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Crítica


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3 votos 9.4

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Sinopse

O drama de duas famílias japonesas de classes sociais e cotidianos bastante distintos é engatilhado pela descoberta de que seus filhos foram trocados na maternidade.

Crítica

Numa determinada cena de Pais e Filhos, mais recente filme de Hirokazu Koreeda, dois personagens estão numa floresta, ou o que parece ser uma. Oportunamente, um deles explica que aquele é um ambiente especialmente construído para pesquisas, explicando ainda um pouco sobre o ciclo de reprodução de alguns insetos que vivem ali. A sequência, que à primeira vista pode parecer deslocada do resto do longa, na verdade define perfeitamente sua natureza: a de experimento social. Segundo um filão que o diretor gosta de explorar, o filme usa de ferramentas comuns ao naturalismo literário para falar sobre família, amor, relações humanas e a sociedade japonesa, exótica para nós, ocidentais.

Pais e Filhos conta a história de Ryota e Midori Nonomiya (Masaharu Fukuyama e Machiko Ono), um bem sucedido casal de Tóquio. Ryota é um arquiteto workaholic e repleto da competitividade e perfeccionismo comuns na sociedade japonesa. Para ele, qualquer fracasso é uma desonra e a perseguição do sucesso é a única razão para a existência. Sua mulher é o que se espera de uma tradicional esposa japonesa: submissa às vontades do marido e pronta a servi-lo, sem deixar de ser feliz por isso. Keita (Keita Nonomiya, apaixonante) é seu filho, que tem por volta de 5 anos. Já nesta idade, o garoto é pressionado pelos pais para estudar numa escola de alta performance (com exame vestibular e tudo) e estudar piano, entre outras atividades. Tudo corre normalmente até que um hospital entra em contato e vem a notícia absurda: Keita é filho de um outro casal, desconhecido, e foi trocado por seu filho biológico no hospital.

O roteiro vai se aproveitar – e muito bem – do fato de que o casal pertence a outra camada social: não exatamente pobre, já que no Japão as desigualdades sociais são menos acentuadas do que no Brasil, mas de um contexto muito mais simples e vulgar. Os Saiki (Yôko Maki, esplêndido, e Rirî Furankî) são donos de uma loja de ferragens e lâmpadas. A família tem outros filhos e questões como a competitividade por sucesso parecem passar longe de seu dia a dia. No entanto, o culto aos ancestrais, típico à religião shinto (curiosamente baseada na família) e o convívio constante entre pais e filhos estão lá, presentes o tempo todo e criando uma relação afetuosa, constante, bem aos moldes latinos que conhecemos.

A forma como o filme compara as duas famílias o tempo todo, inclusive, é o mote para uma cena na qual o grupo tira uma foto, que ilustra o cartaz brasileiro do longa. É da tensão comparativa entre as duas que nascem todos os conflitos narrativos, dos mais sutis aos mais densos. E a direção os explora sem exagero ou emotividade, com um interessante olhar quase antropológico, refletido pela fotografia dessaturada, quase documental, e pela decupagem naturalista, que privilegia a narrativa. Essas escolhas também reforçam o caráter "experimental" do roteiro e das situações, fazendo com que o tom melodramático (todo mundo já viu alguma novela com história parecida) que uma trama desse tipo facilmente teria não tome conta do filme.

Mas a sensibilidade está presente e será explorada em coisas simples como uma câmera fotográfica, uma estrada com caminhos que se encontram, um robô de brinquedo ou uma piscina de bolinhas. É nas entrelinhas do cotidiano que um jogo de Wii se torna o melhor exemplo de convívio familiar para uma criança. E que uma apresentação de piano na escola, motivo de orgulho para tantos garotos e garotas, pode se tornar um tormento, mesmo com a presença dos pais. Como acontece nas relações humanas, é nas coisas pequeninas que Pais e Filhos se torna grandioso.

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é jornalista, mestre em Estética, Redes e Tecnocultura e otaku de cinema. Deu um jeito de levar o audiovisual para a Comunicação Interna, sua ocupação principal, e se diverte enquanto apresenta a linguagem das telonas para o mundo corporativo. Adora tudo quanto é tipo de filme, mas nem todo tipo de diretor.
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