Crítica
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Sinopse
Crítica
Embora Double Indemnity – Dupla Indenização, em tradução literal – faça muito mais sentido, o título nacional Pacto de Sangue (1944) acaba sendo mais sugestivo do que a principio se poderia suspeitar. Um dos precursores do gênero noir, este filme se vale de um alto contraste entre escuridão e luz, via ambientes pouco iluminados e luzes geralmente laterais que fluem para o cenário através de janelas, frestas e persianas, para lançar sombras angulosas e sugestivas sobre os personagens. Isso sem mencionar a construção psicológica dos mesmos. Na trama se veem as fundações de todo um estilo cinematográfico, inclusive seus conhecidos arquétipos.
Walter Neff (Fred MacMurray) é um vendedor de seguros que se une à Phyllis (Barbara Stanwyck), esposa de um ricaço. Os dois são amantes e planejam matar para receber posteriormente a quantia da seguradora, cuja apólice é assegurada pelo próprio Neff. Vemos o homem de meia-idade, solitário e melancólico, em meio a uma investigação que o atormenta – numa inversão de papeis, pois ele é o investigado –, e envolvido com uma “dama fatal”, atraente e perigosa, enquanto tenta proteger e guiar outra moça mais jovem e ingênua. Deveria ele, claro, ter dado ouvidos ao seu sábio mentor, personagem que também existe no roteiro de Billy Wilder.
Investindo no uso da narração em off, recurso justificado que amplifica o cinismo de Neff, não vazio e preguiçoso, como vemos muitas vezes, Wilder consegue estabelecer de maneira eficiente a atmosfera sombria que permeia seu projeto. É bom destacar, também, o trabalho de fotografia de John Seitz, colaborador com quem ele já trabalhara notavelmente em Cinco Covas no Egito (1943) e que continuaria a ser seu fotógrafo em alguns projetos posteriores. A frequente repetição de posicionamentos de câmera e a reincidência de certas angulações são dispositivos que ressaltam as mudanças ocorridas entre uma e outra situação, como visto naquela em que determinado personagem utiliza o telefone público de um mercadinho.
É admirável como os roteiros de Wilder se mantém magnéticos, mesmo verborrágicos. Os desfechos nunca são óbvios, muito porque certas coisas ficam a cargo da imaginação do espectador. Pacto de Sangue poderia facilmente ter sido dirigido por Alfred Hitchcock, uma vez que possui características caras ao cinema do britânico, ele próprio um admirador assumido da filmografia de Wilder.
O protagonista MacMurray é um convincente personagem atormentado pelas próprias decisões, ainda que o próprio arco lhe traia, o que torna muito menos interessantes suas interações com Keyes - a quem dirige suas confissões em voice over - depois da primeira metade em diante. Entre os coadjuvantes, Barton Keyes, interpretado por Edward G. Robinson, é sem dúvida o mais cativante, um mal humorado de bom coração. A câmera parece confiar em Robinson, já que em várias vezes resolve acompanhá-lo por um bom tempo antes de se dirigir a outra pessoa. Em muitíssima menor escala, é curioso atentar para a figura do diretor da tal seguradora, Norton, cujo intérprete, Richard Gaines, possui voz, dicção e entonações assustadoramente parecidas com a de Daniel Day-Lewis. Isso treze anos antes deste ter nascido. No quarto de seus filmes, Billy Wilder já demonstrava não só segurança e conhecimento sobre a linguagem cinematográfica, mas também tino para contar boas e interessantes histórias, além de inclinação para fechar as cortinas no momento certo, após a fala mais adequada.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Yuri Correa | 8 |
Daniel Oliveira | 9 |
Alysson Oliveira | 10 |
Francisco Carbone | 10 |
Wallace Andrioli | 10 |
Chico Fireman | 10 |
MÉDIA | 9.5 |
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