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Sinopse
Shauna e Pierre se conheceram há 15 anos nos corredores de um hospital. Quando eles se reencontram, ela tem 70 anos e ele 45. No entanto, essa diferença de idade não será impeditiva para que ambos caiam de amores pelo outro.
Crítica
O romance é um dos gêneros mais assíduos no cinema. E as representações do amor foram ganhando várias nuances ao longo da história para lá de centenária da Sétima Arte, muitas vezes refletindo mudanças sociais importantes. Por exemplo, atualmente as encenações de paixões LGBTQIA+ contêm mais tonalidades e camadas do que há poucas décadas. Houve uma alteração nesse cenário: para começar, sugestões de envolvimentos antes interditados; à frente, filmes que abordavam as repressões descambando em tragédias; e assim por diante. Até que a representação vai se livrando de amarras e estigmas. Algo semelhante pode ser identificado nos romances marcados por diferenças significativas de idade. Seguindo uma convenção aceita coletivamente durante anos, homens mais velhos se relacionam naturalmente com mulheres mais novas, sendo o contrário passível de gerar bem mais conflitos. Claro que nisso reside o machismo. O cinema evitou por bastante tempo as paixões entre mulheres maduras e homens jovens, senão dentro de lógicas que previam um interesse financeiro do rapaz. Felizmente, as coisas estão mudando. Selecionado para o 13º Festival Varilux de Cinema Francês, Os Jovens Amantes apresenta o envolvimento entre a setentona Shauna (Fanny Ardant) e o quarentão Pierre (Melvil Poupaud). E o que o filme tem de melhor escapa às situações de crise.
Os Jovens Amantes é uma realização convencional, até certo ponto anacrônica quando o assunto é a representação do amor entre a mulher madura e o homem jovem. Primeiro, por conta da idealização excessiva de Pierre. A realizadora Carine Tardieu se empenha exageradamente para desenhar o sujeito como alguém essencialmente bom. Profissional aguerrido, ético, marido leal (mesmo quando comete infidelidade), companheiro que não foge das situações dramáticas, ele se encaixa perfeitamente no arquétipo do herói romântico. Como o filme tende ao melodrama, até faz sentido o homem ser menos ambivalente, mas há despropósito na construção da sua personalidade ilibada e praticamente sem arestas a serem aparadas. Já Shauna é uma personagem mais interessante, principalmente porque muito do que é ou sente não está impresso em palavras. Sua hesitação diante do amor que vem romper anos de solidão é manifestada verbalmente, mas também expressada por meio de pausas indicativas, gestos vacilantes, atitudes contidas e meios sorrisos de canto de boca. Essas são as principais ferramentas que a veteraníssima Fanny Ardant coloca à disposição da construção da protagonista convidada a aflorar uma sensualidade abafada. E, sem dúvida, o longa ganha espessura dramática quando as pessoas não dizem, mas demonstram tudo aquilo que sentem.
Há inconsistências fundamentais em Os Jovens Amantes. Uma delas é o comportamento da esposa traída – coadjuvante vivida por Cécile De France – ao saber que Pierre teve um caso extraconjugal. Ela demonstra inicialmente um pragmatismo indicativo de maturidade, ao mesmo tempo relevando a “escorregada” do cônjuge e revelando uma infidelidade. Mas, no momento seguinte em que ela se encontra na berlinda, a segurança evapora como num passe de mágica. O encadeamento de situações nos leva a crer que Jeanne (Cécile) perde o equilíbrio especificamente ao saber que Pierre está apaixonado por uma mulher de 70 anos de idade. No entanto, Carine Tardieu não desenvolve a insatisfação feminina que explode repentinamente como fruto de um preconceito, do etarismo. A realizadora perde uma oportunidade valiosa de, a partir da reação da esposa traída, compreender como essa discriminação contra a mulher mais velha está inserida na nossa coletividade de modo estrutural. Para que esse discurso fosse devidamente elaborado e ganhasse corpo, seria preciso aprofundar os personagens. Como está basicamente presa à beleza do amor que nasce num terreno por muito tempo considerado improvável, a cineasta – ela que assina o roteiro com Sólveig Anspach e Agnès de Sacy – se foca nos empecilhos para que um sentimento tão bonito floresça e rompa as tais barreiras existentes.
Assim como a representação dos romances LGBTQIA+ no cinema felizmente passaram por transformações, o retrato dos amores entre mulheres maduras e homens jovens ainda têm a evoluir. Prova disso é que, apesar da ótima intenção, Os Jovens Amantes se agarra a procedimentos ultrapassados, sobretudo os que podem ser tidos como punitivos, vide a doença grave que ameaça o vínculo interditado pela convenção. Assim como os romances LGBTQIA+ não precisam acabar mal, em tragédia ou dor, os entre mulheres maduras e homens jovens podem escapar às artimanhas escusas de um destino capaz de derrubar quem lutou tanto para permanecer junto. Porém, além de idealizar Pierre, esse Dom Quixote que briga contra gigantes e moinhos de vento para ficar com a sua Dulcineia encastelada, Carine Tardieu ainda lança mão de clichês visuais que reforçam o tom genérico e meloso do filme. Um deles é a visão dos amantes sofrendo sob a chuva – se ganhássemos um real por cada sofredor que não usa guarda-chuva, provavelmente teríamos uma conta polpuda para administrar. O que dá sabor anacrônico à representação é o acúmulo de dificuldades para que as coisas possam ficar bem. Mas, quando o filme decai, Fanny Ardant nos lembra porque é considerada um ícone do cinema francês. A atriz dignifica a mulher que poderia ser somente frágil ou desejosa. Shauna é ambas.
Filme assistido durante o 13ª Festival Varilux de Cinema Francês, em junho de 2022.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 5 |
Ailton Monteiro | 7 |
Lorenna Montenegro | 8 |
Alex Gonçalves | 7 |
MÉDIA | 6.8 |
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