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Crítica


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Sinopse

Convencidos de que a vida seria mais fácil sem seus pais egoístas por perto, os irmãos Willoughby bolam um plano para enviar os genitores numa viagem de férias. O que não esperavam era que fosse contratada uma babá para cuidar do quarteto.

Crítica

É interessante notar como Os Irmãos Willoughby, nova animação da Netflix, subverte certas regras típicas dos filmes para família para, à sua maneira, manter a mesma essência. Esta vertente na animação não chega a ser propriamente nova, vide os vários filmes ora satirizando ora tendendo ao politicamente incorreto que têm sido lançados nos últimos anos, justamente para se colocar em contraponto ao modelo clássico estabelecido pela Disney. O curioso é que, aqui, se muda para fazer igual.

Senão, vejamos. A história base desta animação até surpreende pelos rumos que assume de início, com um certo humor negro suavizado de forma a não chocar os menores. Ainda assim, são poucos os filmes que mostram crianças que falam abertamente do desejo em se tornar órfãs. É claro que, para que isto aconteça, a ambientação já estabeleceu não só o descaso absoluto dos pais em relação aos filhos como também um forte tom farsesco, repleto de peculiaridades pitorescas em torno da família. Tudo para que a história se afaste (bastante) de qualquer indício realista, o que também minimiza o impacto de tal ato.

Além disso, os Willoughby são crianças perdidas no tempo. Vivem em uma mansão antiquada, rodeada de resquícios de seus antepassados, sem acesso a qualquer tipo de tecnologia - nem TV eles conhecem! Por mais que vivam em um mundo multicolorido, a realidade deles é bastante cinzenta, tamanha é a carência sentida em relação ao afeto. Não é à toa que ficam tão eufóricos quando enfim saem de casa e conhecem um mundo inteiramente novo. Ainda mais quando, ao término de um arco-íris, se encontra uma fábrica de doces.

O livro de Lois Lowry - e, consequentemente, o filme - é assim: parte de histrionismos para abordar ícones do mundo infantil de forma escancarada, seja a partir do sonho em ter doces à vontade ou ao comportamento típico de uma babá, com direito a citação implícita a Mary Poppins (1964). Soma-se a isso a narração sarcástica do gato dublado por Ricky Gervais, com alguma provocação mas sempre de forma dosada. O objetivo aqui é transmitir a ideia da ironia, sem no entanto ir a fundo nela. Ou seja, subverter a fórmula sem no entanto abandonar sua essência.

Por mais que tal construção narrativa seja bem interessante - e criativa, especialmente em relação à técnica de animação empregada -, Os Irmãos Willoughby sofre de um problema crônico do cinema comercial contemporâneo, ao menos aquele produzido nos Estados Unidos: a necessidade de se reinventar a todo instante, em ritmo frenético, de modo a não dar respiro ao espectador. Desta forma, o longa salta de evento em evento sem dedicar a ele mais que 15 minutos, o que resulta em uma sucessão de situações que, se jamais deixa o ritmo amainar, provoca também um cansaço que resulta em indiferença. Afinal de contas, nada é aprofundado e mesmo coadjuvantes interessantes ou têm pouco espaço ou ficam restritos aos estereótipos visuais. Simples assim.

Apesar disto, Os Irmãos Willoughby é um filme interessante pelo que se propõe a ser, como estrutura narrativa. Multicolorido e lúdico, consegue atrair a criançada sem muita dificuldade, também pelo seu ritmo incessante. Aos adultos a tarefa é mais difícil, por mais que haja pitadas aqui e ali destinadas aos maiores - atenção à composição da família perfeita, com uma mensagem escancarada acerca do preconceito de cor.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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