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Sinopse

Enviado a Los Angeles para o que seria uma rápida coleta de provas, o delegado adjunto do condado de Kern se envolve na busca por um assassino que vem aterrorizando a metrópole. Mas, ecos do passado complicam as coisas.

Crítica

O cinema está repleto de figuras policiais atormentadas por erros do passado. Outra premissa recorrente é a obsessão/frustração de um agente diante da impossibilidade de capturar um assassino em série. Os Pequenos Vestígios combina esses dois modelos em Deke (Denzel Washington), sujeito que se vê novamente envolvido numa investigação aparentemente sem solução. Isso, ao deixar o condado no qual mora para retornar brevemente à cidade grande que o regurgitou há anos. Imediatamente, ele se torna uma espécie de mentor intelectual do detetive Jim (Rami Malek), o garoto de ouro do departamento, o designado para dar entrevistas à imprensa, aquele cujo futuro parece brilhante. A dinâmica mestre-aluno não é tampouco nova, aparecendo frequentemente em filmes com teores e tons bem parecidos. O acúmulo de chavões não seria necessariamente um problema, isso caso o cineasta John Lee Hancock imprimisse intensidade às trajetórias paralelas ou se estivesse mais interessado em observar os aspectos humanos dos protagonistas para além dos arquétipos.

O que salva Os Pequenos Vestígios de ser uma completa repetição de velhas fórmulas, sem a injeção de vivacidade, é o talento do elenco, especialmente o trabalho de Denzel Washington, um esteio, um selo de qualidade por conta da sua segurança contumaz. Porém, nem isso é suficiente para fazer de Deke mais que mero decalque de outros policiais moralmente ambíguos, capazes de torcer os limites da legalidade se isso pretensamente beneficiar os mocinhos diante das artimanhas do bandido. Já Jim, que expressa inicialmente um comportamento impreciso diante do forasteiro – misto de atração pelo mito bad boy e pé atrás típico de quem deseja resguardar a sua posição de proeminência –, é solapado pelas simplificações do roteiro. As ambivalências vão perdendo terreno para um simplório jogo de gato e rato que deveria ganhar tintas nebulosas com o surgimento do suspeito gritante vivido por Jared Leto. Aliás, a caracterização desse sujeito é um indício da falta de nuances do filme. Ele é mostrado como decorrência de um claro estereótipo antissocial/marginal.

O roteiro esquemático propõe uma série de cumprimentos de etapas comuns a esse tipo de abordagem. Os protagonistas inicialmente se estranham, mas logo depois se identificam, pois têm mais semelhanças que diferenças. Nesse sentido, outra pista da falta de sutilezas de John Lee Hancock é a necessidade de forçar a aproximação. Exemplo, a cena em que o policial mais velho está na casa do novato. Aquele afirma que tem duas filhas crescidas. Imediatamente, entram no quadro as duas meninas do anfitrião. É como se o realizador pegasse o espectador menos atento pela mão e quisesse certificá-lo de que a coincidência carrega um simbolismo, ou seja, que a danação que arruinou Deke é um destino provável a Jim, desde que este siga mergulhando obsessivamente no caso. O espelhamento ganha outro elemento no encerramento, quando há a confirmação de que o inexperiente vai precisar do experiente para lidar com a culpa. Os Pequenos Vestígios propõe um labirinto, mas não tem coragem o bastante para sugerir, assim sinalizando quase todas as saídas.

É evidente que o visual caricatural do suspeito evoca o contrário. De tão óbvio que ele é o assassino, talvez não o seja. Porém, um dos maiores problemas é a falta de investimento na indefinição das fronteiras entre certo e errado, moral e imoral, verdade e mentira. Ainda que o encerramento deixe aberta uma questão relevante à constatação da impossibilidade ocasional de determinar culpados e inocentes, John Lee Hancock não intensifica causas e efeitos, se contentando com um retrato banal fundamentado na experiência. Um dos protagonistas é menos afetado, pois calejado pela vida. O outro segue preso ao idealismo dos que somente se aceitam quando têm ciência de trilhar o bom caminho. Os Pequenos Vestígios é prolixo, não de todo desinteressante, mas apresenta vários instantes mornos e/ou gelados ao longo de seus mais de 120 minutos. Se há alguma mensagem no fim das contas é a de que com o tempo as pessoas aprendem a conviver melhor com seus erros. Poderia ser algo positivo, não estivéssemos falando de portadores de distintivos, cujos equívocos muitas vezes podem se traduzir em pessoas inocentes mortas e os malfeitores à solta, continuando a matar.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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