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Crítica


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Sinopse

Em uma noite quente no Rio de Janeiro, dois homens estão em busca de prazer e violência. Eles convidam duas prostitutas para acompanhá-los nessa arriscada e intensa aventura.

Crítica

Depois de uma produção intensa, que foi do final dos anos 1960 até o início dos 1980, Luiz Rosemberg Filho permaneceu décadas afastado das telas, trabalhando em projetos alternativos ou voltados para outros meios. A veia anárquica permaneceu viva durante este tempo, entretanto, e ensaiou um retorno ao cinema com o experimental Dois Casamentos (2015), para se firmar mesmo apenas com o épico Guerra do Paraguay (2016), que circulou por diversos festivais e foi premiado no Cine PE 2016. Pois é justamente para o evento de Recife que o diretor retornou para apresentar seu trabalho seguinte, talvez a aposta mais arriscada desse seu período de ‘retomada’, se assim podemos dizer: Os Príncipes. E assim com foram altas as expectativas, também são enormes os riscos assumidos.

Após reunir seu elenco de praxe – Ana Abbott e Patricia Niedermeier estiveram nos dois longas anteriores, enquanto que Alexandre Dacosta faz sua segunda parceria consecutiva com o cineasta – Rosemberg inova ao colocar Igor Cotrim como o protagonista. Ator que chamou a atenção no papel de um travesti em Elvis e Madona (2010), papel que lhe deu prêmios e reconhecimento, porém não lhe abriu tantas portas no cinema como poderia ser esperado, Cotrim volta somente agora, quase uma década depois, à frente de uma trama na tela grande. E o registro que apresenta, sabiamente, é completamente diverso do que já havia entregue antes. Os demais o seguem, ou por ele são convocados, em um misto de delírio, desprezo e alucinações, que tanto podem servir como alegorias para os tempos atuais como a uma fantasia de uma realidade tão possível quanto absurda.

Cansado de sexo e violência, estes dois homens – Cotrim e Dacosta – saem à noite atrás de... mais sexo e violência. É a cultura do excesso, ganhando formas exageradas justamente para chamar atenção de modo a não passarem desapercebidas. Em uma de suas primeiras paradas, recrutam duas prostitutas – Abbott e Niedermeier – que passarão a acompanhá-los numa longa jornada noite adentro, cujo fim é diverso daquele vivido pela velha senhora. Aqui, o que as espera é anunciado desde o primeiro instante, e por mais que insistam em fazer vistas grossas, o fim está próximo e não tardará a chegar, assim como o sol também irá nascer após a madrugada mais escura.

Rosemberg usa seus atores para emprestarem sentido a discursos raivosos e pertinentes, ainda que nem sempre colocados no momento e lugares certos. Esta abundância de formas, gritos e elementos persegue o desenrolar da trama, por vezes colaborando com o seu andar, em outras atuando mais como ruído. Quando focado nos protagonistas, percebe-se que aquilo pode ou não estar acontecendo, naquele instante ou desde o princípio dos tempos, sem um início que possa ser apontado e muito menos um desfecho previsível. No entanto, há ainda outras passagens, como o funcionário que se volta ao povo apenas para manipular os sentimentos de acordo com os desejos do patrão, ou a família portuguesa que diante de uma orgia sente tanto espanto quanto ao assistir a um capítulo da novela das nove. Neste ínterim, o que se salva é a presença hipnotizante de Tonico Pereira, entregando uma composição tão desprovida de amarras como há muito não se via, causando orgulho aos tempos áureos das pornochanchadas nacionais.

Filme de difícil acesso e desenvolvimento turbulento, Os Príncipes ainda encerra com uma nota de crítica social, uma reiteração de uma leitura que já havia sido depreendida, mas que aqui ganha um reforço aos desavisados. Tal inserção, no entanto, se prova tão desnecessária quanto funcional: se o espectador afeito a este tipo de narrativa já estava ciente dos rumos percorridos, por outro lado elimina-se qualquer dúvida sobre os dias – e noites – sombrios pelos quais estamos atravessando. A velha casa é de qualquer um, e o vestido de noiva profanado deixa claro o fim do sagrado em exaltação ao agora sujo e descartável. E se estamos todos mortos, basta um abrir dos olhos para que o ciclo tenha um novo início. Tão desprovido de defesas quanto um corpo nu, mas ainda assim pronto para uma luta que não permite vencedores, apenas sobreviventes.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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