Os Olhos de Cabul
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Zabou Breitman, Eléa Gobbé-Mévellec
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Les hirondelles de Kaboul
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2019
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França
Crítica
Leitores
Sinopse
Cabul, capital do Afeganistão, é uma cidade em ruínas sob o rígido regime dos talibãs, que impõe uma série de restrições às mulheres. Zunaira é uma jovem que renega tais medidas, vivendo livremente em sua casa ao lado do marido, Mohsen. Entretanto, quanto ele atira uma pedra em uma mulher colocada em praça pública para ser apedrejada até a morte, tal ato distancia o casal ao ponto de mudar a vida de ambos para sempre.
Crítica
Não é de hoje que a animação tem se dividido em dois campos quase antagônicos: a comercial, quase sempre seguindo o padrão da versão computadorizada, e a de viés mais artístico, que volta e meia busca outros estilos estéticos. Os Olhos de Cabul segue a segunda linha, ao explorar um lindo traço de beleza barroca, que tão bem explora a luminosidade existente na capital do Afeganistão. Seja através das variações dos raios de luz ou mesmo da claridade ecoando por todos os cantos, há não só a busca por um aspecto geográfico como, também, um contraponto em relação ao período sombrio vivido pelo país, sob o comando dos talibãs.
Curiosamente, esta é a segunda animação recente que tem por objetivo denunciar as agruras cometidas pelo regime talibã contra as mulheres; A Ganha-Pão (2017) foi a anterior, indicada ao Oscar da categoria. Tal tendência talvez tenha surgido justamente pela dificuldade em lá retratar o que acontece, vide o enclausuramento político e social existente no país, ainda mais quando tal história tem não só um olhar feminino como, também, mulheres no comando. É o que acontece aqui, dirigido pela dupla Zabou Breitman e Eléa Gobé Mévellec, e também em A Ganha-Pão, dirigido por Nora Twomey. A animação torna-se, então, um meio através do qual é possível atingir seu objetivo, sem desprezar a qualidade do produzido.
Em Os Olhos de Cabul, o foco principal está na exuberante Zunaira, não só pela beleza física mas, especialmente, pela postura de vida. Sua primeira aparição já traz o contraponto visual com todas as demais mulheres ao seu redor, graças à opção pelo vestido com os ombros à mostra em discordância da onipresente burka. Sua escolha pela vida traz um ar radiante ao filme, dando alguma esperança em um cenário desalentador. O passeio de Mohsen por Cabul é o maior exemplo, especialmente a dolorosa sequência que retrata o apedrejamento de uma mulher até a morte, algo não só corriqueiro como tristemente entranhado na sociedade.
Juntos, Zunaira e Mohsen vivem um pequeno paraíso dentro de casa, distantes - mas não imunes - aos absurdos do lado de fora. A subserviência não existe entre eles, ao contrário do outro casal protagonista, Atiq e Mussarat, que representam o afegão médio, aquele alienado politicamente que apenas segue a manada, pensando no que é melhor para si. Os rumos da narrativa farão com que seus caminhos se cruzem - sem spoilers! -, despertando uma necessária conscientização sobre o mundo à sua volta. A resistência, no fim das contas, inicia em cada um.
A partir de uma animação belíssima e uma narrativa sem medo de ser dura quando necessário, Os Olhos de Cabul é um filme contundente e envolvente não só por sua história, mas também por certas escolhas feitas pela dupla de diretoras. As breves sequências que mostram a visão de quem veste a burka são de uma claustrofobia necessária, de forma a transmitir a perda da identidade e também a sensação vivida pelas mulheres obrigadas a vesti-las. O grande senão nesta jornada surge no encontro entre Atiq e Zunaira, um tanto quanto etéreo demais ao ponto de insinuar um fascínio mais pela beleza que propriamente por sua personalidade, o que acaba diminuindo a essência da personagem. Ainda assim, trata-se de um belo filme não apenas pelo método de animação tão bem empregado, quanto pela denúncia dos absurdos cotidianos do regime talibã.
Filme visto em Portugal, em junho de 2020.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Francisco Russo | 8 |
Robledo Milani | 6 |
Francisco Carbone | 8 |
MÉDIA | 7.3 |
Filme excelente! Animação perfeita e envolvente pela simplicidade e uso adequado de cores, luzes e sombras. Só queria saber quem é o responsável por traduzir errado o título do filme. O correto é "As andorinhas de Cabul"; aliás, as andorinhas estão presentes em toda animação e fazem analogia à liberdade que se invoca no filme. Quem faz a tradução do título deveria primeiro assisti-lo!