Crítica

Os zumbis nunca estiveram tão em alta desde que George Romero lançou o filão há décadas no cinema. Dos anos 2000 até agora, o que não falta são diversas versões do gênero. Se Extermínio (2002), de Danny Boyle revitalizou os “monstros” (se é que podemos chamá-los assim) nas telonas, o seriado The Walking Dead consagrou o aspecto humano dos personagens. Inclusive o cinema brasileiro tem sua representação com o gaúcho Porto dos Mortos (2010). Faltava uma versão queer que chegou pelas mãos do sempre polêmico Bruce La Bruce, mesmo que o Otto tenha sido lançado lá fora em 2008.

O Otto do título é um jovem homossexual e vegetariano que se torna zumbi e vaga pelas ruas de Berlim em busca de sexo e comida. De preferência, na mesma pessoa. Ele acompanha uma diretora que quer retratar sua vida e também dos novos zumbis que estão surgindo. E, neste interim, Bruce La Bruce coloca cenas de sexo explícito em pauta. Aliás, este sexo explícito de Otto pode parecer vulgar, grotesco ou qualquer outro termo do gênero. Ainda mais se levar em conta cenas como o “sexo oral” com tripas e outros órgãos do corpo humano. Porém, parece muito mais uma alusão à entrega dos homens numa relação homossexual do que uma simples transa de filme de terror.

Por sinal, toda a história do filme parece ser uma alusão ao modo de vida homossexual, especialmente da época que o vírus HIV foi descoberto e chamado de “doença gay”. Toda a reclusão, exclusão e perseguição destes zumbis parece uma metáfora do que aconteceu entre o final dos anos 1980 e início dos 1990, quando não havia esclarecimento suficientes sobre a AIDS e o preconceito acerca de quem tinha a doença era explícito.

Porém, se a metalinguagem acerta por um lado, por outro pode parecer simplesmente gratuita. Talvez o filme seja de um público muito específico e não só pela temática zumbi, mas queer mesmo. As cenas de orgias regadas a sangue e dilaceração do corpo podem soar avessas demais, ainda que seja compreensível o porquê de serem utilizadas. No fim das contas, Otto tem uma boa história, bons personagens e uma temática relevante sob o verniz de filme de terror, mas as idéias se perdem pelo exagero. O desajuste social e a tristeza de seus personagens acaba relegada e focada no tom polêmico da obra, o que pode não gerar uma boa discussão sobre o tema, e sim a rejeição automática.

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