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Crítica


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Sinopse

Um grupo de empregados circenses é explorado. Didi, o líder natural dele, se apaixona por uma artista.

Crítica

Baseado na peça teatral Os Saltimbancos, de Sergio Bardotti e Luis Enríquez Bacalov, por sua vez uma adaptação do conto Os Músicos de Bremen, dos Irmãos Grimm, Os Saltimbancos Trapalhões é o melhor longa-metragem da trupe formada por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. A sequência inicial, cuja função é apresentar os protagonistas e indicar o tom cômico-romântico predominante, mostra o quarteto a bordo de um calhambeque multicolorido em direção ao circo Bertholdo, no qual eles trabalham. A precisão do roteiro nos permite saber em pouco tempo quem é quem e quais papeis cada um desempenha na trama, sem muitas dúvidas. Temos Carina (Lucinha Lins), interesse amoroso de Didi; o Barão (Paulo Fortes), pai dela e dono do picadeiro; Frank (Mário Cardoso), trapezista galã que fisga o coração da mocinha; e a dupla de larápios com ares de vilania, formada pelo mágico Satã (Eduardo Conde) e por Tigrana (Mila Moreira), sua assistente e comparsa. A voz de Chico Buarque está presente em boa parte das músicas que ora apenas auxilia, ora se torna parte fundamental da história.

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Os Trapalhões são uma espécie de faz-tudo do lugar, ralando nos bastidores para os artistas brilharem à beira da ribalta, próximos dos holofotes. Sem dinheiro, eles comem macarrão diariamente, condição melhorada apenas quando Mussum e Zacarias, com seus talentos e carisma habituais, conseguem roubar galinhas ou coelhos para quebrar a rotina. Paralelo ao desenho do núcleo antagônico, marcado pela ganância e a falta de escrúpulos, surge o contraponto, ou seja, a delineação da bondade representada por esses trabalhadores bem-humorados que, por conta de uma ironia do destino, são alçados à condição de salvadores da pátria. O riso da plateia e dos colegas não deixa dúvidas quanto a quem deve ocupar o centro do espetáculo, já que uma mera trapalhada, responsável por expor ao ridículo o mágico com cara de poucos amigos, é suficiente para Didi, Dedé, Mussum e Zacarias passarem da invisibilidade ao estrelato. Sem noção disso, acham que servir ao Barão é um privilégio.

Embora não possa ser considerado estritamente um musical, o filme possui ao menos duas passagens em que a ação é interrompida para a execução de números musicais.  Em Piruetas, Chico Buarque e os quatro cantam o dia a dia do local, exaltando a mística circense, fazendo piada até mesmo das dificuldades enfrentadas pelos artistas. Já em Hollywood, Lucinha Lins se veste à lá Liza Minnelli em Cabaret (1972) a fim de apresentar o sonho de conhecer a Meca do cinema norte-americano, lugar idealizado como um oásis. Os Saltimbancos Trapalhões é reverente, engraçado, reflexivo e, por vezes, dramático. Suas gags, tanto as verbais quanto as físicas, executadas com maestria, condensam como nenhum outro os predicados que colocaram Didi, Dedé, Mussum e Zacarias entre os mais destacados comediantes do Brasil, na televisão e no cinema.  Renato Aragão, que se sobressai em outros longas dos Trapalhões de maneira desproporcional, aqui cede espaço para os colegas brilharem tanto quanto ele.

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Em meio à celebração da pureza, surgem a crítica e a alegoria política, características mantidas do original, embora noutro contexto. A opressão do patrão que, inclusive, suscita gratidão e pena nos funcionários explorados – em determinada cena, por exemplo, os Trapalhões começam reivindicando aumento e acabam fazendo uma vaquinha para ajudar o “falido” circo – denuncia a falta de consciência social. Também chama atenção a ousadia de aludir à violência da ditadura militar enquanto o regime vigorava, por meio do sequestro de Frank, considerado subversivo por mostrar aos saltimbancos que eles estavam sendo enganados. Os Saltimbancos Trapalhões tem algumas sequências e imagens inesquecíveis, como as cantorias encenadas com inteligência e simplicidade, as sombras dos que caminham sobre a lona do circo, Mussum e Zacarias sendo perseguidos pelo cachorro de estimação que eles cogitaram comer, e o encerramento, no qual o choro do burro cenográfico externa a tristeza momentânea do palhaço responsável por fazer o bem triunfar e o espetáculo continuar.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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