Os Sonhos de um Sonhador

Crítica

Cinebiografias de músicos viraram mania entre as produtoras brasileiras desde que longas como Cazuza: O Tempo Não Para (2004) e 2 Filhos de Francisco (2005) estouraram nas bilheterias nacionais. Desde então praticamente todo ano vem, ao menos, um filme com esta temática. Com tantos lançamentos deste subgênero já instaurado, é claro que a qualidade varia. Infelizmente, Os Sonhos de um Sonhador: A História de Frank Aguiar não pode ser descrito como um primor deste tipo de realização.

O longa foi exibido no Cine PE 2013, três anos após sua finalização, e só agora chega aos cinemas. O roteiro é básico: seguimos a infância, adolescência e vida adulta do artista em busca de um lugar na música até conseguir estourar e se tornar um grande sucesso. Porém, sua trajetória parece “fácil” à medida em que as situações vão sendo colocadas na tela. Tudo se resolve muito rápido e, muitas vezes, com humor fora de ora, transformando o que poderia ser um drama bem lapidado (afinal, a história de Frank Aguiar é recheada de episódios interessantes) em um filme que parece não se decidir em qual gênero se encaixar.

Um dos expoentes do forró nacional, o cantor e tecladista Frank Aguiar hoje segue carreira política como vice-prefeito de São Bernardo do Campo, o que impediu que o longa (do qual participa, inclusive) tivesse incentivos de lei fiscal. Por isso, é constante o merchandising dos patrocinadores ao longo da projeção, o que causa uma sensação de amadorismo no produto final. Mas não é só isto que incomoda. A trilha constante de fundo chega a ser irritante por ser utilizada em qualquer momento, como se houvesse a necessidade de explicar a toda hora a coletânea de sucessos do cantor para quem não o conhece. E, realmente, hoje em dia, seu nome já não é o mesmo de tempos atrás, ainda mais com a diminuição na sua trajetória musical.

O projeto comandado por Caco Milano tem bons momentos, especialmente pela bela fotografia de Uli Burtin e a participação do já finado Chico Anysio como o empresário Alemão, que rouba a cena toda vez que aparece. Isto também se deve à fraca atuação de Gustavo Leão como protagonista. Percebe-se que o ator se esforça, mas não consegue nem reproduzir um sotaque com consistência ou manter a dramaticidade necessária para alguém que precisou batalhar muito para chegar onde está. Se for comparar com outros nomes que já viveram papeis do gênero, como Daniel de Oliveira como Cazuza no filme de 2004 ou Thiago Mendonça como Renato Russo em Somos Tão Jovens (2013)... bom, então é melhor nem comentar.

No fim das contas, o filme não consegue nem atingir um público maior que o regional, já que Frank não só não é tão conhecido pela massa atualmente como também seu nome nunca foi de abrangência nacional, mesmo com 10 milhões de álbuns vendidos. Sua trajetória se torna genérica demais com o que é mostrado na tela, isto que ele ainda participa do longa. É de se imaginar se a história seria mais aprofundada ou menos ainda caso seu nome não estivesse nos créditos de produção. Uma pena, pois poderia ter rendido muito mais.

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Matheus Bonez

é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.

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