Crítica
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Sinopse
Crítica
A tragédia está desenhada desde o princípio nesta adaptação da famosa peça de William Shakespeare escrita por volta de 1603. O cortejo fúnebre de encapuzados carrega os esquifes de Otelo (Orson Welles) e Desdêmona (Suzanne Cloutier), casal desgraçado pelas artimanhas do ferino Iago (Micheál MacLiammóir), o alferes do general de fama respeitada em toda Veneza por sua bravura. Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes, Otelo é Shakespeare acrescido da exuberância visual de Welles, um mergulho vertiginoso na danação do homem que se deixa levar pelas palavras cheias de veneno de quem almeja sua ruina. Do original, o diretor preserva o essencial, os meandros da história do militar que precisa inicialmente provar aos olhos do sogro, bem como da sociedade veneziana, seu relacionamento na condição de algo autêntico, não resultado de feitiçaria ou algo que o valha.
Partindo para o Chipre numa missão especial, Otelo é atraiçoado por Iago, cujos estratagemas enredam uma série de outros personagens. A câmera acompanha essa serpente pelas vielas de Veneza, ressaltando a opulência dos cenários, a riqueza dos detalhes, sobretudo à luz do dia. Os ditos de Iago envenenam Rodrigo (Robert Coote), principal títere de seus planos. A ação se desloca para um castelo à beira mar, local onde Otelo e seu exército comemoram a mais recente conquista. Antes defensor ferrenho de sua paixão, para isso, inclusive, vencendo a autodeclarada pobreza oratória, o Mouro vira um homem colérico, pois levado a acreditar na traição de Desdêmona com Cássio (Michael Laurence). As águas do mar revolto açoitando os muros da fortaleza simbolizam a torrente de violência que se insinua e logo irrompe. Os ângulos inusitados dão conta de conferir ainda mais pungência às imagens.
Otelo é uma produção suntuosa, na qual a virtude está a serviço da expressividade perseguida por Welles, aliás, marca registrada de seu cinema barroco por excelência. O contraste entre luz e sombra é quase onipresente, algo que traz para o plano visual o embate que se adensa no interior de Otelo. As palavras maldosas e as manipulações de Iago, assim como as falsas evidências da infidelidade de Desdêmona, inflamam os ciúmes de Otelo, antes um homem tão devotado ao amor quanto à causa da república, depois alguém devastado pela humilhação, sentindo-se apunhalado pela fonte do carinho responsável por amenizar sua rotina de guerra. Incitado cada vez mais por Iago, o Mouro não vê outra solução para ter restituída a honra, senão a morte de Desdêmona.
Grande filme, Otelo expõe a ourivesaria de Welles no que diz respeito à imagem, à montagem - muitas vezes invisível, por conta do uso engenhoso da profundidade de campo, - e à exploração eficaz da palavra. O cineasta mantém, como sinal de reverência, a beleza da prosa shakespeariana, contribuindo com sua capacidade de significar por meio dos aspectos visuais. Como ator, Welles encarna Otelo nas dimensões ternas e nefastas, valendo-se de seus recursos dramáticos, nascidos no rádio e no teatro (onde muito encenou a obra do Bardo), aprimorados no cinema, para mostrar essa oscilação que possibilita o embate violento entre carinho e ódio. O olhar apaixonado dá lugar à fúria, estado reiterado pela voz estrondosa de Welles, outro dos elementos que conferem ao protagonista o status de força da natureza, a quem apenas a morte ou o amor podem influenciar determinantemente.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 10 |
Ailton Monteiro | 10 |
MÉDIA | 10 |
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