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Crítica


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Sinopse

Depois da separação conjugal, a historiadora Joséphine enfrenta sérios problemas. Na companhia das duas filhas, ela vai morar com a irmã sustentada pelo marido endinheirado. Juntas, decidem trabalhar num livro.

Crítica

Os Olhos Amarelos dos Crocodilos nasceu como um livro, assinado pela jornalista e escritora francesa Katherine Pancol em 2006. Bestseller em seu país de origem, o romance foi traduzido para diversas línguas – inclusive o português, tendo sido lançado no Brasil em 2012. Como grande sucesso que é, foi levado aos cinemas pelas mãos da cineasta Cécile Telerman, que tem em sua carreira predileção por protagonistas femininas fortes. Neste filme, isso não é diferente, ainda que a força das personagens centrais acabe se esvaindo em uma narrativa inchada e que muitas vezes lembra um novelão televisivo unidimensional.

Na trama, adaptada para o cinema pela própria cineasta ao lado de Charlotte De Champfleury, conhecemos duas irmãs tão diferentes quanto o dia e a noite, a historiadora Joséphine (Julie Depardieu) e a socialite Iris (Emmanuelle Béart). Jo tem duas filhas e um recém consumado divórcio – seu marido, Antoine (Samuel Le Bihan), desempregado, a traiu com uma manicure. Expulso de casa, passa a trabalhar com criação de crocodilos, deixando uma dívida exorbitante para a ex-mulher pagar. Iris, por sua vez, está em um casamento de aparências com Philippe (Patrick Bruel) e preenche seus dias com almoços caros, compras e mais compras. Em um jantar, sente vergonha por não ter objetivos tão interessantes quanto seus companheiros de mesa e mente a respeito de um romance que estaria escrevendo. Ela agora precisa manter o blefe e, para tanto, pede para sua irmã que a ajude, sendo sua ghostwriter. Jo, sem saída por causa de suas dívidas, aceita o convite e escreve o tal livro. A surpresa é que o romance vira um sucesso imediato, fazendo com o que o nome e o rosto de Iris estampem cada revista e jornal de Paris. Jo conseguirá aceitar o sucesso da irmã às suas custas? E Iris conseguirá manter essa mentira por muito tempo?

Quando Os Olhos Amarelos dos Crocodilos mantém sua trama em cima destas duas personagens centrais, mostrando suas agruras e as formas como cada uma resolve seus problemas, o filme se mantém atraente e envolvente o suficiente. Temos duas atrizes em boas performances, ainda que a noção de duas irmãs diferentes – uma dondoca e outra pé no chão – seja muito batida. A culpa disso não é de Depardieu ou de Béart, que fazem chover com suas personagens. A primeira consegue transmitir os complexos de Jo de forma muito correta, mostrando-se insegura o suficiente para que acreditemos em sua jornada. A segunda é o oposto – ou deseja mostrar que é. Sua arrogância e suas atitudes mascaram sua insegurança – a de que nunca conseguirá conquistar nada por si. Como sabe de suas limitações, aceita o embuste. Aos seus olhos, uma mentira vale tanto quanto uma verdade, caso seja contada com convicção. E é assim que ela embarca em uma jornada como escritora, sem ter talento algum para as letras, mas um jeito especial para autopromoção.

O grande problema do longa-metragem de Cécile Telerman é o inchaço da sua trama. Ao tentar colocar o maior número de personagens do livro dentro de sua história, o filme ficou longo demais e com alguns nomes que nunca provam sua importância. O melhor exemplo é a subtrama envolvendo o padrasto das protagonistas, Marcel (Jacques Weber), e sua secretária e amante, Josiane (Karole Rocher). A própria participação da esposa de Marcel, a esnobe e detestável Henriette (Edith Scob), serve para entendermos um pouco o background daquelas irmãs, mas poderia também ser reduzida pela metade, sem prejuízo algum para a trama central. Com isso, Os Olhos Amarelos dos Crocodilos teria uma metragem mais condizente com o que realmente interessa, tendo uma trama melhor amarrada e sem gorduras desnecessárias.

A relação de rivalidade entre mães e filhas é um retrato intenso e bastante verossímil naquele contexto. O filme é, no fim das contas, um drama familiar com bons momentos, mas que se ressente da falta de uma revisão a mais no roteiro para cortar algumas arestas. Personagens unidimensionais incomodam, como é o caso de Henriette ou de Antoine, mas são relevados por irem de carona com os reais predicados do filme, Iris e Joséphine. Para quem gostou da história desta família disfuncional, existem duas continuações escritas por Katherine Pancol já lançadas na França, mas ainda sem publicação no Brasil. Para os mais vorazes, fica a dica.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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