Crítica
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Sinopse
Após saber que China deixou a cadeia e está em busca de vingança, Romeu precisa conseguir dinheiro para deixar o país o quanto antes. Para tanto, Toin, Ray Van e Pilôra juntam forças para reformar uma colônia de férias, com a intenção de atrair jovens de todo tipo. Quando o empreendimento, enfim, começa a funcionar, passam a competir com uma colônia vizinha, bem mais requintada.
Crítica
Seria possível dedicar um texto inteiro à constatação do humor regressivo de Os Parças 2, representado pela obsessão da escatologia (cenas de diarreia, peidos, a longa descrição de um “troço” no vaso sanitário) e pelo fetiche de uma genitalidade assexuada (os personagens pensam em sexo, falam sobre pênis de jumentos e lançam objetos em direção a testículos, mas jamais atingem qualquer forma de gozo). Seria importante apontar o humor infantil de personagens tropeçando e caindo, das pias quebrando, canos explodindo, camas se desmontando, e mesmo cenas de torta na cara. Caberia ressaltar o humor que rima “sushi” e “xixi”, e inclui frases de potencial cômico duvidoso como “Adolescente com fome come até a palma da mão”.
No entanto, existe um aspecto mais curioso neste projeto, e que demonstra sua inserção nos novos tempos. O filme tem plena consciência de que fazer piadas de gordos, de nordestinos, de travestis e de mulheres frágeis se tornou inaceitável diante da reivindicação das minorias por uma representatividade respeitosa. Portanto, trata de incluir várias frases de conscientização em meio às trapalhadas circenses dos personagens. “Isso é bullying!”, grita um garoto. “Eu não preciso de ninguém para me ajudar”, explica a garota a respeito de uma travessia na lama. Rumo ao final, os diálogos são tomados por frases de efeito sobre a aceitação do próximo e à descoberta de seu próprio potencial. Estaríamos diante de uma comédia progressista, ciente da necessidade de rir dos opressores, ao invés dos oprimidos?
Nada disso. Os Parças 2 assimilou as frases de uma sociedade inclusiva, porém não o seu conteúdo. A piada contra a gordofobia é introduzida depois de diversas cenas ridicularizando o garoto gordo por quebrar a cama ou usar uma camiseta curta demais, além de ter fome o tempo inteiro. A indignação diante do preconceito contra nordestinos acontece após a extensa introdução na qual três personagens nordestinos se comportam como selvagens dentro de um restaurante de luxo repleto de sudestinos. A fala sobre igualdade vem pouco tempo após o homem heterossexual se “fingir” de mulher para escapar de um estabelecimento sem pagar, o que reincide na imagem nociva da travesti como figura ridícula, enganadora, pouco confiável. As meninas empoderadas do início, que não precisavam dos meninos para ajudá-las, serão salvas pelos mesmos meninos mais tarde, para então caírem nos braços deles.
Em outras palavras, existe um cinismo profundo neste humor de aparência ingênua, por perceber seu conservadorismo e inadequação à sociedade atual, mas não se importar em efetuar qualquer mudança no conteúdo. O discurso obtuso está diluído no ritmo ágil de uma narrativa dotada de pouquíssimo senso lógico (a necessidade de trabalhar na colônia de férias, o desfecho envolvendo o vilão China). O cenário, as ações e os personagens coadjuvantes se tornam meras desculpas para as trapalhadas de Toin (Tom Cavalcante), Ray Van (Whindersson Nunes), Pilôra (Tirullipa) e Romeu (Bruno de Luca), que se limitam a pular, gritar e correr em 90% das cenas. Os três primeiros não possuem personalidades realmente distintas, limitando-se à mistura de ingenuidade e burrice. Não por acaso, são estes os personagens nordestinos, em oposição ao carioca Romeu, o mais esperto e sério do grupo, do qual o roteiro não consegue extrair muita comicidade.
Quando a comédia nacional de grandes estúdios descobrir a capacidade de rir dos poderosos, ao invés de ridicularizar o povo (algo que até o novo Zorra já começou a fazer), descobrirá farto material nas elites de Sul, Sudeste e Distrito Federal. Enquanto isso, o alvo ainda são nordestinos com medo de jumentos sem cabeça e mulheres gordas que precisariam ser “levantadas com guindaste”. A direção tampouco ajuda, exagerando de tal maneira na caracterização dos espaços e dos personagens que perde qualquer contato com a realidade e, portanto, qualquer possibilidade de identificação. Tom Cavalcante, Tirullipa, Whindersson Nunes e Bruno de Luca são humoristas talentosos, porém prejudicados pelo material grosseiro, frágil enquanto narrativa e humor, e pela câmera que se aproxima de cada careta ou olho arregalado.
Por mais que inclua chamadas no FaceTime e transmissões ao vivo via celular, por mais que introduza bordões da moda entre jovens “descolados”, Os Parças 2 ainda soa terrivelmente anacrônico e desrespeitoso, não apenas com os tipos retratados, mas com o próprio público em busca de qualquer forma de entretenimento que não passe pela banalização e a chacota. “Mas é humor, e humor é assim mesmo!”, diziam algumas vozes na saída da sessão. Sem dúvida, trata-se de humor. No entanto, existe um universo amplo de possibilidades dentro da comédia, o público não pode se contentar com tamanho empobrecimento da qualidade cinematográfica em nome do humor. A comicidade não implica numa licença para fazer o que quer que seja, pelo contrário: quando se ri de alguém (e com alguém), a responsabilidade se torna ainda maior em relação ao alvo das piadas.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Bruno Carmelo | 1 |
Victor Hugo Furtado | 4 |
Alysson Oliveira | 3 |
MÉDIA | 2.7 |
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