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Crítica


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Onde Assistir

Sinopse

Um treinador pouco ortodoxo é contratado para dirigir um clube de futebol que passa por maus bocados. O time reage e começa a ganhar repetidamente, mas talvez isso não seja bem o que esperavam os dirigentes.

Crítica

Depois de parodiar toda sorte de sucessos hollywoodianos, de adaptar ao seu estilo uma série de histórias universais, entre outros pontos de partida, os Trapalhões entraram nas quatro linhas do esporte mais popular do mundo, não por acaso, a paixão nacional do brasileiro. Em Os Trapalhões e o Rei do Futebol, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias interpretam funcionários do Independência Futebol Clube, time pressionado por uma série de derrotas e pela crise política. Dois candidatos à presidência do clube, o Dr. Velhaccio (José Lewgoy) e o Dr. Barros Barreto (Milton Moraes), disputam o poder nos bastidores, deixando de lado a nobreza do jogo. Cardeal (Renato Aragão), até então apenas roupeiro e atleta da várzea, é insolitamente escolhido para ser o novo técnico da agremiação, incumbido de elevar a moral dos jogadores e de conseguir as vitórias necessárias. Ele é ajudado pelos amigos Elvis (Dedé Santana), Fumê (Mussum) e Tremoço (Zacarias), além de contar com o apoio do jornalista Nascimento (Pelé).

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A começar pelos vilões, em Os Trapalhões e o Rei do Futebol predomina o tom cartunesco. A interação do Dr. Velhaccio com Edésio (Maurício do Valle), seu capanga, é semelhante àquelas vistas nos desenhos animados. Exemplo disso, o primeiro regularmente joga coisas no segundo por este não conseguir levar a cabo os planos maléficos contra o protagonista bom de coração. Renato Aragão reprisa, na essência, o papel já desempenhado por ele muitas vezes no cinema, o do herói apaixonado pela mocinha, cujo destino invariavelmente é salvar o dia e ver outro homem conquistar sua mulher amada. Dedé, Mussum e Zacarias aqui são figuras meramente ilustrativas, quando não decorativas, já que desta vez o roteiro não lhes dá espaço para participações efetivas. Restam-lhes momentos esparsos e curtos para o encaixe de gags engraçadas. Luiza Brunet, intérprete da dona do bar do Independência, interesse romântico de Cardeal, faz o que pode, mas não consegue disfarçar a pouca experiência como atriz.

Conduzido pelo experiente Carlos Manga – aliás, este foi o último trabalho dele como diretor cinematográfico – Os Trapalhões e o Rei do Futebol é bastante dependente do carisma de Renato Aragão, ator/comediante que toma excessivamente a dianteira, deixando pouco ao restante do elenco, incluindo seus colegas de tantos anos. As piadas são geralmente colocadas de maneira truncada, pouco orgânica, como quando Cardeal, em meio ao flerte com a bela e cobiçada morena, enfileira tiradas sem grandes efeitos cômicos. Inteligentes são as soluções visuais das quais Manga lança mão para aludir às partidas, sem efetivamente mostra-las. Sempre apoiado pelas narrações de cunho radiofônico, ele ora coloca o técnico desesperado na boca do túnel, ora mostra somente a festa após as vitórias. O recurso de informar a quantidade de gols marcados pelo número de chuveiros abertos no vestiário é simpático no início, mas depois se torna repetitivo, um sintoma da falta de criatividade do longa-metragem.

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A participação de Pelé é um capítulo a parte em Os Trapalhões e o Rei do Futebol. Em princípio tímido, Edson Arantes do Nascimento se solta gradativamente, chegando até mesmo a surpreender no papel do setorista entusiasmado com o trabalho de Cardeal e, mais para frente, peça importante à frustração dos planos malignos dos cartolas que colocam a ganância acima do espírito esportivo. A frágil dramaturgia e o subaproveitamento de talentos como os de José Lewgoy, Maurício do Valle, Dedé Santana, Mussum e Zacarias são responsáveis por fazer desse filme, no máximo, uma aventura ligeira para consumo rápido. Pena não haverem, durante os quase 80 minutos, outros momentos ao menos próximos de proporcionar a diversão garantida pela partida decisiva, na qual Didi calça as chuteiras e o rei do futebol as luvas de goleiro para disputar o caneco de campeão, isso com direito a escanteio cobrado e convertido em gol pelo mesmo jogador e um improvável tento de guarda-metas.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
4
Chico Fireman
4
MÉDIA
4

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