Crítica
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Crítica
Um dos grandes dramas do cinema brasileiro é não conseguir o meio termo: ou é oito, ou é oitenta. Ou são produções super intelectualizadas, tipo as do Cinema Novo, ou são escrachadas e populares, como as pornochanchadas. E se era assim antes, hoje em dia essa dicotomia está ainda mais evidente. Num ano em que (bons) títulos como Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios e Xingu naufragaram nas bilheterias, retorno satisfatório de bilheteria somente com comédias sem pé nem cabeça, como E aí, comeu? ou Até que a sorte nos separe. E, infelizmente, esse Os Penetras não consegue ser nenhuma coisa nem outra: sua estrutura é do primeiro time, mas os resultados estão aquém dos da segunda turma.
Beto (Eduardo Sterblitch) chegou ao Rio de Janeiro em busca de uma nova chance com sua grande paixão. Após uma nova recusa, ele acaba conhecendo Marco Polo (Marcelo Adnet), um picareta profissional. Pensando primeiro em enrolar o rapaz ingênuo de coração partido, o golpista decide investir seu tempo nessa história quando conhece o motivo de tanto desespero: Laura (Mariana Ximenes). Estamos nos últimos dias do ano, e para seguir os passos da garota os dois precisarão entrar de furões nas principais festas da temporada e descobrir o que a fez abandonar o namorado do interior para circular nas altas rodas cariocas. O fato de Marco se apaixonar por ela também não irá contribuir em nada na solução dessa situação que, a cada minuto que passa, fica ainda mais complicada.
O principal problema de Os Penetras é a sua falta de coragem em se assumir como, de fato, o é: uma comédia rápida e inconsequente. Em entrevista de divulgação, o diretor Andrucha Waddington afirmou que “toda comédia deve ter um fundo dramático, e foi isso que busquei com o meu filme”. Uma declaração totalmente coerente ao realizador de obras intensas e profundas como Casa de Areia (2005) e Lope (2010). Mas, então, não seria ele uma escolha equivocada para conduzir uma história tão rasa quanto essa? Como resultado, temos dois profissionais do riso – Sterblitch e Adnet – buscando, a todo instante, um registro mais sério. Essa limitação imposta aos protagonistas tira toda a graça da trama, e o que se consegue é uma comédia que não faz rir. Isso, é claro, se deve também ao fato dos dois serem novatos no cinema. Ximenes, por exemplo, uma atriz muito mais completa, consegue se desenvolver com maior desenvoltura, mesmo com um tempo tão restrito em cena. Outra boa surpresa é o sempre coadjuvante Stepan Nercessian, repetindo a boa e cômica performance vista recentemente em longas como Chega de Saudade (2007) e Podecrer! (2007).
Assim como Se eu fosse você (2006) era a repetição pura e simples de uma fórmula desgastada do cinema hollywoodiano, Os Penetras também não apresenta nada de novo ao que muito já foi visto. A estrutura é exatamente a mesma observada em trabalhos muito superiores, como Os Safados (1988) ou Os Picaretas (1999) – ambos, coincidentemente, estrelados por Steve Martin. Tudo é bastante previsível: é claro que a mocinha não é inocente, que o coitado amargurado tem uma carta na manga, que o malandro não é tão insensível assim. E exatamente como é anunciado tudo acontece, tintim por tintim, sem sustos ou surpresas. Por fim, o que se tem é uma produção tecnicamente competente, porém sem alma ou identidade.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 4 |
Alysson Oliveira | 4 |
Francisco Carbone | 4 |
Adriana Androvandi | 5 |
Marcelo Müller | 7 |
MÉDIA | 4.8 |
Filme muito bom, engraçado e sem apelação. Recomendo! Já estão dizendo que vai ter o 2.
Este filme é um lixo! Não ri de nada, é muito fraco. E olha que sou fã do dois! Se eu fosse o Adnet, parava com isso de fazer cinema, ele nao consegue fazer nada de bom. Se ele for fazer mais um filme, só se for com roteiro dele, senão fica em casa.
Vi o filme na pré-estréia e concordo com a crítica. O roteiro não é bom, a história é fraca e os personagens também, tudo muito forçado e muito pretensioso. A fotografia é linda. Só que eu não vou pro cinema pra ver fotografia. Eu vou pra uma comédia querendo rir e nessa eu ri muito pouco. Só não é desastre porque tem a Mariana Ximenes. Eu não recomendo.
Discordo de você mas uma coisa é inegável: eu não conhecia nenhuma comédia brasileira que tinha sido levada tão a sério pelos críticos. Talvez, isso seja bom, porque mostra que Os Penetras elevou a comédia nacional a um patamar diferente. E acredito que o motivo seja a inegável (veja bem, inegável) qualidade técnica do filme. Além disso, me arrancou boas risadas e eu também, particularmente, achei a trilha sensacional. Recomendo!
Olá, Dario, tudo bem? Que bom teu comentário. Fico feliz em lê-lo, afinal, é da troca de onde surge o crescimento, não é mesmo? Como disse acima, considero o filme muito eficiente em diversos pontos, principalmente os técnicos. Mas a indecisão sobre que tom assumir da direção e as atuações contidas dos protagonistas me incomodou muito. Não dei uma única risada durante todo o filme, e quando as luzes se acenderam, olhei para os lados e percebi que todos que ali estavam sentiam o mesmo! E comédia que não tem graça não dá, né? Abração!
Super respeito a tua opinião, mas peço licença para discordar, Robledo. Nem toda comédia tem que ser rápida e inconsequência pra ser boa. Aliás, nem precisa nos fazer morrer de rir pra ser boa. O bom cinema é o bom cinema, em qualquer gênero. Os Penetras é bom cinema .. bem roteirizado, bem produzido, bem dirigido, bem atuado .. Enfim, se vê com prazer da primeira à última cena Talvez não leve 3 milhões de espectadores ao cinema, mas vai continuar sendo visto daqui a um ano, daqui a cinco, daqui a dez anos .. Essa é a diferença. Grande abraço e até a próxima .DarioPR