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Crítica


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Sinopse

A vida e a história de Fernande Grudet, mais conhecida como Madame Claude. Ela comandou um dos principais bordeis de luxo de Paris na década de 1960 e teve muita influência na região.

Crítica

Na autobiografia que Woody Allen lançou em 2020, em certo momento ele comenta quando foi acusado de utilizar os serviços de garotas de programa, apenas para que, depois, tenha sido descoberto se tratar de um homônimo do cineasta nova-iorquino. A isso, ele reage com uma indagação: “o que pensavam a meu respeito, que vivia numa sucursal da Madame Claude?”. É uma frase rápida, mas a referência é suficiente para que o leitor – e espectador – perceba o tamanho da influência que essa figura teve na Europa e nos Estados Unidos na segunda metade do século XX. A trajetória dessa celebridade underground é resgatada em Os Segredos de Madame Claude, um filme que tinha tudo para ser interessante, mas que acaba ficando aquém das expectativas. Isso por não apostar na ousadia e determinação que essa sobre a qual se debruçam demonstrou ter em vida.

Poucos se sabe ao certo sobre a real origem de Fernande Grudet, que se tornou conhecida mundialmente sob o pseudônimo de Madame Claude. Quando o longa escrito e dirigido por Sylvie Verheyde (Confissões de um Jovem Apaixonado, 2012) começa, o espectador é posicionado no final dos anos 1960, período que a protagonista já desfrutava de uma certa fama – com tudo de bom e de ruim que isso poderia representar. Afinal, se por um lado volta e meia ela e suas meninas se viam agitadas na eminência de uma visita de astros como Marlon Brando, eram também observadas de perto pelos órgãos de vigilância e controle político e policial do governo francês. Muitos dos principais nomes da república – e até de países vizinhos – passavam pelas camas organizadas por Claude e suas garotas. Por isso, ter acesso privilegiado a essas pessoas – e permitir que alguns sejam sorrateiramente registrados em imagens e sons – durante esses encontros era algo de imensa relevância dentro do jogo social, ainda mais diante de todas as artimanhas transcorridas pelos bastidores.

Como governos se sucedem e os poderes são alternados, não é de se estranhar que os amigos de Madame Claude de hoje tenham se tornado inimigos amanhã, e vice versa. À medida em que ia aumentando sua influência – chegou a coordenar uma aglomerado de mais de 300 prostitutas por toda Paris e também pelas principais cidades do interior francês – ia se mostrando, também, cada vez mais frágil a ataques de terceiros. No filme, esse ponto fraco é representado pela figura de Sidonie (Garance Marillier, de Grave, 2016), a recém-chegada que logo se revela tanto uma fiel escudeira como uma ameaça em potencial. Sensações dúbias que não tardarão em se concretizar, para os dois lados da moeda. Enquanto isso transcorria, Claude era quem sentia os riscos do que era feito e, principalmente, de tudo que representava. Um estigma que carregou consigo por muitos e muitos anos.

Quem for atrás de Os Segredos de Madame Claude esperando curiosas e apimentadas histórias de alcova, certamente irá se decepcionar. Verheyde deixa claro estar mais interessada nos ‘segredos’ do que da Madame Claude em si, cujo retrato é apresentado de modo irregular, quando não apático. Se no começo se apresenta como uma mulher firme e determinada, que ‘abandonou o amor’ há anos por só ter tempo para os negócios, assim que se envolve com alguém passa a se comportar como uma garota adolescente, com direito a crises de ciúmes e quebradeiras descontroladas pelo quarto do rapaz. Aliás, como pode uma empresária tão poderosa ser dada a chiliques constantes e demonstrações de instabilidade emocional – se verificam dois ou três desses momentos ao longo da narrativa? Uma visão misógina, que serve apenas para indicar que, por ser mulher, também era dada a sinais passionais, como se isso fosse tudo o que lhe faltava em sua vida.

Quanto aos tais segredos, esses nunca chegam a ser bem explorados ou introduzidos em cena com maior impacto. Sabe-se apenas que políticos e espiões estavam por todos os lados, e ela não podia confiar nem na própria sombra. E quando a confusão aumentava demais, a cineasta trata logo de apresentar narrações cansativas para explicar aquilo que as imagens não davam conta. Ao desperdiçar tanto o talento de Karole Rocher (Polissia, 2011), que surge no papel-título sem muitas nuances, como das principais figuras masculinas (Roschdy Zem, Pierre Deladonchamps, Paul Hamy), este é um filme que talvez cumpra parte das suas intenções apenas como porta de entrada a um universo tão proibido quanto estimulante, sem nunca, no entanto, alcançar o todo que esse contexto merecia.

 

 

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
5
Francisco Carbone
5
MÉDIA
5

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