como também imprescindível para aqueles que se esforçam na resistência. Ele vê seus pais serem levados, mas de um jeito ou de outro vai ficando, empregando suas habilidades também para ajudar outros mas, acima de tudo, para garantir a permanência do próprio pescoço. A situação volta e meia parece se estabilizar, mas sabe que em questão de minutos tudo pode mudar. O mesmo problema que enfrenta Eugen (Aaron Altaras, de Mario, 2018), um garoto de 16 anos que carrega sozinho o fardo étnico – a mãe, por ter se casado posteriormente com um alemão, não é considerada judia, enquanto que ele, por sua vez, precisará lutar sozinho pela sobrevivência.
Situações não muito diferentes enfrentam as duas mulheres aqui também retratadas. Ruth (Ruby O. Fee, de Os Irmãos Negros, 2013) tem o apoio de familiares e amigos, e ao lado desses vai mudando de abrigos e esconderijos, até ir parar justamente sob os cuidados do inimigo – muitas garotas acabaram salvas justamente por prestarem serviços, como empregadas e babás, aos oficiais nazistas. Bem menos sorte tem o início da caminhada rumo ao submundo de Hanni (Alice Dwyer, de A Garota das Nove Perucas, 2013), que chega a pintar os cabelos para se tornar mais ‘ariana’ aos olhos dos outros, mas o abandono e a solidão quase a leva a loucura. A paixão pelo cinema – e um flerte de ocasião – acabam por ser sua salvação, levando a um desfecho muito mais feliz do que se poderia supor diante tantos horrores e desilusões.
Dois fatores, no entanto, se tornam imperativos durante a narrativa de Os Invisíveis. Primeiro, é a aparente aleatoriedade destas histórias. Os quatro personagens não possuem nenhuma ligação óbvia entre eles, a não ser o fato de terem conseguido, mesmo diante das mais improváveis condições, atravessar todo o conflito e chegar vivos até o seu final. Depois, há o fato de que, em suas jornadas, em uma passagem ou outra acabaram contando com o apoio dos próprios alemães para garantir suas seguranças. É um ponto importante a ser ressaltado – e aqui abordado com cuidado e sensibilidade – e que desmistifica esse viés envelhecido de que toda a população do país compartilhava das mesmas visões distorcidas dos seus governantes. Isso não era válido naquela época, assim como segue sem fundamento até hoje.
Por outro lado, Räfle não se contenta em apenas colocar em evidência essas histórias de vida: ele quer mais, e, para tanto, decide apostar no documento do real. É quando entram em cena os quatro personagens verdadeiros, narrando com suas próprias palavras o que lhes aconteceu durante aqueles anos. A junção, no entanto, nem sempre é feliz, pois a divisão de espaços entre eles parece obedecer a uma ordem mais matemática do que narrativa. No conjunto, se a presença deles já envelhecidos acrescenta uma camada de veracidade especial, também elimina muito do suspense – já sabemos que irão sobreviver, afinal – além de esmaecer a dramaticidade do discurso, pois não se está seguindo um roteiro elaborado, e, sim, apenas perseguindo trajetórias invariavelmente similares. Os exemplos são comoventes e tocantes. Porém, não mais do que isso. O valor, enfim, está mais nas pessoas presentes e menos nos relatos que, ao menos aos já iniciados no assunto, pouco acrescentam ao debate.
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