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Sinopse

Ao sair da prisão, Nas retorna a seu bairro, Pigalle, onde encontra seus amigos e seu irmão mais velho, Arezki, dono do bar Le Prestige. Nas está determinado a refazer seu nome e Le Prestige poderá lhe servir de trampolim.

Crítica

A trama de Os Últimos Parisienses se passa no bairro de Pigalle, onde fica o Mouling Rouge, em Paris. A geografia é realmente importante aos cineastas Hamé Bourokba e Ekoué Labitey, haja vista a disposição para ambientar-nos a cada deambulação de alguém pelas ruas da localidade. Todavia, mais que o aspecto estrutural, sobressai nessa observação, nas bordas da imagem geralmente centralizada num personagem estrangeiro deslocando-se em busca de algo que viabilize sua sobrevivência, um espaço tomado de imigrantes que, então, transformam a paisagem francesa, lhe conferindo multiculturalismo. O protagonista do filme é Nasser (Reda Kateb), médio-oriental de nascimento, recém-solto da cadeia, que trabalha no bar do irmão mais velho para garantir o cumprimento das normas da condicional. Ele é um sujeito inquieto, cercado de amigos envolvidos com alguma atividade ilícita, das, em tese, inocentes às mais perigosas. O despojamento da encenação carrega o todo de organicidade.

A câmera na mão robustece a perspectiva naturalista dessa radiografia social, sem recorrer a alardes ou demarcar excessivamente suas intenções. Os realizadores fornecem informações aos poucos, dissipando a bruma que encobre pessoas e circunstâncias. Gradativamente, percebe-se a animosidade existente entre Nasser e o primogênito, Arezki (Slimane Dazi), cujo semblante fechado denota a preocupação com o comportamento do caçula. Todavia, Os Últimos Parisienses adota um percurso errático para desenvolver os personagens, optando pela abertura frequente de novas possibilidades, como as tentativas de retorno ao mundo da contravenção ou o apoio absolutamente suspeito de um investidor que, sem mais aquela, decide financiar festas noturnas regadas a bebida e prostituição. São criados diversos subplots pretensamente para nutrir o conjunto, mas eles acabam como pontas soltas, exatamente porque há uma frouxidão na forma como se tenta urdi-los e amarrá-los em unidade.

A despeito das excelentes interpretações de Reda Kateb e Slimane Dazi, Nasser e Arezki permanecem num meio termo entre a jornada particular e a função figurativa, uma vez que é evidente a vontade de, alimentado pela experiência de ambos, discutir a vida do estrangeiro na França. Também desperdiçada é a presença de Mélanie Laurent interpretando a assistente social encarregada de manter o protagonista na linha. Nem mesmo o envolvimento amoroso, que chega a propiciar uma cena de embate familiar forte, é capaz de justificar sua presença. Os Últimos Parisienses parece acanhado demasiadamente para dizer a que veio, a que tipo de observação se presta com mais acuidade. As andanças pelas casas noturnas e rodas de bate-papo, nas quais invariavelmente a transgressão aparece, são insuficientes para formatar uma visão crítica e relevante. O longa-metragem, portanto, se sustenta nas atuações e numa construção imagética inteligente e bonita. É pouco.

Hamé Bourokba e Ekoué Labitey, em vários momentos, apresentam gente se mantendo como pode nas ruas, mais especificamente apelando a truques enganadores, ou mesmo furtando turistas desavisados. Entretanto, essa visão pessimista, direcionada especificamente à situação de imigrantes e seus descendentes, não possui elementos suficientes para se configurar em algo considerável, por exemplo, numa observação contundente das políticas francesas que dificultam a vida dos que vêm de fora, nem no delineamento do comportamento desses forasteiros num território diferente do seu natal. Os Últimos Parisienses conserva logo abaixo da superfície, ensaiando eclodir, uma série de potencialidades, porém, não as acessando com astúcia, com isso frequentemente incorrendo em banalidade ou gratuidade. O trambique se destaca como ferramenta de sobrevivência, mas tampouco é alimentado como poderia, a fim de despontar enquanto cerne dessa aproximação de uma realidade bem atual.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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