Os Lobos do Leste
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Los lobos del Este
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2017
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Japão / Cuba / Suíça / Reino Unido / Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Há mais de 100 anos os lobos não são avistados nas montanhas japonesas de Higashiyoshino. Um velho caçador tem certeza de que os animais ainda existem por lá.
Crítica
O Japão é uma terra que, apesar de sua geografia insular, costumava ser habitada por muitos tipos de lobos. No entanto, com a chegada do homem e a necessidade de plantio e criação de animais, estes cães selvagens passaram a ser vistos como ameaças, e por isso, foram dizimados. Na ilha de Higashiyoshino, duas raças eram maioria, mas ambas foram dadas como extintas há mais de um século. O homem, portanto, se viu obrigado a se tornar o lobo do próprio homem. Sim, pois teve que assumir o lugar desse para que o delicado balanço natural da região se mantivesse – e não houvesse uma explosão demográfica entre os cervos, que poderiam resultar em ações ainda mais danosas ao ser humano e ao meio ambiente. Os Lobos do Leste, filme japonês de sangue cubano, fala com salutar interesse dessa contradição a partir da postura de seu personagem principal, aquele que tanto luta para preservar sua tradição, até o momento em que se dá conta de que são justamente os meios que o mantém vivo – e a todos ao seu redor – e não um eventual fim. Pois esse seria o desfecho, o adeus. E ele não está pronto para isso.
Em todos os seus longas anteriores, como A Piscina (2012), premiado nos festivais de Miami e Amsterdã, além de selecionado para a mostra Panorama, na Berlinale, e A Obra do Século (2015), exibido em Roterdã e San Sebastian, entre outros, o diretor Carlos Quintela tinha como principal característica, uma vez estabelecido o cenário de sua história, pouco interferir no andar dos acontecimentos. É um cinema de observação, de reflexão e estudo, de análise das consequências, e não de imposição desse ou daquele evento. Em Os Lobos do Leste, realizado no outro lado do mundo a partir de um convite da cineasta Naomi Kawase – que assume o papel de produtora – o cineasta muito da sua responsabilidade com o veterano Tatsuya Fuji – protagonista do clássico O Império dos Sentidos (1976) e que já havia trabalhado com Kawase em Esplendor (2017). Ele é o homem que sempre acreditou na presença dos lobos e na necessidade de caçá-los. Até se deparar com um deles e mudar de ideia.
Akira (Fuji, de composição impressionante) é, há trinta anos, o presidente da Associação dos Caçadores de Higashiyoshino. Ele criou a agremiação e se mantém nela com um único objetivo: eliminar os animais que acredita ainda habitarem as florestas ao redor da cidade. Sua obstinação é tamanha que o afastou dos amigos e o levou a cometer atos irregulares, como o uso dos fundos da organização que dirige para a compra de equipamentos que lhe permitissem melhor se posicionar diante do inimigo. Essa, no entanto, foi a gota d’água, e todos os demais, que há muito apenas toleravam a postura dele, agora se unem para retirá-lo do posto que ocupa. Estão cansados, querem olhar para frente, e Akira representa um passado que não encontra mais lugar para acontecer. Mas o inesperado sempre tem o seu espaço. E surge na figura de um lobo solitário, tal qual o próprio Akira, desgarrado da sua alcateia, registrado pelas câmeras de segurança que o próprio ex-presidente havia instalado – e por causa das quais sofrera tantas críticas. É a prova, portanto, de que sempre estivera certo. Agora, porém, tudo o que mais queria era estar errado.
Pois um ano se passa entre um momento e outro, a Akira teve tempo suficiente para refletir sobre seus gestos e pensar no que ainda imagina lhe ter alguma valia. Com os homens, enfim, reunidos para acabarem com o lobo avistado, o velho caçador mais uma vez se coloca como o pária, a voz dissonante, aquele que, assim como antes, se vê obrigado a ampliar seu campo de visão e adicionar à equação não apenas os elementos imediatos, mas também aqueles que só irão se manifestar muito depois. Com o desaparecimento dos lobos, o homem assumiu o seu lugar na caça aos cervos. A volta das feras faz com que os homens se sintam impelidos em mais uma vez eliminá-los, como se obedecessem a uma ordem secular. Mas não seria a oportunidade de repensar a posição humana neste equilíbrio? Quem, de fato, é caça, e quem é caçador?
Carlos Quintela está em terreno que não lhe é familiar, mas o trata como se há muito estivesse habituado com o que tem pela frente. É por isso que enquadra as matas ao longe, com respeito e admiração, mas também reconhece o momento de colocar a câmera no ombro e se colocar mais próximo do protagonista, quando esse se embrenha por entre as árvores e riachos. O espectador estará atento em ambas as situações, seguindo uma narrativa quase didática, mas que nunca subestima sua audiência. Os Lobos do Leste são os ventos da mudança, mas também as amarras que o passar dos anos e das gerações fortaleceram como laços que somente com muita força poderão se soltar. Akira sabe disso, mas o entendimento de que é preciso mudar não é a mesma coisa do que a vontade de dar esse tão importante e decisivo passo. Por isso que enfrentar um algoz imaginário pode preencher os sonhos de uma vida, mas abater o oponente com um tiro certeiro pode transformar essa mesma esperança em um pesadelo do qual não será fácil acordar.
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