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Crítica


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Sinopse

Wilhelm e Jacob percorrer a Europa napoleônica contando histórias de monstros e contos de fada em troca de dinheiro. Porém, são forçados pelas autoridades francesas a encarar uma suposta maldição real reinante numa floresta em que jovens donzelas desaparecem.

Crítica

A ideia por trás da realização de Os Irmãos Grimm é ótima: combinar a história verídica dos irmãos Will e Jake Grimm, criadores de algumas das fábulas mais conhecidas da era moderna, como Chapeuzinho Vermelho, João e Maria e Rapunzel, com o enredo de suas próprias tramas. E sob o comando do genial Terry Gilliam, ex-integrante do grupo Monty Python e diretor de obras como O Sentido da Vida (1983) e Os 12 Macacos (1995). Poderia ter sido o filme do ano, mas o resultado não foi tão ruim como muitos se apressaram em declarar. Com o passar dos anos é possível perceber que o longa, ainda que esteja longe de decepcionar, tem um gosto de que poderia ter rendido mais. O problema, claro, só poderia ser um: Hollywood.

Caso tivesse sido realizado na Europa, provavelmente Os Irmãos Grimm não teria como protagonistas dois astros do porte de Matt Damon e o falecido Heath Ledger (este o melhor da dupla) nem um grande investimento em efeitos especiais. Em demérito disto, no entanto, é possível prever que haveria uma acentuação dos aspectos góticos e assustadores do enredo, apostando mais no perturbador, na ousadia e na originalidade. O que temos, entretanto, é algo híbrido, ainda assim divertido e envolvente, mas por demais corriqueiro nos momentos de maior tensão.

O roteiro, escrito por Ehren Kruger (do thriller sobrenatural A Chave Mestra, 2005) é bem tradicional, seguindo os preceitos da cartilha: os personagens principais são apresentados numa sequência de arrepiar, depois temos o conflito, uma tentativa de aprofundar as personalidades, um início de romance, uma premissa falsa é difundida para ludibriar o espectador, e seguimos até o momento do clímax, quando o mistério se resolve – ou quase. É uma fórmula já conhecida, que aqui é explorada sem novidades. O que faz a diferença, então, é o entorno, o extra. E Os Irmãos Grimm tem disto de sobra a oferecer.

O longa se desenvolve como um quebra-cabeça. Um dos maiores prazeres é ir reconhecendo as referências aos clássicos escritos pelos Grimm, como a Bruxa Má que quer ser bela para sempre, o lobo mau à espreita pela floresta e o assustador boneco de pão-de-ló. Elementos que são postos em cena em harmonia com o que está se desenvolvendo, sem causar maiores estranhezas. O conjunto termina, assim, funcionando, ainda que as partes sejam mais interessantes que o todo.

Os Grimm ganham a vida pelo interior da Alemanha como dois malandros que levam a vida salvando vilas de assombrações por eles mesmos fabricadas. Quando desmascarados pelo governo, são enviados a um povoado distante para descobrir porque meninas estão desaparecendo em uma floresta próxima. Ao chegarem lá percebem de imediato que o lugar é vítima de um forte feitiço, e que terão que abandonar suas farsas e fazer uso de habilidades até então desconhecidas para solucionarem o mistério.

Exibido no Festival de Veneza, Os Irmãos Grimm decepcionou nas bilheterias norte-americanas (não arrecadou nem a metade do seu orçamento, que ficou em torno de US$ 80 milhões), o que, evidentemente, não implica que seja desprovido de méritos. Gilliam continua manejando com sabedoria as possibilidades que dispõem, mesmo quando cerceado pelos produtores, como neste caso. Damon e Ledger formam uma dupla afinada, e a bela Lena Headey faz um bom contraponto. Isso sem falar da deslumbrante Monica Bellucci, que domina a cena a cada aparição. Os figurinos, a direção de arte, a fotografia e a trilha sonora também com a sintonia geral do projeto, fazendo desta uma opção da qual será difícil se arrepender. O que, infelizmente, não é o mesmo do que evitar o lamento pelo que poderia ter sido.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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