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Sinopse

Um nordestino vaga pela paisagem desértica do norte do Brasil, que sofre com a seca e a fome. Até que encontra amigos que também buscam cada um por uma coisa diferente, e todos resolvem ir atrás do Mágico de Oróz, que deverá ajudá-los a encontrar um monstro que jorra água pela boca e que pode então acabar com a seca.

Crítica

O ano de 1983 foi problemático para os Trapalhões. Depois de desavenças dentro do grupo, Dedé, Mussum e Zacarias romperam com a Renato Aragão Produções, empresa de seu colega que comandava os produtos da marca da trupe. Com a cisão, o trio formou a DeMuZa Produções e deu pontapé em um longa-metragem sem a presença de Didi: Atrapalhando a Suate (1983). Renato Aragão, por sua vez, continuou com o programa de tevê e estrelou, ao lado de Sérgio Mallandro, O Trapalhão na Arca de Noé (1983). O resultado de ambas as empreitadas foi bastante aquém de qualquer expectativa. Felizmente, o afastamento não durou muito. Seis meses depois da briga, o quarteto estava de novo junto, coproduzindo seu novo filme, Os Trapalhões e o Mágico de Oróz. A separação parece ter ajudado. Dirigido por Dedé Santana e Victor Lustosa, o musical é um dos momentos altos da trupe no cinema.

Depois do bom resultado de Os Saltimbancos Trapalhões (1981), pareceu ser uma boa ideia convidar um músico de fora do grupo para assinar as músicas do filme. Para isso, Arnaud Rodrigues foi convocado e, além de compor as canções, também atua como o miserável Soró, amigo de Didi e Tatu (José Dumont). O trio vive na seca do Nordeste e sonha com um futuro melhor. Em sua jornada, encontram pelo caminho o Espantalho (Zacarias), que deseja um cérebro para chamar de seu, e o Homem de Lata (Mussum), que gostaria de um coração batendo em seu peito. Ao chegar em Oróz, encontram uma realidade ainda mais dura. A água, que é escassa, é vendida pelo coronel da região, Ferreira (Maurício do Valle), em troca de dinheiro ou do título de eleitor. Nem o delegado da cidade, o medroso Leão (Dedé Santana), faz algo pela população. Após uma confusão com o padeiro da cidade, Soró e Tatu são presos e sua soltura só acontecerá se os Trapalhões partirem daquele lugar e encontrarem água. No caminho, eles conhecerão o misterioso Mágico de Oróz (Dary Reis), que lhes ajudará em sua missão.

Os Trapalhões e o Mágico de Oróz é uma das produções mais redondas da trupe. Aqui, as canções não são jogadas a esmo, em momentos para vender uma participação especial descartável. Todas as canções têm importância na trama e, se não fazem a ação andar para frente necessariamente, ao menos dizem mais sobre cada personagem. É o caso da canção que se repete durante toda a trama, em que cada um dos protagonistas ganha voz para falar de suas agruras. Ou da canção Conseguimos, que capricha no mágico e no imaginativo, colocando o quarteto dentro de um tênis motorizado, indo de volta a Oróz.

Nesta produção, o grupo também parece estar mais antenado no social. Ao colocar sua câmera apontada para a seca no Nordeste, faz uma crítica louvável aos governos que nada fizeram pelo sofrido povo de lá, além de tecer uma nada subliminar denúncia dos poderosos homens que usam de seu cargo ou função para buscar sua eleição. O chamado voto de cabresto é exposto pela produção, que consegue equilibrar bem os momentos de palhaçadas característicos dos Trapalhões com estas críticas. O tom mais sério é incluso logo de começo, com uma narração escancarando a situação de abandono do povo nordestino. Segue um trecho: “Diz o sofrido sertanejo, que a seca é a vida sem vida. Por mais que grite, este homem não consegue ser ouvido. Suas esperanças vão se diluindo à medida em que aumenta a surdez dos homens insensíveis. E o povo carece da prece, pois acredita que o Nordeste não é uma terra sem Deus”.

Se temos este lado mais sério, preocupado com o povo, também temos as piadas costumeiras dos Trapalhões. Afinal de contas, não seria a mesma coisa sem o humor de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Aqui, este último tem mais chance de brilhar como o matreiro Espantalho, embora Mussum também seja destaque como o Homem de Lata movido ao seu tão amado “mé”. Se Dedé geralmente é o galã do grupo, aqui a coisa não é diferente, com ele fazendo par com uma novata Xuxa Meneghel. E Didi é uma Dorothy bem-humorada, que coloca todos nesta jornada atrás do impossível.

Como diversas produções dos Trapalhões, o deus ex machina é realidade aqui, com resoluções miraculosas e a presença de uma força superior que modifica o status quo, transformando a realidade de todos. Em um filme com este lado fantástico tão presente, isso não chega a incomodar tanto. A melhor notícia ao assistir novamente Os Trapalhões e o Mágico de Oróz é que, diferentemente de muitos dos filmes do quarteto, este não envelheceu mal. Consegue cativar e fazer com que o público assovie ao final sua bela trilha sonora.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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