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Sinopse

Ao acordar, uma mulher percebe-se presa numa cápsula de criogenia. Sem memória, ela tem cerca de 90 minutos para escapar, mas está ficando sem oxigênio.

Crítica

Em Oxigênio, Liz (Mélanie Laurent) acorda num lugar estranho, num esquife que adiante será compreendido como uma câmara de criogenia – dispositivo que preserva tecidos e órgãos, utilizado pela ficção científica para fazer menção a viagens interplanetárias de colonização. De pronto, há duas questões a serem resolvidas. A primeira diz respeito ao espaço, precisamente ao funcionamento em degeneração de sistemas complexos numa área absolutamente reduzida. A personagem passa o tempo inteiro deitada, tendo pouca margem para manobras físicas. O local é exíguo e isso deveria ampliar a aflição. A segunda é a ignorância. Ela não entende o que está acontecendo e além disso permanece em estado quase inteiramente amnésico. Desorientada e sem informações, Liz tem de lidar ainda com a extinção gradual do oxigênio em virtude de um problema técnico. O cineasta Alexandre Aja apresenta de modo protocolar a soma desses percalços, sempre que possível recorrendo a métodos meramente expositivos e, assim, prejudicando a espessura e o impacto da construção atmosférica.

No que tange à área diminuta na qual Oxigênio se passa, o realizador desperdiça a sensação de claustrofobia, sobretudo pela concentração no emaranhado que precisa ser desatado para Liz ter alguma chance de sobrevivência. Embora trabalhe de modo funcional a partir da decupagem que engendra bem a transição entre os planos encarregados de tentar conferir dinamismo visual, Aja não ressalta essa tensão intrínseca à limitação do recinto. Em poucos momentos se vê a protagonista passando algum perrengue especificamente motivado pela dificuldade de movimentar-se ou ela se enervando por não conseguir mexer-se a contento para tentar resolver a situação. O filme é muito mais orientado pelo desejo de informações dessa mulher identificada pelo computador central por um código genérico. Ela tenta se comunicar com o mundo externo, mas certos atalhos (como a forma correta de perguntar as coisas ao interlocutor inorgânico, ao ponto de ter respostas) nem são atribuídos a um residual de lembrança dessa cientista renomada que, sem saber, é acostumada a esse mundo.

Outro desperdício é a confiabilidade dos dados obtidos por Liz, seja oriundos das memórias que surgem como flashes esclarecedores, das pessoas que atendem suas ligações repletas de interferências ou da máquina responsável por ser, ao mesmo tempo, o guardião e o elo com o exterior. Alexandre Aja chega a colocar em dúvida, por exemplo, a noção de tempo, promovendo pequenos saltos no nível de oxigênio decrescente que também serve confortavelmente de relógio. Uma vez que a porcentagem ocasionalmente cai de modo estranho, podemos duvidar dessa progressão, mas isso é rapidamente soterrado pela conspiração desvelada a partir do acúmulo de indícios consecutivos. MILO (voz de Mathieu Amalric) basicamente funciona como um simples explicador, facilitando tanto a situação da personagem de Mélanie Laurent quanto a do espectador. Adiante, outra pessoa desempenha um papel semelhante, explanando o que até certo ponto se desenha enquanto mistério. Por dar atenção demasiada aos porquês, o cineasta vai minando a intensidade do clima e dos gestos.

Uma vez desvendada a natureza da operação, bem como a localização da cápsula (o que impõe outra dificuldade), Aja dá de ombros diante de possíveis estratagemas de MILO para ludibriar a mulher e evitar a consciência, inclusive, de quem ela verdadeiramente é. O foco passa a ser uma história de amor com pouca personalidade própria, prioritariamente encarada pelo roteiro como motivo forte o suficiente para a protagonista lutar ardorosamente pela sobrevivência. Se manter viva não é incentivo suficiente? O andamento de Oxigênio é menos angustiante do que poderia, haja vista a importância dos elementos anteriormente mencionados, ou seja, a precariedade de informações e as limitações impostas pelo espaço (e também por onde ele está situado). A contagem regressiva perde efetividade diante da autoimposta necessidade de tornar o contexto essencialmente cristalino, o que afaga os apegados aos fundamentos daquela intriga toda, mas desprestigia os atentos às nuances e intensidades. Nem o evocado dilema ético/filosófico ganha substância.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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