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Sinopse

Bill, Marta e o pequeno filho do casal, Hal, estão passando o domingo em casa quando chega a visita inesperada de Mike e Tony. Eles são velhos conhecidos de Bill; alguns anos atrás, no Vietnã, estavam no mesmo pelotão. Também se tornaram partes opostas de uma corte marcial, algo que nunca ficou esclarecido. O que aconteceu no Vietnã, e qual é a razão para a presença dos dois recém-chegados?

Crítica

Delação e traição são duas palavras que andaram sempre juntas no pensamento de Elia Kazan. Após o polêmico episódio em que teria entregado colegas comunistas durante o macarthismo, o cineasta utilizou o cinema como uma forma de pedir desculpas pelo ato. Porém, se em Sindicato de Ladrões (1954), seu filme mais intenso sobre o tema, a delação era algo justificável e motivo de orgulho para o protagonista eternizado por Marlon Brando, em Os Visitantes (1972), o delator, também figura principal da história, é retratado não como um herói, mas sim fraco em suas decisões – mesmo que o motivo de tal “traição” seja mais do que justo.

O longa do cineasta, seu penúltimo e também numa fase em que ele já estava mais dedicado à literatura do que à sétima arte, foi o primeiro filme americano sobre a Guerra do Vietnã e, na verdade, trata de algo grave que ocorreu durante uma missão. Bill (James Woods, em sua estreia no cinema) vive com a mulher e o filho até receber uma visita inesperada de Mike (Steve Railsback) e Tony (Chico Martinez), seus ex-companheiros de pelotão. O motivo não é bem explicado, mas gera preocupação em Bill.

Filmado com uma pequena equipe e baixo orçamento, Os Visitantes é um filme tenso, apesar de sua curta duração. Demora-se para sabe o que estes dois visitantes querem com Bill, mas todos os diálogos que antecedem o clímax são permeados de olhares desconfiados e meias palavras. Algo está para acontecer e as expressões culpadas de Bill deixam transparecer que não é nada positivo. O único que parece gostar de cara da dupla de ex-militares é o sogro de Bill, que, em contraponto, acredita que o genro é um fraco, aumentando ainda mais o clima de tensão que surge no local.

O roteiro foi escrito pelo filho de Kazan, Chris, e tem uma violência “classuda”, assim digamos, pois utiliza muito mais a atmosfera de suspense do que sangue por si só para fazer uma denúncia contra os horrores cometidos na guerra. Seria um tremendo spoiler revelar por qual motivo Bill denunciou seus ex-colegas, mas é fato que teve suas razões, mesmo que a culpa (tão bem transmitida pelo novato Woods) deixe claro que seu posicionamento não é de total segurança.

Talvez um dos filmes menos vistos do cineasta, Os Visitantes é uma obra-prima a ser descoberta. Kazan mostra, mais uma vez, porque era mestre em revelar os sentimentos ambíguos de seus personagens, destrinchando suas personalidades em diálogos e posicionamentos de câmera como nenhum outro. Além de tudo, é um retrato ainda contemporâneo de um dos conflitos mais injustos ocorridos por influência dos norte-americanos. Povo que, como era de praxe, o diretor gostava de criticar. E com muita propriedade.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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