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Sinopse

Rory e Cobby são parceiros relutantes: um pai desesperado e um ex-presidiário que são colocados juntos para roubar os ganhos ilícitos de um político corrupto. Mas quando o assalto dá errado, os dois se veem envolvidos em um turbilhão caótico, perseguidos não apenas pela polícia, mas também por burocratas e chefes do crime.

Crítica

Menos uma manifestação de arte e cultura e mais uma ação entre amigos, Os Provocadores é um exemplo do desespero da AppleTV+ em construir um catálogo 100% original para seus assinantes. Se no âmbito das série a plataforma tem registrado bons acertos, no que diz respeito aos filmes seus resultados são mais tímidos (e antes que alguém diga que entre seus esforços está No Ritmo do Coração, 2021, o único longa feito para streaming a levar o prêmio principal no Oscar até o momento, um esclarecimento: a lojinha da maçã apenas assina a distribuição deste título, e somente nos Estados Unidos, tanto que no Brasil ele se encontra disponível em um outro serviço). Aqui, no entanto, o catalizador é o galã (já bem envelhecido, aliás) Matt Damon: ele foi astro do primeiro sucesso do diretor Doug Liman (A Identidade Bourne, 2002), foi produtor do filme que deu o Oscar para o amigo Casey Affleck (Manchester à Beira-Mar, 2016) e estrelou a comédia que fez com que a colega Hong Chau despertasse atenções em Hollywood (Pequena Grande Vida, 2017). E dessa reunião de velhos conhecidos sai uma aventura à moda antiga, que demora um pouco para engrenar, mas quando consegue, garante um ou outro momento de legítimo entretenimento.

Este é o segundo projeto em menos de um ano de Doug Liman feito direto para o streaming. O anterior, o remake Matador de Aluguel (2024), ainda carregava alguns dos seus maneirismos narrativos, como uma edição picotada e um herói solitário enfrentando o mundo que cai sobre suas costas. Com Os Provocadores, no entanto, ele tem apenas um papel a cumprir: limpar a frente e deixar os dois amigos – Casey é irmão de Ben Affleck, parceiro de Damon de décadas, e o trio se conhece desde os primeiros trabalhos de suas carreiras – fazer o que sabem melhor. A química entre eles é inegável, e assim que as bobagens do roteiro providenciado pelo estreante Chuck MacLean (em parceria com o próprio Affleck) ficam estabelecidas, ambos precisam apenas desfilar carisma e entrosamento em uma comédia de erros na qual qualquer acerto é mais obra do acaso do que resultado dos seus esforços enquanto personagens.

Rory (Damon) e Cobby (Affleck) são dois vigaristas de segunda classe chamados por um aproveitador de ocasião (Michael Stuhlbarg, ultrapassando a linha do exagero) para dar um golpe que tinha tudo para apresentar problemas – e assim se sucede. A intenção deles é roubar o montante acumulado pelas generosas doações durante a festa de reeleição do prefeito de Boston (Ron Perlman, que pegou bem o espírito da brincadeira). Porém, é tudo tão improvisado e sem planos alternativos, que era quase impossível que o intento funcionasse. Pra começar, a celebração da vitória vira um enterro dos ossos quando o oponente é que sai vitorioso nas urnas. Segundo, os bandidos chegam atrasados ao local onde o dinheiro estaria, e o pouco que fora reunido já não mais se encontra. Depois, o lugar, que deveria estar vazio, continua cheio de partidários lamentando a derrota. E os equívocos não se cansam de se somar um após o outro.

Um dos acertos é trazer Ving Rhames, como um “solucionador de complicações”, tão ameaçador quanto o Marcellus Wallace que viveu em Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994), mas com a mesma função de Harvey Keitel no clássico de Quentin Tarantino. Suas participações são pontuais, mas apenas a citação do seu nome é suficiente para que qualquer um dos envolvidos entenda que, a partir daquele instante, a situação piorou de vez. Chau, como a psicóloga de Damon, é outra presença positiva, pois sua determinação em impedir que seu paciente acabe morto a coloca como refém (ainda que de forma voluntária) e até mesmo contraventora (de maneira disfarçada), garantindo mais uma camada de absurdos para um enredo que explora o improvável do começo ao fim.

Sem provocar ninguém – o título brasileiro não faz o menor sentido, ainda que o batismo original não seja muito melhor – Os Provocadores é uma brincadeira cara e barulhenta, mas também não chega a ofender, restringindo suas repercussões ao desenrolar dos acontecimentos, limitando-se ao que a ficção se encarrega de oferecer. Damon e Affleck exploram com gosto dois tipos completamente inaptos – ao contrário dos personagens que defenderam em Onze Homens e um Segredo (2001), por exemplo, o que propõe um comentário curioso a respeito de suas versatilidades enquanto intérpretes – para as missões que assumem, e a maneira como conseguem se desvencilhar de cada imbróglio no qual se envolvem, contando com a sorte e a falta de tato dos demais, é a chave de um filme que sabe brincar com a própria insignificância, sem exigir demais e entregando na mesma medida de sua ousadia. Ou seja, bom enquanto dura, e nada além disso.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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