Pagliacci
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Chico Gomes, Júlio Hey, Pedro Moscaloff, Luiza Villaça, Luiz Villaça
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Pagliacci
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2018
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
O que é ser palhaço. Questões filosóficas e simbólicas desde sempre discorreram sobre a necessidade do homem de rir de si mesmo. Em uma mescla sensorial e emocionante, aqui está um convite para o espectador partir numa jornada e descobrir o que há de mais humano e verdadeiro no mundo: o riso.
Crítica
O documentário Pagliacci prima pelo afeto, utilizando a figura universal do palhaço para discorrer sobre laços solidificados pela arte de fazer rir, muitas vezes, com fundo trágico. É uma obra dirigida por dez mãos, o que explica, mesmo não justificando, a dispersão e, substancialmente, a abordagem compartimentada dos diversos temas que se sucedem ao invés de justaporem-se. Há, de fato, um encadeamento trôpego. Chico Gomes, Julio Hey, Luiza Villaça, Pedro Moscalcoff e Luiz Villaça começam a narrativa em chave poética, apresentando as deambulações de um artista (Fernando Paz) que filosofa nas ruas de São Paulo, instaurando literalmente um prólogo, desenhando rapidamente o modus operandi clownesco de percepção de uma realidade bem mais suportável se filtrada pelo humor. Logo depois dessa abertura bonita, Fernando Sampaio se torna presença constantemente centralizada, como se nosso mestre de cerimônias nessa viagem de contemplação, com ocasionais ímpetos históricos.
Há uma ausência frequentemente sublinhada em meio aos ensaios da peça homônima do filme, o foco principal da primeira meia hora. Antigo parceiro de Fernando nos palcos, o falecido Domingos Montagner, chamado pelo apelido carinhoso, Duma, é citado para permitir a constituição do segundo veio de interesse abertamente explorado. Então, Pagliacci, de sobressalto, passa dos bastidores do espetáculo à amizade e colaboração artística interrompida pela morte de um deles. Domingos corporificava o Branco, no universo dos palhaços, o elegante, o bonito, o dono de um quê aristocrático; Fernando encarnava o Augusto, seu complemento por contraste, o absurdo, o extravagante, o facilmente identificado com a esfera infantil. É particularmente belo e eficiente, cinematograficamente falando, o fragmento em que os realizadores exploram essa dualidade, melhor dizendo, a sincronicidade que tornava Duma e Fer partes quase indistintas do conjunto nutrido pelo prazer do fazer artístico.
A despeito de sua curta duração, cerca de uma hora e dez minutos, Pagliacci apresenta um terceiro viés, o da situação atual dos circos. Utilizando Fernando como âncora, exatamente na tentativa de, através dele, constituir uma unidade, então perseguida de maneira claudicante, Chico Gomes, Julio Hey, Luiza Villaça, Pedro Moscalcoff e Luiz Villaça se valem do depoimento de um produtor circense, cuja importância para o resultado está na forma ora pragmática, ora romântica com a qual define seu ofício. A sensação sobressalente, embora os núcleos possuam brilho próprio, é que falta alinhavar mais sensivelmente os retalhos tão carinhosos quanto saudosos. Por vezes, o documentário é um retrato informativo da função dos palhaços, inclusive com dados da concepção consagrada desse tipo; noutros, soa como uma ode à relevância dos homens e das mulheres de nariz vermelho que provocam uma série de emoções através de um riso não raro adornado pelo drama. O resultado é assimétrico e inconstante.
Pagliacci é fruto de um roteiro que não consegue encaixar naturalmente suas peças, exatamente pela maneira como as estrutura individualmente. Cada fragmento possui um peso trabalhado sobremaneira em prol de si, do que decorrem os solavancos ocasionados entre um segmento e outro, algo que dificulta a solidificação do conjunto. Ainda assim, é absolutamente fascinante acompanhar a construção dos números, testemunhar a reverência do protagonista a Roger Avanzi, o já idoso intérprete do mítico Palhaço Picolino, e constatar o entrosamento que Fernando e Domingos tinham em cena. Uma pena, realmente, que os diretores não tenham, ao menos, criado uma linha central na qual aferrar os demais apontamentos, fazendo deles concorrentes abertos pelas luzes da ribalta. Falta foco, mas sobra vontade de expressar o quão imprescindível é o sujeito palhaço, esse personagem que, segundo um dos entrevistados, paradoxalmente demonstra dignidade quando a perde, sendo-nos, portanto, exemplar nos dias de hoje.
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