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Crítica
Alguns filmes nascem de obras literárias, de peças de teatro, de artigos jornalísticos e até de fatos verídicos. Mas um filme surgir de outro é mais raro. É, no entanto, justamente o que aconteceu com Os Produtores. Principalmente por não se tratar de um remake. O novo longa é baseado na versão musical da Broadway de Primavera para Hitler (1967), escrito e dirigido por Mel Brooks. Na época de sua estreia, a primeira versão não foi um grande sucesso, apesar de ter levado o Oscar de Melhor Roteiro Original. Três décadas depois, Brooks ressuscitou o material, adicionou algumas canções e o colocou nos palcos, abrindo caminho para um resultado sem precedentes: foram 12 Tonys (o Oscar do teatro norte-americano) conquistados, um recorde! E isso só poderia ter uma conseqüência – a volta às telas!
Porém, o Os Produtores que vemos agora sofreu durante todas essas passagens. Inferior ao filme original, o novo produto não consegue evitar sua aparência teatral, o que certamente provoca cansaço na sala de cinema. As cenas musicais são bem coreografadas e as músicas envolvem, mas apenas no início. A excessiva duração de algumas delas ameaça o tédio, enquanto que em outros movimentos talvez devessem ter sido melhor pensados visando as possibilidades cinematográficas. O ritmo é irregular, e o desenvolvimento dramático fica comprometido em diversas ocasiões. A escolha da novata Susan Stroman – em seu único trabalho como diretora até hoje – manteve o bom ambiente – afinal, ela respondia também pela peça – mas alijou o filme de soluções mais visuais e inventivas.
A história, no entanto, continua a mesma de trinta anos atrás. Um produtor de teatro falido (Nathan Lane, hilário) encontra um contador (Matthew Broderick, mantendo o mesmo pique do parceiro) com uma idéia genial: uma produção que propositadamente fracassasse poderia render um lucro ainda maior do que outra que encontrasse o sucesso. Para tanto, os dois vão atrás do pior texto já escrito, contratam um diretor incompetente e atores medíocres e, com esse grupo, decidem montar o fiasco anunciado. A peça é a tal Primavera para Hitler, que, ao tratar o antigo líder nazista como herói é encarada como deboche, levando o público às gargalhadas. E, ao invés do desastre prometido, o que se tem são críticas elogiosas, apontando a montagem como a melhor comédia da temporada. E o plano acaba tendo um desfecho exatamente oposto ao que se esperava.
Mantendo o bom padrão de alguns musicais da mesma época, Os Produtores consegue ser superior ao equivocado O Fantasma da Ópera (2004) graças ao bom humor e ao talento dos seus protagonistas, mas está distante da inventividade, competência e maestria apresentada por obras como Evita (1996), Moulin Rouge (2001) e Chicago (2002), por exemplo. A versão aqui apresentada mantém muitas das piadas, o visual, as canções e ainda conta com alguns adendos de luxo, como Uma Thurman (deslumbrante) e Will Ferrell (indicado ao Globo de Ouro como coadjuvante, numa das quatro indicações que o filme teve – Melhor Filme em Comédia/Musical, Canção e Nathan Lane como Ator). Mas não consegue evitar um certo desconforto – talvez por não estar no seu habitat natural – que só tende a aumentar à medida que a trama vai se desenrolando.
Mesmo assim, é um programa que preserva seu interesse e justifica maiores curiosidades, ainda que funcione melhor como complemento para aqueles que conhecem o longa original e especulam sobre outras possibilidades para o texto, e acima de tudo para quem não teve a oportunidade de conferir o trabalho feito nos palcos. Afinal, era lá onde o espetáculo estava, de fato, no seu lar. Diverte, emociona e entretém, mas não dura tanto na memória quanto uma apresentação ao vivo poderia proporcionar. Por tudo isso, por mais estranho que possa ser, ainda mais se levarmos em conta onde tudo isso começou, este novo Os Produtores não passa de um peixe fora d’água.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 6 |
Francisco Carbone | 3 |
Wallace Andrioli | 5 |
Victor Hugo Furtado | 6 |
Adriana Androvandi | 4 |
Jorge Ghiorzi | 5 |
MÉDIA | 4.8 |
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