Crítica
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Sinopse
Durante mais de meio século Durvinha e Moreno esconderam sua verdadeira identidade até dos próprios filhos, que cresceram acreditando que os pais se chamavam Jovina Maria da Conceição e José Antonio Souto, nomes falsos sob os quais haviam reconstruído suas vidas. Durvinha e Moreno fizeram parte do bando de Lampião, o mais controverso líder do cangaço. A verdade só é revelada quando Moreno, então com 95 anos, resolveu dividir com os filhos o peso das lembranças e reencontrar parentes vivos, entre eles seu primeiro filho.
Crítica
Financiado pelo governo cearense, até como fomento à cultura local, Os Últimos Cangaceiros, documentário de Wolney Oliveira, mergulha na intimidade dos idosos que faziam o serviço do antigo cangaço, décadas atrás. O casal geriátrico de entrevistados, Durvinha e Moreno, contém tantas histórias que se torna quase impossível segurar as lágrimas já nos primeiros relatos. As cenas são cuidadosamente escolhidas, para causar choque nos espectadores.
Os relatos são francos, fruto de uma verdade entalada na garganta dos ex-combatentes por anos a fio, falas emocionais, que fazem lembrar a real identidade revolucionária do povo brasileiro, destacando a luta social, mas sem ignorar aspectos polêmicos, como a constante briga por vingança pessoal. O peso dos anos não aplacou o ideário do casal de avós.
É curioso e pontual notar as semelhanças dos acontecimentos ditos por Moreno com a trama de Corisco e Satanás em Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha, no qual se nota a exploração do trabalhador rural como algo comum e corriqueiro da parte dos coronéis patronais que mandavam e desmandavam no sertão nortista. Os embates entre eles e os membros da polícia, chamados de Soldados das Forças Volantes, ou apenas ‘macacos’, eram homéricos, carregados de um romantismo inevisto na atualidade, sem qualquer resquício da banalização vista hoje nos confrontos entre os marginalizados e o braço forte da lei.
O embate físico e armamentista é carregado de simbolismo ideológico, não só no combate entre os agentes da lei e os marginais, mas também na relação com o governo de Getúlio Vargas e seu Estado Novo. O panorama político é muito bem assistido, condizente com a expectativa da crítica de cinema nacional, especialmente em matéria de equilíbrio entre pedaços inteiros emocionais e uma quantidade absurda de informações, sem deixar o documentário enfadonho, apesar do grosso conteúdo mostrado.
O fator mais importante na feitoria de Wolney Oliveira é a humanização dos ícones, mostrando uma face pouquíssima conhecida dos dois senhores, hoje, já falecidos, exemplificando como era uma época através do relato dos mesmos, sem qualquer rendição heroica e sem aplacar tanto os crimes por eles e por seu bando, assim como não demoniza os ditos subversivos seguidores de Lampião e Maria Bonita. A rica intimidade dos cangaceiros é muito bem retratada na curta duração de Os Últimos Cangaceiros, e serve como importante registro visual de cunho bibliotecário e histórico, sem descuidar do lado pessoal do movimento.
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