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Sinopse

Após a separação de David e Tessa, ele fica com a casa e a guarda da filha de ambos. Furiosa, ela bola um plano para sabotar o novo relacionamento de David e retomar seu lugar na família anteriormente desfeita.

Crítica

Você já viu esse filme antes. Talvez não lembre de todos os detalhes, e isso com razão, afinal, de tão genérico que era, é difícil mesmo guardar algo na memória além do básico: mulher é trocada por outra e, ao invés de recomeçar sua vida e seguir em diante, decide se vingar não do ex-marido, mas daquela que está, atualmente, ‘no seu lugar’ – ou ao menos assim ela acredita. Só que todas as vezes que cruzamos antes com essa trama ela era propositalmente irrelevante, não mais do que um passatempo passageiro para preencher horário numa matinê ou pela madrugada em um dos tantos canais de televisão pouco preocupados com a qualidade do que exibe. Muito diferente deste Paixão Obsessiva, que até tenta se vender como acima da média, mas nada mais é do que uma produção B, porém com nomes razoavelmente conhecidos e um pouco mais de dinheiro no orçamento.

A despeito de suas duas protagonistas – uma exagerada Katherine Heigl e uma equivocada Rosario Dawson – o principal nome de Paixão Obsessiva é o da diretora Denise Di Novi, aqui estreando na função. Triste – e até mesmo constrangedor – perceber que a produtora de filmes tão emblemáticos como Edward Mãos de Tesoura (1990) e Adoráveis Mulheres (1994) tenha escolhido um texto tão repleto de clichês para esse seu primeiro passo como realizadora. Tudo bem que ela tem também na sua filmografia quatro adaptações de romances de Nicholas Sparks e até o malfadado Mulher-Gato (2004) – sim, aquele mesmo com Halle Berry – mas nada indicava um fundo do poço tão grotesco quanto esse que agora presenciamos.

Em Paixão Obsessiva, portanto, temos um filme dirigido e escrito (por Christina Hodson, a mesma do horrendo Refém do Medo, 2016) por mulheres, estrelado por duas atrizes até então em ascensão, que passam o tempo todo uma tentando sabotar a outra – ou, literalmente, se empenhando para acabar com a vida da intrometida – para, enfim, conquistar o prêmio que, como não poderia ser diferente em casos como esse, não é nada nem ninguém mais do que o ‘marido perfeito’. Como se percebe, temos, portanto, um conjunto que dificilmente passaria no Teste de Bechdel. Mulheres, afinal, precisam ser cada vez mais ser ouvidas, respeitadas e terem seus espaços garantidos, mas para se valerem pelo que são e representam, e não pelos homens que as rodeiam – profissional, amorosa ou afetivamente. Este até parece ser um filme feminino, mas o único viés válido aqui é o masculino. Infelizmente.

Tessa (Heigl, com o rosto inchado de tanto botox) traiu por estar entediada com o próprio casamento, e hoje sofre com a separação. David (Geoff Stults, de J. Edgar, 2011) seguiu em frente, e agora trouxe a namorada, Julia (Dawson, uma personalidade forte que dificilmente convence no papel de vítima), para morar com ele. O relacionamento dos três – forçado pela existência de uma filha da união anterior – parece cordial, mas somente até a esquina: assim que Tessa começa a perder o controle, será em Julia que irá descontar. Ainda mais quando descobrir que essa teve um namorado violento no passado e que este está prestes a ser solto. Não tardará para atraí-lo em nome da outra, forçando um encontro que tem tudo para resultar em um desfecho trágico. E enquanto aquela que foi abandonada posa de coitada, a recém-chegada terá que provar que não só sua sanidade, mas também que está sendo envolvida em um plano diabólico da ex do atual companheiro.

Bom, de nada vale se aprofundar na sinopse. Paixão Obsessiva até pode se chamar Inesquecível (Unforgettable, no título original), mas o que vemos é bem o contrário. A insanidade da personagem de Katherine Heigl é muito mal construída, e a performance monocórdica da atriz em nada colabora na tentativa de salvar um roteiro desprovido de bons diálogos ou reviravoltas minimamente convincentes. Stults é tão canastrão quanto, e a presença de Cheryl Ladd – que ficou famosa por substituir Farrah Fawcett no seriado As Panteras (1977-1981) – como a mãe opressora da vilã só aumenta o caráter kitsch de todo o projeto. Com apenas um único intérprete de verdade no elenco – Rosario Dawson até tenta, mas nem ela é tão boa a ponto de conseguir salvar um desastre anunciado como esse – e uma diretora sem norte na condução, o resultado até poderia ser agradável, enquanto diversão, se fosse propositalmente ruim. Mas a incompetência generalizada é tamanha que, veja só, nem isso consegue.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Grade crítica

CríticoNota
Robledo Milani
2
Francisco Carbone
1
MÉDIA
1.5

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